Capítulo 7

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Sempre levava um tempo para me adaptar às luzes cegantes do estúdio. E havia também o peso do vestido cravejado de pedras que minhas criadas insistiram para eu usar. As duas coisas somadas tornavam a hora do Jornal Oficial quase insuportável.

O novo repórter entrevistava as garotas. Ainda havia muitas remanescentes, então era fácil passar despercebida. Naquele momento, essa era minha meta. Por outro lado, se eu precisasse responder alguma pergunta, pelo menos ela viria de Gavril Fadaye.

O antigo apresentador, Barton Allory, se aposentou na noite em que as novas candidatas da Seleção foram reveladas, dividindo o momento com seu substituto, escolhido a dedo. Apenas vinte e dois anos, parte de uma respeitável linhagem de Dois e dono de uma personalidade radiante: era fácil gostar de Gavril. Fiquei triste por ver Barton partir... mas nem tanto.

- Senhorita Piper, na sua opinião, qual é o papel principal de uma princesa? - Gavril perguntou.

O brilho intenso de seus dentes fez Madeline cutucar meu braço para chamar minha atenção.

Piper abriu um sorriso vitorioso e respirou fundo uma vez. Então duas vezes. E então o silêncio começou a ficar constrangedor.

Foi então que me dei conta: todas ficaríamos um pouco aterrorizadas com aquela pergunta. Lancei um olhar em direção à rainha, que sairia correndo assim que desligassem as câmeras. Ela observava Piper como se a desafiasse a falar depois daquela ordem para que ficássemos em silêncio.

Conferi o monitor: era doloroso assistir à cara de sofrimento da garota.

- Piper? - Pesha, que sentava ao seu lado, sussurrou.

Por fim, Piper acabou por balançar a cabeça.

Os olhos de Gavril revelavam que ele estava à procura de um jeito de salvar a situação. Barton com certeza saberia o que fazer, mas Gavril era novo demais no cargo.

Levantei a mão, e Gavril ficou grato ao me ver.

- Tivemos uma conversa tão longa sobre isso outro dia que acho que Piper não sabe nem por onde começar - falei entre risos, imitados por outras garotas. - Todas concordamos que nosso primeiro dever é para com o príncipe. Servi-lo é servir Illéa. Pode parecer uma descrição estranha para o cargo, mas fazer nossa parte permite que o príncipe faça a dele.

- Muito bem colocado, senhorita Amberly. - Gavril sorriu para em seguida passar para a próxima pergunta.

Não olhei para a rainha. Em vez disso, tratei de me endireitar no assento à medida que outra enxaqueca começava a despontar. Será que eram provocadas pelo estresse? Mas se fosse assim, então por que às vezes surgiam do nada?

Notei pelos monitores que as câmeras não estavam focadas em mim nem na minha fileira. Então me permiti esfregar um pouco a testa. No fim das contas, pelo menos minhas mãos estavam ficando mais suaves. Queria apoiar a cabeça no braço, mas não era possível. Mesmo que a falta de modos fosse perdoável, o vestido não me permitia dobrar tanto o corpo.

Mantive a postura e foquei em minha respiração. A dor crescia firme e forte, mas me esforcei para permanecer ereta. Já tinha lidado com a doença antes e em situações muito piores. Isso não é nada, disse a mim mesma. Só preciso ficar sentada.

As perguntas pareceram durar para sempre, ainda que Gavril não tivesse falado com todas as garotas. Uma hora as câmeras pararam de rodar, mas lembrei que ainda não era o fim. Antes de voltar para o quarto, ainda precisava ir para o jantar, que durava mais ou menos uma hora.

- Você está bem? - Madeline perguntou.

Fiz que sim com a cabeça.

- Um pouco cansada.

A Rainha - Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora