Nos dias seguintes, tive ordens para continuar na cama sem qualquer diversão. A única visita que estava autorizada era a de meu pai que de tempos a tempos vinha ver a minha temperatura e fazer alguns exames de precaução. Pela expressão no rosto do meu pai, não consigo perceber se a ausência de sintomas era algo bom ou mau.
Vejo apenas pela janela do meu quarto Ricardo a nadar no lago com minha mãe, ao invés de participar. Nunca conhecera a mãe dele. Seus pais eram divorciados e viviam em cidades diferentes, daí eu apenas estar com ele em épocas de férias, quando ele passava um tempo com o pai.
Eu queria muito juntar-me a eles no lago mas meu pai não me deixou. Disse que eu devia manter – me quietinha no meu quarto o que era uma tarefa difícil para mim. Sem opções, peguei da estante um livro ao lado da minha cama, todo poeirento. Sua capa era cor de vinho sem qualquer título ou ilustração. Sem nada para fazer comecei a ler mas logo me arrependi. Não por o livro não ser bom, porque ele era, mesmo para uma garota de catorze anos como eu mas logo se via que não era um conto de fadas com final feliz. Muito pelo contrário. Era uma sucessão de tragédias e desentendimentos que se aglomeravam num iminente futuro sombrio. O livro não era grande pelo que o li em dois dias. Nunca havia gostado de ler mas este livro foi a exceção e me fez perceber o que eu estava a perder. O livro me mostrou como as pessoas pensam que nossa vida parece perfeita quando na verdade estamos a desmoronar por dentro e ninguém percebe até que seja tarde demais. Eu terminei o livro com lágrimas a rolar pelo meu rosto. O pousei ao meu lado e me deixei levar pelo sono.
~
Acordei com uma discussão no quarto ao lado. Percebo a ansiedade crescente no ambiente. A minha mãe estava chorosa, eu podia entender.
- Eu avisei-te que isto iria acontecer! – Ela bradou do outro lado da parede.
- Leva as crianças daqui, agora. Depois conversamos. – A voz do meu pai soou impaciente.
Não demorou mais que uns segundos para ouvir passos apressados dirigidos ao meu quarto.
- Siena! Acorda! – Meu irmão sussurrava, mas um sussurrar assustado. Parecia em pânico. Mas eu não conseguia mexer-me. Olhei pela janela. Ainda estava escuro.
Leonardo praguejou algo nervoso e me arrancou da cama, me colocando sobre os seus ombros. Ele me mandou ficar quieta e calada antes mesmo que pudesse de facto dizer alguma coisa. Eu obedeci e no momento que íamos sair do quarto vejo pela janela luzes de um carro em aproximação. Parecia um veículo massivo e escuro mas não podia dizer com certeza. Senti as costas de meu irmão ficarem tensas e ele desatou a correr. Queria perguntar o que se passava mas ele me tinha falado para estar quieta então pelo menos uma vez na vida, fiz o que me mandaram. Ele me levou pelas traseiras onde estava nosso carro de família e me atirou lá para dentro. Ele também entrou em seguida. Reparei em Ricardo ao meu lado e minha mãe no lugar de condutor com os olhos vermelhos.
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"Ascendência Dos Olhos Negros" Indomáveis 1
Ciencia Ficción"1% de toda a população mundial tem olhos negros, isso acontecesse devido a uma condição genética " Siena se vê entre esse raro 1% e descobre que suas diferenças, as coisas que as fazem única, vão muito além dos olhos negros. Ser forte n...