Hierarquia

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Texto narrado por Diego

- Estou um pouco preocupado com a Annie, tia. - Desabafei

- O que te preocupa meu filho? – Tia Anne respondeu com a mesma calma de sempre – Ela recebeu o nome Annie em minha homenagem. Não foi? Então já sabe o que esperar dela.

- O que me preocupa é o Alto Comando já está ciente dos poderes dela. Precisei dar o informe depois do incidente no treinamento. Agora ela corre o risco de ser uma cobaia de testes para eles.

- A Sarah pode intervir. Ela não é a Suprema?

- Tia, ela precisa do apoio deles na guerra. Tudo é decidido pela maioria. Se eles decidirem usar a Annie para ganhar, tenho certeza que o farão.

- Então o que sugere meu filho?

- Estou pensando em um plano de fuga caso seja necessário.

- Vai pedir a ajuda dele? Do monstro que matou seus pais?

- Não vejo alternativa. Se tivesse alguma, com certeza seria melhor do que entregar a Annie de bandeja para o seu avô.

Eu saí da enfermaria com dificuldade, ainda não tinha me acostumado a andar com as muletas. Eu tinha constantemente tentado me transformar, mas apenas gastei as horas em algo que eu já sabia que seria inútil. Agora eu não era mais um Lican e não era um humano, era algo ainda menor, um inválido nesta guerra. Em breve me levariam para o conforto do quartel general para passar o resto dos meus dias em um quarto. Eu queria muito conversar com a Annie e contar meus pressentimentos, mas ao vê-la feliz com aquele rapaz acabei deixando-a aproveitar mais um pouco esse momento de paz.


Texto narrado por Bianca


Eu nem podia acreditar que finalmente estava liderando. Meu pai sempre me dizia para tentar chegar ao topo de qualquer organização que eu fizesse parte. A única coisa que não estava certa eram essas pessoas do clã Moreira, logo teria que dar um jeito em todos eles senão acabariam transformando o centro de treinamentos em uma creche, trazendo todos os humanos nojentos que encontrarem.

- Soldado, pegue as coisas da Cabo Annie e traga para o alojamento, agora que ela é oficialmente um soldado não pode ficar dormindo na enfermaria.

- Sim senhora! – Respondeu o soldado que estava vigiando meus aposentos e partiu.

Até hoje o braço do Igor não se curou ainda, preciso tomar cuidado com aquela garota zumbi, enquanto ela estiver sob o meu comando não poderá me fazer nenhum mal. Vou colocar essa garota em seu devido lugar, não posso aturar alguém que só está aqui por causa da influência da família poderosa. Afinal, eu sou muito mais forte e bonita do que ela.

- Senhora. – Um soldado apareceu acompanhado do rapaz que salvamos em Córrego Novo. – Trouxe o Murillo conforme ordenado.

- Muito obrigada soldado! – Respondi ao soldado enquanto olhava o rapaz de cima a baixo, pude ver porque a garota zumbi estava tão apegada a ele, não tínhamos um homem tão bonito assim por aqui, sua pele escura e bronzeada era bem diferente da cor dos recrutas que ficavam sempre escondidos nas florestas e quase nunca viam a luz do Sol.

- Você queria me ver? – Murillo interrompeu a minha observação.

- Sim! Sente-se por favor! – Indiquei uma cadeira para ele. – Eu gostaria de saber mais detalhes do que houve na invasão dos vampiros.

- Eu já contei tudo ao Senhor Diego.

- Sim, claro! O Diego passou o relatório, mas agora eu gostaria de ouvir de você pessoalmente. Talvez haja algum detalhe que ele não tenha percebido... Mais uma coisa, você não gostaria de transformar-se em um Lican? Você tem muito potencial nesses músculos, sabia?

- Não obrigado! Eu gosto de ser um humano. –Ele respondeu secamente, como se já esperasse por essa pergunta.

Depois de longas horas de uma história chata de sua vida como humano e sem muito a acrescentar sobre os vampiros, eu já estava prestes a liberá-lo quando percebi a Annie parada na entrada com cara de poucos amigos, observando a nossa conversa. Aproveitei para passar a mão no cabelo dele e cochichei em seu ouvido enquanto agarrava seu pescoço com a outra mão, deixando as minhas unhas o arranharem de leve.

- Se mudar de idéia pode me procurar... Agora você sabe onde são meus aposentos! Se quiser outras coisas eu sou toda sua!... Quero dizer, sou toda ouvidos! – Percebi o pescoço do Murillo ficar todo arrepiado. Olhei de relance para a porta e a garota zumbi estava com a raiva estampada em seu rosto. – Está dispensado humano! Pode retirar-se.

Enquanto o rapaz saía, eu fiz sinal para a Annie entrar e começar a choradeira.

- Bianca...

- Dirija-se a mim como Capitã! Mas uma dessas e te jogo em uma masmorra. – Eu estava me divertindo.

- Capitã, porque minhas coisas foram retiradas da enfermaria?

- Vários motivos. Você já é um soldado, logo terei que designar você para um novo posto, porém não é adequado você permanecer na enfermaria, mas sim junto com os outros soldados. Há humanos na enfermaria no momento e também tem o fato de você ter machucado um colega durante o treinamento... – Eu a olhei tentando demonstrar pena e balançando a cabeça.

- Eu não fiz de propósito! Você sabe...

- Não ligo se foi de propósito ou não! Está sob investigação e não posso deixar você e o Igor juntos, já que o braço do rapaz continua no mesmo estado, ele ficará na enfermaria até que seja enviado para um tratamento avançado.

- É só isso?

- Sim! Pode retirar-se... Ah! Mais uma coisa... – Eu a interrompi quando estava saindo. - ...A partir de hoje você estará no rancho, cozinhando nossa comida! Acabou de chegar uma tonelada de batatas que precisam ser descascadas para o banquete da troca dos soldados amanhã.

Ela ficou parada e pude perceber seus punhos fechados como se fosse socar alguma coisa e logo saiu sem nem virar-se. Resolvi que já seria o suficiente por hoje. Amanhã pensaria em mais coisas para perturbar a sua mente. Quem sabe não poderia transformar aquele rapaz à força ou fazer ele me seguir como todos os outros? Hoje eu dormiria o sonho dos vencedores. 

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