Armadilha

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Por eu não ter os olhos noturnos de um lobisomem, fui dispensada de ficar em guarda durante a noite, em contrapartida passei algumas horas ariando as panelas e ajudando a minha tia avó a preparar o almoço do dia seguinte. Além do quantitativo de soldados para fazer a troca com os que estavam aqui há um mês, o Comando Regional enviou cerca de trinta soldados para acompanhar o meu tio Diego e os recrutas que tinham sido promovidos a soldados, como não éramos mais recrutas era normal seguirmos diretamente para o quartel mais próximo para decidirem onde nos usariam da melhor forma.

As horas foram passando, servimos o almoço para uma multidão e finalmente fui dispensada dos serviços. Poderia retirar o restante do dia de folga. O Murillo já me esperava na saída.

- Então, aonde vamos? Promete-me que não vamos subir em árvores dessa vez? – Ele perguntou sorrindo.

- Eu prometo! Vamos visitar a minha avó. A cidade fica um pouco longe, então vamos logo. – Respondi um pouco séria e percebi o seu sorriso sumir.

Quando já estávamos quase no final do acampamento, dois soldados entraram no nosso caminho.

- É expressamente proibido aos novos soldados sair do centro de treinamento. Essas são as ordens! Vocês já estão sob nossa responsabilidade.

- Mas só vamos partir amanhã. Eu preciso muito sair hoje. – Eu já estava ficando furiosa.

- Sem novas ordens não podemos deixá-los passar.

Percebi os soldados ajeitando-se em posição de sentido e logo percebi a Bianca aproximando-se por trás.

- Deixem eles irem! Eu tenho certeza que ela estará aqui amanhã no horário. – Ela disse sem nem me olhar e retirou-se.

Eu não sei quem ficou mais perplexo, os soldados ou eu, mas nem pensei duas vezes e parti dali apressando o passo antes que ela mudasse de idéia. Mais ou menos depois de uma hora de caminhada chegamos às ruínas da cidade Riacho Doce, a família do meu pai viveu aqui durante séculos.

- Sua avó está realmente nesta cidade? – Murillo perguntou-me confuso.

- Ela mudou-se para cá depois que soube de toda a verdade. Mesmo sabendo que poderia conseguir a vida eterna, ela preferiu viver e morrer como uma humana. Eu sempre venho visitar o seu túmulo. Agora que irei partir, não sei mais quanto tempo demorarei para voltar.

- Eu sinto muito Annie! – Murillo apertava a minha mão.

- Eu queria tê-la conhecido melhor, mas já estava bem idosa quando eu nasci. Tudo o que eu sei dela foi o que minha mãe me contou. Lembro de tê-la visitado uma vez quando eu tinha uns cinco anos de idade.

Logo chegamos ao cemitério. Sabe aquela sensação de estar sendo observada? Aquilo estava me deixando louca. Não demorei muito para achar o túmulo. Nele ainda mantinha-se o seu nome, apesar de um arranhão que algum lobisomem ou vampiro fez em algum momento. "Laura Miller".

Era um dia cinzento, com muitas nuvens, mas mesmo assim era dia. Era impossível não ver os três lobisomens me observando em cima de uma cripta a uma distância de ums duzentos metros, eu acho. Eu nunca fui boa em reconhecer alguém quando transformado, eu nunca tive o sentido do faro apurado como eles, apenas sabia que eram lobisomens e se estavam transformados não era boa coisa.

- Você sabe quem são? – Murillo perguntou-me nervoso.

- Não faço idéia. Mas imagino o que querem. Corre agora Murillo! Eu vou lutar com eles.

- Eu não posso deixá-la sozinha.

- Eu ficarei bem! Lembra que eu não morro? Se eles também já sabem disso, só significa que estão querendo te atacar, dessa forma irão me ferir muito mais. Corre! – Eu gritei e ao mesmo tempo dei um empurrão nele.

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