Na Mira

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Pessoal, segue o capítulo do Domingo! Espero que gostem bastante. Este capítulo é narrado pelo Murillo, nos próximos voltarei com a narrativa da Annie.

Se eu tiver tempo postarei antes do prazo, mas todo Domingo sem falta colocarei um capítulo novo. Tenham um bom Domingo e até o próximo. 


Dedico este capítulo à Michaelly Amorim, autora de Filhos de Abel e uma das minhas primeiras leitoras, até hoje ela continua me cobrando novos capítulos! Rsrsrs. 

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Texto narrado por Murillo


Depois de sair da cabana da Bianca, fiquei aguardando a Annie.

- Annie! – Eu a chamei assim que ela saiu, porém ela me ignorou e olhou para o outro lado, seguindo a passos fortes para a área de treinamentos. Eu não entendi nada, estava indo tudo tão bem entre nós.

Decidi então andar pelo local e ver que tipo de lições eles tinham por ali, quem sabe isso poderia me ajudar no futuro. As instalações eram um tanto simples com várias cabanas de tecido por todos os lados, ficava até difícil entender o que era o quê aqui, apenas a arena parecia ter uma estrutura razoável, eles estavam montando uma nova, pelo que parece sempre estão mudando de local e estavam aqui a pouco tempo.

Depois de andar por todo lado sem achar algo relevante, finalmente vi alguma atividade, alguns recrutas estavam atirando facas em um alvo que estava a uns dez metros de distância, cada recruta tinha um alvo cravado em uma árvore. Era fácil distinguir os recrutas dos soldados pois além de vestirem roupas normais não ficavam me olhando como se fossem me devorar. Vi um alvo que não estavam usando e pensei que também podia fazer aquilo. Aproximei-me e notei que a maioria dos recrutas estava errando os seus alvos. Não parecia uma tarefa difícil, eu já tinha tentado algo parecido quando era mais novo e saía para caçar.

Olhei para os lados. Quem não olha quando vai fazer algo que não deve? Aparentemente não tinha nenhum soldado ou treinador à vista, comecei a atirar as facas. Errei a primeira, a segunda já acertou a alvo e à partir daí acertei todas as cinco restantes bem no centro, notei que todos os outros tinham parado suas atividades e faziam um pequeno grupo atrás de mim.

- Nossa cara! Você é muito bom! – Disse um dos recrutas.

- Você me ensina? – Outra recruta disse, empurrando o primeiro.

Eles pareciam bem jovens, talvez treze ou quinze anos em sua maioria.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, um deles, o que parecia ser um dos mais velhos aproximou-se.

- Ei você! – Eu fingi nem ser comigo.

- Ei você! Você mesmo, escurinho! – Aquilo me deixou muito bravo, mas como eu não queria briga apenas ameacei deixar o local.

Senti um agarrão no meu braço direito.

- Eu falei com você, escur... – Eu não o deixei terminar, girei o braço dele ao contrário, jogando seu braço esquerdo em suas costas e aplicando um tipo de chave de braço, um golpe de artes marciais que aprendi para me virar quando era mais novo. O forcei a deitar e beijar o chão.

- Eu não sou escurinho! Sou negro! Se quer mencionar a tonalidade da minha pele.

- Seu humano desgraçado! – Ele gritou enquanto eu via pêlos crescendo por todo o seu corpo, ele estava transformando-se. Eu o forcei a levantar ainda com seu braço imobilizado e bati seu rosto violentamente contra a árvore mais próxima! Ele caiu desmaiado e pelo que parecia sua transformação tinha sido interrompida. Agora eu tinha outro problema, sobravam mais uns dez deles ao meu redor. Senti um mão tocar a minha e a erguer para o alto.

-Eis o vencedor! – Gritou o recruta que erguia o meu braço, outro gritava "Iiiiiiiiiiit's Tiiiime!!! (É a hora!traduzido para o português!)" referindo-se a um bordão usado em lutas mistas no passado. Logo todos estavam aplaudindo. A confusão acabou chamando a atenção do treinador desse grupo. Ele pulou do alto de uma árvore, caindo com um joelho tocando o chão e um punho socando como se estivesse socando o solo, eu tenho certeza que já vi isso em algum filme. 

