Capítulo 11

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- Tenho um segredo para te contar.

Acordei com Clarkson sussurrando ao meu ouvido. Era como se meu corpo já soubesse reagir a ele, então não me assustei. Em vez disso, sua voz produziu em mim uma agitação suave, a melhor forma de acordar do mundo.

- Tem? - perguntei enquanto esfregava os olhos para ver seu sorriso travesso.

Ele assentiu.

- Será que devo revelar?

Respondi com risinhos, e ele inclinou a cabeça novamente até meu ouvido:

- Você será a próxima rainha de Illéa.

Me afastei querendo ver seu rosto, à procura de qualquer indício de que era uma piada. Mas, de verdade, jamais o vira tão calmo.

- Quer que eu conte como sei?

Clarkson parecia contente consigo mesmo por ter me deixado tão surpresa.

- Por favor - balbuciei, ainda sem acreditar nas palavras dele.

- Espero que você me perdoe pelos meus pequenos testes, mas há muito sabia o que procurava. - Ele mudou de posição na cama, e eu sentei para que ficássemos frente a frente. - Eu gostava do seu cabelo.

Levei a mão à cabeça por instinto.

- O que quer dizer?

- Não havia nada de errado com ele quando estava comprido. Pedi a várias garotas para cortarem o cabelo, e você foi a única a me dar mais que um dedo.

Arregalei os olhos, atônita. O que significava aquilo?

- E então veio a noite do nosso primeiro encontro... Você lembra?

Claro que eu lembrava.

- Apareci tarde, quando sabia que você estaria pronta para a cama. Você perguntou se poderia trocar de roupa, mas não discutiu quando eu disse que não. Veio comigo tal como estava. As outras me empurraram para o corredor e me fizeram esperar enquanto se vestiam. Foram rápidas, devo admitir, mas ainda assim...

Refleti por uns instantes.

- Não entendo - admiti.

Ele tomou minha mão.

- Você viu meus pais. A guerra por besteiras. Para eles, as aparências são questão de vida ou morte. E embora elas sejam importantes para o bem do país, eles deixaram que atrapalhassem qualquer possibilidade de paz entre os dois, muito menos felicidade. Se eu lhe peço algo, você dá. Você não é vaidosa. É segura de si o bastante para me pôr à frente da sua aparência, à frente de tudo. Sei disso por causa da maneira como recebe qualquer pedido que lhe faça. Mas há outras coisas...

Ele respirou fundo e fixou os olhos em nossas mãos, como se ponderando se deveria me contar.

- Você guardou meus segredos, e garanto: se casar comigo, haverá muitos outros para guardar. Você não me julga nem se assusta com qualquer coisa. Você me tranquiliza - antes de continuar, ergueu o olhar até os meus olhos. - Estou desesperado por tranquilidade. Acho que você é a minha única chance de obtê-la.

Abri um sorriso.

- O centro do seu furacão?

Ele soltou o ar, aparentemente aliviado.

- Sim.

- Eu ficaria feliz em ser isso para você, mas há um problema.

Ele coçou a cabeça.

- Sua casta?

Tinha esquecido disso.

- Não. Filhos.

- Ah, isso... - ele disse, quase como se fosse uma piada. - Não ligo para isso de qualquer forma.

- Mas você precisa de um herdeiro.

- Para quê? Para continuar a linhagem? Suponha que conseguíssemos ter um bebê, uma menina. Não haveria chance de ela obter a coroa. Você não acha que existem planos alternativos?

- Eu quero filhos - balbuciei.

Ele deu de ombros.

- Não há garantia de que você não os terá. Pessoalmente, não gosto de crianças. Acho que para isso existem as babás.

- E sua casa é tão imensa que você nunca ouviria um deles gritar.

Clarkson achou graça.

- Verdade. Assim, haja o que houver, isso não é um problema para mim.

Ele estava tão calmo e despreocupado que acreditei, e aquele peso saiu de minhas costas. Meus olhos marejaram, mas não me permiti chorar. Guardaria as lágrimas para depois, quando estivesse sozinha.

- O verdadeiro problema para mim é a sua casta - ele reconheceu. - Bom, não tanto para mim, mas para o meu pai. Precisarei de tempo para descobrir o jeito certo de tratar o assunto. Isso implica que a Seleção deverá continuar por um tempo. Mas aguente firme - ele assegurou, se aproximando - você será minha esposa.

Mordi os lábios, feliz demais para acreditar que aquilo era real.

Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

- Você será a única coisa no mundo realmente minha. E vou colocá-la em um pedestal tão alto que será impossível alguém não te adorar.

Sacudi a cabeça, tonta de alegria.

- Não sei o que dizer.

Ele me beijou rapidamente.

- Treine o seu "sim". Quero você pronta quando chegar a hora.

Nossas cabeças se tocaram e ficamos em silêncio por alguns instantes. Eu não conseguia acreditar que aquilo era real. Ele tinha dito todas as palavras que eu esperava ouvir desde sempre: rainha, esposa, adorar. Os sonhos que eu abrigara no meu coração estavam se tornando realidade.

- Você precisa voltar a dormir. O ataque desta manhã foi um dos piores até hoje. Quero que se recupere totalmente.

- Como quiser - falei.

Ele correu o dedo pela minha bochecha, satisfeito com a minha resposta.

- Boa noite, Amberly.

- Boa noite, Clarkson.

Voltei a me aninhar na cama assim que ele saiu, mas sabia que seria incapaz de retomar o sono. Como poderia, com o coração batendo duas vezes mais rápido e a cabeça repassando todas as possibilidades do nosso futuro?

Levantei devagar e fui até a escrivaninha. Só podia pensar em um jeito de tirar aquilo de dentro de mim.

Querida Adele,

Você pode guardar um segredo?

A Rainha - Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora