Capítulo 9

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- Vermelho - insistia Emon. - Você sempre fica estonteante de vermelho.

- Mas acho que não precisa ser tão básico. Talvez algo mais intenso, como vinho - rebateu Cindly ao pegar outro vestido, bem mais escuro que o anterior.

Suspirei de alegria.

- É esse.

Eu não tinha o fogo que outras garotas tinham, e não era Dois. Mas começava a descobrir que havia outras maneiras de brilhar. Decidira parar de me vestir como princesa e começar a me vestir como rainha.

Não deu muito trabalho perceber que havia uma linha divisória entre as duas coisas.

As Selecionadas recebiam vestidos estampados com flores ou feitos de tecidos leves. Já as roupas da rainha eram sólidas e imponentes. Se minha personalidade não era assim, ao menos meus trajes poderiam ser.

Além disso, passei a me esforçar para me portar de maneira diferente. Se alguém tivesse me perguntado em Hondurágua o que era mais difícil entre trabalhar o dia inteiro sob o sol e tentar manter uma postura decente por nada menos que dez horas, teria respondido a primeira opção. Agora já não estava tão certa.

Eu queria dominar as sutilezas, os detalhes inomináveis que giravam em torno dos Um. Naquela noite, no Jornal, queria parecer a escolha óbvia. Talvez se eu aparentasse ser a melhor escolha, também pudesse me sentir como tal.

Sempre que tinha uma pontinha de dúvida, pensava em Clarkson. Não houve um momento grandioso, definitivo entre nós, mas quando me preocupava por não ser boa o bastante, apegava-me às pequenas coisas. Ele tinha dito que gostava de mim. Ele me pedira para não desistir. Ele podia ter se afastado, mas depois retornou. Era o bastante para me dar esperança. Assim, botei meu vestido vermelho, tomei o remédio para prevenir enxaquecas e me preparei para dar meu melhor.

Ninguém nos avisava se teríamos de responder ou não a uma pergunta ou participar de um debate. Considerei aquilo parte do processo da Seleção: encontrar alguém capaz de pensar rápido. Por isso, fiquei frustrada quando o Jornal terminou sem que tivéssemos chance de falar. Haveria outras oportunidades. Contudo, enquanto todas ao meu redor suspiravam aliviadas, eu estava chateada.

Clarkson se pôs a caminhar, e me animei na hora. Ele vinha na minha direção. Para me convidar para um encontro. Eu sabia! Eu sabia!

Só que ele parou diante de Madeline. Cochichou algo em seu ouvido; ela soltou um risinho e, toda entusiasmada, fez que sim com a cabeça. Ele fez um gesto com a mão, como que dando à garota permissão para ir na frente. Antes de segui-la, porém, inclinou a cabeça até minha bochecha e sussurrou:

- Espere por mim acordada.

E partiu sem olhar para trás. Mas não era preciso.

- Tem certeza de que não quer mais nada, senhorita?

- Não, Martha, obrigada. Ficarei bem.

Diminuí as luzes do quarto, mas permaneci de vestido. Quase pedi para trazerem uma sobremesa, mas tinha certeza de que ele já teria comido.

Eu não sabia por quê, mas senti meu corpo inteiro quente, como se minha pele tentasse dizer que aquela noite seria importante. E eu queria que fosse perfeita.

- A senhorita chamará, não é? Não convém passar a noite sozinha.

Levei as mãos às dela, que não hesitou em me deixar segurá-las.

- Assim que o príncipe sair, mando chamá-la.

Martha assentiu e apertou minhas mãos antes de me deixar só.

Corri até o banheiro, conferi o cabelo, escovei os dentes e ajeitei o vestido.

Precisava me acalmar. Cada centímetro da minha pele estava desperto, à espera dele.

Sentada à mesa, passei a me concentrar nos dedos, palmas e pulsos. Cotovelos, ombros, pescoço. Passei por todas as partes na tentativa de relaxar. Claro, tudo isso se tornou inútil assim que Clarkson bateu na porta.

Ele não esperou resposta. Entrou direto. Levantei para cumprimentá-lo, e minha ideia era fazer uma reverência, mas algo em seus olhos me deixou perplexa. Apenas o observei avançar a passos lentos com um olhar determinado.

Levei a mão à barriga com o intuito de combater o frio lá dentro. Não deu muito certo.

Sem palavras, ele pôs a mão na minha bochecha e afastou meu cabelo, depois correu os dedos para o meu queixo. Antes de se inclinar para a frente, notei uma sugestão de sorriso em seu rosto.

Quando era mais nova, imaginara um primeiro beijo com Clarkson de cem maneiras diferentes. Aparentemente, não sonhara grande o bastante.

Ele conduziu, me puxando para si. Pensei que talvez fosse escorregar ou tropeçar, mas não sei como minhas mãos foram parar em seus cabelos, e os agarrei com a mesma intensidade que ele me segurava. Ele se curvou e me aninhei em seu corpo, feliz e surpresa ao descobrir como nos encaixávamos bem.

Aquilo era a felicidade. O amor. Tantas palavras que a gente ouve falar ou lê a respeito, e agora... agora eu sabia.

Quando ele enfim recuou, o frio na barriga e os calafrios já não existiam. Uma sensação inteiramente nova pulsava na minha pele.

Nossa respiração estava acelerada, mas isso não o impediu de falar:

- Você estava estonteante esta noite. Achei que deveria saber.

Ele correu os dedos pelos meus braços, pelo meu pescoço, até meu cabelo.

- Absolutamente estonteante - completou.

Me beijou mais uma vez e saiu, não sem antes parar diante da porta e lançar um último olhar para mim.

Rodeei a cama algumas vezes antes de deitar. Pensei em chamar Martha e pedir ajuda para tirar o vestido, mas me sentia tão bonita que deixei por isso mesmo.

A Rainha - Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora