Capítulo 5 - Violeta, a cor do pecado

77 3 0
                                    

Após entrar. Fiquei encostado na porta. Preferi ficar lá do que socializar. Esperei por longos minutos. Cansado por ficar de pé. Me dirigi até uma cadeira encostada no canto da sala. Me sentei e comecei à observar a minha volta. Notei alguém sentado a poucos centímetros de mim. Era uma garota. Ela estava olhando para baixo. Por causa da touca que usava, não deu para ver o seu rosto. Mas dava pra ver a palidez de sua pele. Por um momento pensei. Quem seria?

Diário de Violete

Escuridão. Não conseguia ver além do breu nos olhos de quem um dia amei. Para onde foi o brilho que um dia estava em seu olhar? O mundo está cinzento. Sem vida. Com um mundo tão grande. Quem se importaria com a minha pequena e insignificante existência?

Perdida no tempo. Só conseguia pensar apenas numa coisa. No fim. Um fim destinado para todos. Mas será que o meu está mais próximo do que imaginava?

Sinto medo. Sinto dor. Lágrimas escorriam pelo o meu rosto. E a cada dia que passasse, era um dia mais próximo da morte. A morte criada por alguém. Alguém que não se lembrava da felicidade. Eu.

Minha pele exalta palidez. Meus cabelos são brancos. E os meus olhos, Violetas. Isso devido à uma deficiência na produção da melanina corporal. Também conhecido como albinismo.

Isso me acarretou preconceito. Não importava aonde ia. Sempre fui julgada pelos olhos das pessoas que me viam. Por esse motivo, eu não me aceitava. Eu me via como um erro. Um erro que só poderia ser corrigido pela morte.

 Um erro que só poderia ser corrigido pela morte

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

05/03/14

Já era bem cedo quando acordei. Meu quarto era todo fechado. Apenas um filete de luz passado por um buraco na janela se podia ver. Do outro lado haviam pássaros cantando, o sol ilunava os orvalhos na grama daquela manhã. Era um dia que se visse hoje, diria ser o mais belo.

Não sentia fome. Não sentia disposição. Fiquei sentada na cama, olhando a pequena linha de luz atravessando o meu quarto. Só via a penumbra de um lugar que um dia já foi o meu quarto.

Toc Toc Toc

"Já acordou?". Disse minha mãe ao entrar no quarto. Sua voz estava calma, a preocupação e a tristeza era vista em seu olhar. Não me preocupei em responder. Se aproximando de mim e trazendo em seus braços uma bandeja com o café, disse. "Trouxe cereal. Faz tanto tempo que você não come. Achei que pudesse estar com fome". O silêncio ocupou o cômodo. Não me sentia disposta a falar algo. "Já vi que não. Se precisar, estarei na cozinha". Falou ela se retirando do quarto. Reparei pequenas lágrimas saindo de seus olhos. Lágrimas que demorei para entender.

Hoje eu as entendo. Meu estado causava sofrência nas pessoas que me amam e que um dia amaram-me.

Fiquei o dia inteiro na cama. Não sentia a vontade e nem o prazer de me levantar. Minha auto estima estava em decadência.

Não sabia mais o que fazer. Não conseguia ver um futuro para mim. A cada noite que passava, eu procurava um motivo para sonhar mais uma vez. Foi então que deparei com uma tesoura colocada em minha estante. Estava disposta a levar isso mais adiante.

Fui até o banheiro. Tranquei a porta. Me deitei numa banheira que aos poucos foi se enchendo. O barulho de minhas lágrimas caindo na banheira soava pelas paredes. Por poucos segundos me vi questionando.

"Será este o meu fim?"

* * *

Abri meus olhos. Olhei em volta. Estava numa sala toda branca. Era uma sala de hospital. Uma mulher de branco entrou pela porta que estava do outro lado da sala. Me viu e sussurrou.
"Acordou!". Ao sair da sala. Não demorou para que meus pais entrassem. Ao me ver acordada, minha mãe correu em minha direção. Abraçou-me dizendo.

"Você é a minha preciosidade. Meu mundo cairia sob sua morte"

One Reason to DreamOnde histórias criam vida. Descubra agora