- Parabéns garoto! É o primeiro a derrotar o Bruce! Se todos os recrutas fossem iguais a este humano acabaríamos com essa guerra em um instante! – Ele parecia diferente dos soldados que eu tinha visto até então, aparentava ser somente um pouco mais velho do que eu, não era sequer musculoso, mas algo me dizia que ele já possuía experiência em batalhas. – Ele vai receber uma boa punição! É expressamente proibido aos recrutas transformar-se sem permissão, inclusive quando é uma luta contra um oponente que não pode se transformar.

- Muito obrigado! – Agradeci, confuso, mas feliz por não ter levado uma bronca. – Sou o Murillo!

- Claro! Eu já sabia! Qualquer amigo do Diego também é meu amigo! Sou o Sargento Thompson, a seu dispor! Eu estava te observando de longe e fiquei muito feliz por não ter interrompido antes da hora. Venha aqui treinar outras vezes se quiser. Por hora eu preciso levar este rapaz à enfermaria e dispensar o restante deles para o almoço.

Acabei ajudando a colocar o Bruce, um rapaz forte e mais alto do que eu, em uma maca e dirigi-me ao refeitório, uma das maiores tendas do local. Fiquei surpreso ao ver a Annie ajudando sua tia avó a preparar a comida, tinha uma placa na porta indicando que o almoço ainda não estava liberado, mas eu a ignorei e entrei no local. Ouvi alguns murmúrios das pessoas que esperavam o almoço do lado de fora, provavelmente achando que eu furei a fila ou algo do tipo.

- Annie – falei ao me aproximar. – Tudo bem com você?

- Oi! – Ela limitou-se a responder enquanto carregava uma panela cheia de um lado para o outro.

- Ainda não abrimos, meu jovem! – Me disse a tia- avó de Annie.

- Me desculpe! Eu apenas estava preocupado com a Annie! Posso ajudar?

- Claro! Tome aqui, leve esses guardanapos para as mesas e coloque essas sacolas de lixo nos tambores vazios.

Essa tarefa me afastou temporariamente da Annie, mas fiz o mais rápido que podia, depois ainda ajudei a pegar todos os pratos e talheres. Quando retirei a placa da entrada, a fila já era enorme e as primeiras pessoas que entraram quase me atropelaram. Vi a Annie sair pelos fundos, fiz a volta correndo pelo lado de fora e a encarei antes que fugisse novamente.

- O que houve com você? – Eu perguntei segundos antes de levar um tapa na cara.

- O que houve? O que houve? Eu que gostaria de saber Murillo! – Na verdade eu que queria, pois fui o primeiro a perguntar, mas levaria outro tapa se falasse isso. – Você estava se esfregando com a Bianca naquela tenda. Me explica isso!

Calma! – Segurei em suas mãos. – Aquela mulher apavorante estava me perguntando sobre o que aconteceu em Córrego Novo. No final ela colocou suas garras em meu pescoço e me perguntou se eu gostaria de virar um Lican. Eu respondi que não. Tenho certeza que ela poderia arrancar a minha cabeça se quisesse, naquele momento.

- Aquela vadia! Eu que vou arrancar a cabeça dela! – Percebi uma lágrima em seu rosto mesmo ela tentando escondê-la passando uma mão nos olhos.

Eu segurei levemente sua mão.

- Calma! Deixe isso para lá! E tem mais uma coisa. – Falei em tom animador

- Que coisa seria essa? – Ela respondeu dando um risinho.

- Quem é você para ter ciúmes? Nem somos namorados!

- Sério? – Ela respondeu com um olhar provocador – Você quer namorar comigo humano?

- Eu aceito mulher fogo! – Rimos e nos beijamos como nunca havíamos antes. – Acho que invertemos os papéis!

- Verdade! Na próxima eu deixo você pedir. – Agora seu olhar era malicioso.

- Pode deixar! – respondi sorrindo.

Passamos juntos o restante daquele dia, esperando que ele nunca acabasse, eu podia sentir o calor de seu corpo aumentar, mesmo à distância era perceptível! Quando que eu iria dizer a ela que eu tinha medo de fogo desde a morte de minha irmã? Com certeza não seria nesse dia.



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