A VIDA E O TEMPO

Mudança de perspectiva

"Num piscar de olhos tudo se transforma... tá vendo... já passou". Sempre ouvi o papo de que antes da morte vemos toda nossa vida passar em um segundo. Agora eu sei, lorota pura. Não se vê nada. Num momento se está bem, rindo, conversando sobre a vida, tomando um chimarrão; em um segundo o carro desliza na pista, em não mais de dois segundos retorna-se a realidade, com o olho inchado, airbag estourado e gotas de sangue por toda a parte.

Comentei isso com uma pessoa poucos dias depois do meu acidente, a resposta dela foi a seguinte: "Claro que não viu a tua vida passar em um segundo, afinal de contas, você tá aqui né? Sendo assim, não era a hora da tua morte". Não é que faz todo o sentido. Afinal de contas, eu só teria visto toda minha vida passar na minha mente se logo após eu morresse. Creio que esse é o requisito básico para o filme bibliográfico mental.

Após se chegar tão perto da morte tudo muda, as prioridades se tornam outras, vê-se tudo com mais cor, agarra-se mais as coisas simples da vida. Outra lorota. Não que algo não mude, às vezes entramos nos nossos pensamentos mais íntimos e lembramo-nos do fatídico momento, "realmente, não somos nada, podemos morrer a qualquer momento, hoje vou aproveitar ao máximo, fazer tudo o que quero fazer".

Doce ilusão. Dois ou três dias se passam, novamente os problemas da vida vêm à tona, as responsabilidades te puxam pelos pés. Isso não significa que você seja uma pessoa que não aproveita a vida, materialista a insensível com as coisas que realmente importam, mas apenas que entende seu papel, existe hora para trabalhar, hora para aproveitar.

As responsabilidades fazem parte da vida, se acostume. Aproveitar a vida é fazer tudo que você tem pra fazer com a maior vontade possível. Se não gosta, abandone, dignamente, apenas não vá pensando que só se é feliz se aventurando por aí. Aprendi que ser feliz é estar bem para poder fazer aquilo que se quer e aquilo que não se quer.