- Mãe, a Siena não pára! Ela vai rasgar o meu livro! – Meu irmão choramingava e eu colocava minha língua de fora em desafio.
- Leonardo, tem paciência, ela é só uma criança. Tu és o mais velho, tenta compreender...
- Mas mãe, eu estou a tentar ler o meu livro de genética, e ela só está a atrapalhar! Eu preciso de concentração... - Ele olhou para mim com cara de zangado e eu me encolhi no banco agarrada às minhas pernas.
- Eu estou cansada! – Digo. – Falta muito para chegarmos?
Seu cabelo loiro e curto estava penteado para o lado, como sempre. Ele suspirou derrotado. Aproximou – se de mim, olhando-me com seus grandes olhos castanhos e falou-me baixinho:
-Tu ficas quietinha agora e eu levo-te no lago sem a mãe saber, mais tarde.
Eu o encarei e abri um sorriso. Fiz que sim, e fiquei a olhar pelo vidro do carro os prédios e edifícios darem lugar a grandes arvoredos. O ar tinha um cheiro diferente ao da cidade mas eu nunca me cansava deste lugar. Vínhamos para aqui todos os anos desde que nasci, ou seja há treze anos já. Cansada da viagem comecei a ficar um pouco irrequieta e Leonardo me emprestou seu Mp3 para me manter ocupada. Meu pai parou o carro em frente a uma clareira onde tinha três cabanas, como de costume.
– Meninos, chegámos!
- Pai, desta vez vens para o lago comigo? – Perguntei inocentemente.
- Eu não posso minha filha. – Ele abana a cabeça. – Tenho umas coisas a tratar com Max. Mas terás Ricardo para ir contigo.
Vejo minha mãe balançar a cabeça com ar reprovador em direção a meu pai antes de sair do carro sem uma palavra.
- Ricardo também veio? – Empolguei-me. Eu só o via nestas alturas que vínhamos para a campina. – Boa, então eu posso ir com ele para o lago?
- Só com a tua mãe. Nada de ir para o lago sem ela! – Ele alertou sério. Eu concordei mesmo que contra vontade.
Era sempre a mesma coisa! Leonardo podia fazer tudo e mais alguma coisa sem ter nossa mãe como sombra. Eu, por outro lado, não me livrava da sua boa companhia. Não me interpretem mal. Eu adoro minha mãe. Mas com catorze anos eu queria poder ser como uma adolescente normal e soltar as rédeas. Como eu poderia fazer minhas brincadeirinhas com Ricardo com minha mãe a observar-me e lançar-me um olhar de reprovação como ela acabou de fazer com meu pai? Adeus planos de fazer um forte na árvore. Adeus partidas inofensivas aos fãs de caminhadas ao ar livre que ocasionalmente passavam ali. Au revoir investigações ultra secretas ao bosque. Tanto eu como Ricardo achávamos que tinha algo de sobrenatural por entre as densas folhagens... Obvio que nunca discutimos isso com qualquer adulto. Era só fruto da nossa fértil imaginação de aspirantes a Indiana Jones. Enfim, todos os planos que vínhamos a traçar durante o ano inteiro por conversas no chat e mensagens seriam mais uma vez cancelados. Mas Siena Sancler não é uma desistente. Tampouco Ricardo o é. Iriamos dar um jeito. Talvez meu irmão colaborasse e me desse uma ajuda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
"Ascendência Dos Olhos Negros" Indomáveis 1
Ciencia Ficción"1% de toda a população mundial tem olhos negros, isso acontecesse devido a uma condição genética " Siena se vê entre esse raro 1% e descobre que suas diferenças, as coisas que as fazem única, vão muito além dos olhos negros. Ser forte n...