Sua face estava quente. Seus olhos, cheios de lágrimas que há muito havia se rebelado contra seu comando. Elas rolavam livremente pelo rosto bem desenhado de Lexa. Seu peito arfava e a dor era insuportável. O veículo se movia tranquilamente pelas ruas cheias de São Francisco, levando-a para qualquer lugar. Ela não se importava com o onde, apenas com a possibilidade de nunca mais ver o brilho no oceano que eram os olhos de Clarke.
"Vocês têm o que queriam, apenas me deixem voltar para minha vida." Sua voz, apesar das lágrimas, mantinha-se firme. Lexa estava segurando cada pedaço de si para se manter inteira. Até quando conseguiria, já não sabia dizer.
"Exatamente isso que estamos tentando fazer, Alexandra." Indra a respondeu com calma, como se a pouco suas mãos não estivessem em volta do corpo da outra, arrastando-a para fora do carro em direção ao heliporto.
"Não tenho parte nessa vida que vocês seguem, nunca quis ter e nunca terei." Seu queixo ergueu-se em desafio. Ela preferiria ser morta a voltar para os negócios da família. Indra sabia que Lexa não iria se render pela forma com que seus olhos verdes se estreitaram. A postura da mulher a sua frente não era de medo ou defensiva. Era de ataque, ainda que ela estivesse completamente impossibilitada para atacar. Um sorriso cínico moldou os lábios cheios da mais velha antes que ela prosseguisse.
"Nem mesmo se a vida daquela moça, Clarke, estiver em risco?"
"Clarke não tem nada a ver com isso." Lexa rosnou, cuspindo as palavras na face da mais velha. Indra acenou, ainda sorrindo, para que Gustus prosseguisse com os arranjos para o vôo.
"Terá, se não voltar para casa."
Lexa encarou a mulher que a criou com o mais puro ódio revirando seu estômago. Seu corpo inteiro tremia. Porque ela podia não se importar com a própria vida, mas nunca seria capaz de arriscar a segurança de Clarke. Já havia cometido aquele mais vezes do que poderia se perdoar, não o faria de novo. O ar que deixou seus pulmões antes que seus pés se movessem, vencidos, para dentro do helicóptero, parecia envenenar suas vias aéreas. Doía. Entretanto, Lexa foi em frente.
Amor poderia ser fraqueza, mas ela não seria egoísta.
[...]
Clarke estava sentada na sala de descanso para os médicos, encarando as sombras e pequenos defeitos nas pinturas da parede a sua frente sem realmente vê-las. Sua mente desatava um nó apenas para atar outro. Em um caos impossível dela compreender. Havia acordado naquela manhã ao lado de uma pessoa gentil e atenciosa – que ela sentia não merecer – apenas para encontrar-se presa numa sala de cirurgia com uma das pessoas que ela jamais pensou em ver novamente. Anya estava ali, dois andares acima, provavelmente acordando do efeito que a anestesia causava.
Não bastasse o tumulto emocional que foi atender Anya e repensar em todos os sentimentos engavetados – no que a presença de Raven e Octavia significava para o futuro delas e em todas as esperanças – todos os seus fantasmas voltaram, com forças renovadas, para assombrá-la. E a dor era tanta que Clarke sentia-se anestesiada. A dor era tanta, que seu cérebro a ignorava. Deixando-a vazia.
Todas as possibilidades que rondavam sua mente acabavam em um beco sem saída. Não encontrar Lexa naquela sala de espera reforçou o que ela já esperava em todos aqueles anos. E Clarke sentia-se estúpida por se deixar ter um resquício de esperança. Encontrar suas amigas, inteiras, era a única coisa que trazia algum conforto em seu peito. Raven e Octavia tinham sobrevivido. Quem sabe, até reaprendido a viver. Ela não sabia, entretanto.
"Ei." A voz calma de Nylah rompeu o silêncio e fez com que a outra saltasse da cadeira. "Não quis te assustar." Um sorriso brincalhão tomou conta da mulher que, ao ver o semblante desnorteado de Clarke, preocupou-se. "Ei, tudo bem contigo?"
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Wild Hearts (Part II)
RomanceDar os primeiros passos em direção a vida adulta não é fácil. Clarke sabe disso, em teoria. Sete anos se passaram desde que a vida de Clarke Griffin virou de cabeça para baixo. Sete anos voaram sob seus olhos enquanto seu coração lutava para se recu...