Capítulo 3

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PEDI A MARTHA QUE ENCONTRASSE uma faixa de cabelo enfeitada com pedras e deixei os fios completamente soltos. Nunca tinha ficado tão empolgada para o café da manhã.

Acreditava estar absolutamente linda e mal podia esperar para ver se Clarkson pensaria o mesmo.

Se tivesse sido esperta, teria chegado um pouco antes. Mas acabei entrando lentamente ao lado de várias outras garotas, o que me fez perder qualquer chance de atrair a atenção do príncipe. De segundos em segundos, eu lançava um olhar para a mesa principal, mas Clarkson estava concentrado em cortar devidamente sua refeição de waffles e presunto, de vez em quando passando os olhos por uns papéis ao seu lado.

O pai praticamente só tomava café; levava a colher à boca apenas nas pausas que fazia durante a leitura de um documento. Considerei que ambos estudavam o mesmo assunto, e que se tinham começado tão cedo é porque teriam um dia bastaste atarefado. Não havia qualquer sinal da rainha. Embora a palavra "ressaca" não tenha sido dita em voz alta, quase dava para ouvi-la no pensamento de todos.

Terminado o café da manhã, Clarkson saiu com o rei para fazer o que quer que fizessem para o país funcionar.

Soltei um suspiro. Talvez à noite.

O Salão das Mulheres estava silencioso. Já tínhamos esgotado todas as conversas do tipo "vamos nos conhecer" e estávamos acostumadas a passar os dias juntas. Sentei ao lado de Madeline e Bianca, como quase sempre fazia. Bianca viera de uma das províncias vizinhas de Hondurágua, e nos conhecemos no avião. O quarto de Madeline era ao lado do meu, e certa vez uma de suas criadas bateu à minha porta para pedir linha. Mais ou menos meia hora depois, Madeline apareceu para agradecer, e desde então ficamos amigas.

Desde o começo, o Salão das Mulheres dividiu-se em grupinhos. Estávamos acostumadas a ser separadas em grupos na vida cotidiana - as Três para um lado, as Cinco para o outro - então parecia natural isso se repetir no palácio. E embora não nos dividíssemos exclusivamente por castas, não podia deixar de desejar que não houvesse divisão nenhuma. Por acaso não nos tornáramos iguais ao chegar ali, pelo menos durante a competição? Não estávamos passando pela mesmíssima coisa?

Se bem que, naquele momento, parecia que estávamos passando por um monte de nada. Bem que eu queria que acontecesse alguma coisa para que tivéssemos assunto.

- Receberam notícias de casa? - perguntei, na tentativa de começar uma conversa.

- Minha mãe escreveu ontem - respondeu Bianca, levantando a cabeça. - Disse que Hendly já está noiva. Você acredita? Ela saiu faz o quê? Uma semana?

Madeline entrou na conversa:

- Qual a casta dele? Ela vai subir?

- Ah, com certeza! - empolgou-se Bianca. - Dois! Tipo, isso dá esperança. Eu era Três antes de vir para cá, mas a ideia de casar com um ator e não com um médico velho e chato parece divertida.

Madeline riu e concordou com a cabeça. Já eu não estava tão certa:

- Ela o conhecia antes? Antes de vir para a Seleção, quero dizer?

Bianca inclinou a cabeça para o lado, como se a minha pergunta fosse ridícula.

- Bem difícil. Ela era Cinco; ele, Dois.

- Bom, ela contou que vinha de uma família de músicos. Talvez tenham tocado para ele alguma vez - conjecturou Madeline.

- É uma boa possibilidade - acrescentou Bianca. - Então talvez não fossem completos estranhos.

- Hum... - murmurei.

- Dor de cotovelo? - perguntou Bianca.

Achei graça.

A Rainha - Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora