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                                                     Luca encarou o homem de terno por vários minutos até falar alguma coisa. A estrada parecia ter se acalmado e não se ouvia mais o barulho estrondoso.

-O que aconteceu? – Perguntou o garoto ainda assustado.

-Pela misericórdia, eu não sei! Tomara que não tenha estragado o carro...

Um sentimento de desgosto veio a mente de Luca, imaginando que a minutos atrás, pedira para morar com aquele homem, que estava mais preocupado com o próprio carro. Nem mesmo quis voltar.

-Eu estou bem.

-Graças a Deus – O pastor encarou a estrada. Avistou as primeiras casas surgirem na beirada da estrada – Já estamos próximo!

Eram bem simples e antigas, algumas com paredes descascando, e com cores pouco vivas. Uma mulher observou o carro passar, tinha olhos de uma cigana. O homem a encarou com um sorriso.

Depois de uma quadra o carro virou em uma rua com casas aparentemente iguais, jardins na frente e um grande vitral de sala. Luca já desprendera o cinto e esperava o carro parar. Não existiam crianças na rua, um olhar ou outro de senhores em pequenas mesas na praça e senhoras em suas janelas conversando.

O carro enfim parou em frente a uma casa de luzes acessas um pequeno muro a cercava. Uma senhora sorridente estava na varanda olhando a rua.

-Fizeram boa viagem? – A mulher veio limpando as mãos na roupa e abriu o portão que dava para a calçada.

-A senhora nem imagina – O pastor desceu do carro e foi cumprimentá-la – Paz do Senhor, pastor Carlos Alberto a seu dispor.

-Muito prazer. E o Lucas?

O garoto deu uma baforada dentro do carro e abriu a porta, revirando os olhos, desejava estar em qualquer lugar que não fosse ali. Encarou a mulher e o terno amassado do pastor, fechou a porta e se encaminhou a calçada.

-Meu filho, como cresceu! – A mulher falou colocando a mão no rosto de Luca.

-Meu nome é Luca.

-O que?

-Luca. Eu ouvi a senhora falando Lucas. Todos falam errado. É Luca Karim.

-Me desculpe então, Luca. Vamos pegar as malas? – A mulher falou desconcertada.

O pastor tilintou as chaves do carro e correu para o porta-malas.

-Não gostaria de comer algo pastor? – A mulher falou apontando para a velha casa.

-Não, obrigado, tenho um longo caminho na volta, e tenho que ver se a estrada não esta interrompida pelo acidente que aconteceu na estrada.

-Acidente? – A mulher deixou o sorriso de lado e ficou com uma expressão séria.

-Sim, um ônibus explodiu quando estávamos vindo para cá. – Luca não via a hora de poder sair da rua. – Foi horrível.

-Bem, nesse caso, muito obrigado por ter feito esse imenso favor por mim.

-Não tem o quê. Agora se me dão licença já vou indo. – O homem pousou na calcada duas malas, abraçou a mulher e cumprimento o garoto. – Tenha boa sorte em sua nova jornada Luca.

Não demorou o homem entrar no carro e seguir ate o final da rua e desaparecer. Luca encarou o chão ate a senhora lhe chamar.

-Filho? Vamos entrar? – Seu sorriso amarelo aparecera novamente.

-Luca. Meu nome é Luca. – O garoto pegou as duas malas entrou cruzado o pequeno jardim, até parar na porta.

Luca se voltou e viu a tia passar por si e abrir a porta. Do outro lado da rua um garoto loirinho o observava. A cada segundo naquela cidade fazia Luca se sentir mais incomodado com tudo ao seu redor.


Luca Karim - Flores de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora