13. Qual a diferença de pai de santo, sacerdote e zelador de santo?

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Pai de Santo procede do termo afro Babalorixá. Baba significa Pai, e os orixás foram sincretizados com os santos, daí o termo, Pai de Santo. No entanto, como bem dizemos, o termo provém do africano e, portanto, é adequado para os cultos de origem africana como o Candomblé, Zelador de Santo é apenas outro entendimento sobre a tradição do termo Babalaô. Santo tem pai? O Papel do pai de santo de fato é Zelar pelas estruturas físicas de um terreiro e os assentamentos dos Orixás, que merecem cuidados específicos e especiais, motivo pelo qual algumas tradições preferem usar o nome Zelador de Santo.

A Umbanda surgiu dentro de um centro espírita, é uma religião brasileira, pautada na igualdade entre os fiéis. O objetivo da Umbanda era ser um espaço onde ninguém fosse julgado puramente pelo que era, incluindo tanto os encarnados que procurariam atendimento quanto os espíritos benevolentes que se dispusessem a ajudar. Dentro deste cenário, a figura do Pai de Santo, nos mesmos moldes presentes no Candomblé, soa um pouco deslocada. Nossos Pais Espirituais são os Orixás, tronos de Deus e as entidades, espíritos de luz treinados na lei de Umbanda, são guias muito mais adequados que uma pessoa encarnada, por melhor que esta seja. Iniciações não conferem a ninguém uma aura de divindade, que deva ser saudada e respeitada como alguém superior dentro do culto. Um calhamaço de guias no pescoço não vai tornar alguém sacro, santo ou superior a quem quer que seja.

Ressalte-se que no Candomblé, o babalaô ou Yalorixá são pessoas preparadas por anos para levar adiante um trabalho, em uma estrutura parecida com a dos pajés indígenas, são guias naturais de uma comunidade de santo, que aprendem por anos, as vezes desde que nascem, todos os cuidados para zelar antigas estruturas de assentamentos. Quando se passa essa pompa para a Umbanda, sem o necessário arcabouço histórico, passamos a ter muitas vezes um apanhado de hipocrisia e desvios. Pais de Santo sem terreiro, outros sem instrução. Apenas recebem várias iniciações, penduram suas guias no pescoço e vão indo de gira em gira por aí para serem saudados como “Coroas Grandes”.

Mas na Umbanda então não existe Sacerdócio? Sim, existe o que se chama de Sacerdote de Umbanda, termo que anda se popularizando bastante. O Sacerdote, por definição é aquele que abraça uma missão espiritual dentro da religião. Em muitos terreiros é considerado Sacerdote o dirigente e em outros os médiuns que completam seu ciclo de iniciações e se dedicam à prática da mediunidade para a manifestação dos espíritos para a caridade. O sacerdote pode ser chamado apenas sacerdote, ou pajé, ou mestre, ou pai de santo, ou babalaô, o nome em si não importa, nomes e titulos não fazem um sacerdote, apenas seu trabalho duro possui essa função.

Existem dois tipos de sacerdócio, horizontal e vertical. Horizontal costuma ser muito visto, mais comum, é a transmissão do sacerdócio por alguém que já é sacerdote. Bastante comum no Candomblé e tradições de maior influência afro. Já o vertical é o sacerdócio que nasce a partir da interferência do mundo espiritual, quando as entidades comunicam ao médium que ele tem um trabalho a realizar e deve fundar uma corrente mediúnica ou abrir um terreiro. Na Umbanda temos os dois tipos de sacerdócio presentes, há tantas pessoas que entram para um terreiro ou tenda e são preparados lentamente para o trabalho até assumirem funções sacerdotais, como pessoas que mesmo sem preparo e às vezes sem sequer conhecerem outros locais, passam a incorporar espontaneamente e trabalhar mediunicamente sob orientação das suas entidades.

Contudo, o povo de santo, aqueles que cultuam as tradições afros e indígenas, além das práticas de bruxaria e paganismo em geral precisam antes de tudo se unir. Na nossa tradição não trabalhamos com a figura do pai de santo, nossas iniciações são tomadas como etapas de um caminho individual de cada um, não servindo como medida de hierarquia espiritual na corrente. Entretanto, sabemos que a beleza do mundo está na diversidade, ninguém é obrigado a ser como o outro. Cada um deve viver da forma que se sinta mais completo material e espiritualmente.

Ressaltamos por fim o nosso respeito a todas as tradições que usam o termo, a intenção não é criar polêmica, é esclarecer. Por motivos culturais difíceis de serem mudados, muitos maravilhosos sacerdotes de Umbanda utilizam o termo pai de santo e não há nada de errado nisso, desde que vejam os outros como irmãos, iguais em tudo nesta caminhada terrena.

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