As casas da rua haviam acordado há muito tempo. Depois de um tempo se aprontando Luca saiu e encarou a rua por algum tempo. Para onde deveria ir?
Não conhecia nada, nem ninguém, mas ele sabia que deveria durar pouco...
-Cidade pequena... –Balbuciou para si mesmo
-Nas menores frascos, se guardam os melhores segredos... – Uma voz falou.
-Quem disse isso?
-Eu!
Luca olhou para o muro da casa vizinha. Uma garota de pele branca e cabelos longos e negros com um livro em seu colo o olhava atenciosamente.
-Ah... Mals, não tinha te visto – Luca sentiu seu rosto queimar e corar sua pele morena. – Mas o correto para o provérbio é perfumes, não segredos.
-Detalhes...
-Eu sou Luca...
-Não perguntei seu nome... – A garota se levantou apoiando-se no muro.
-Foi mal... – O garoto queria nunca ter saído do quarto.
-Eu vou terminar de ler meu livro lá dentro, com licença...
-Eu já estou saindo, esquentada... – Luca achou que havia exagerado, mas dessa vez não se arrependera. – Será que todo mundo nessa cidade gosta de ler?
-E pelo visto o pessoal da capitar é tão ridículo que nem conseguem apreciar uma coisa boa. – A garota fecha a mão como se fosse bater em Luca.
-Azaleia! – Um homem de camiseta regata e cabelo bagunçado apareceu na porta da casa – Entre agora com esse maldito trambolho!
-É um livro! – Ela suspira...
-Não me interessa, não consigo tomar minha cerveja em paz! Agora entre nessa merda de casa!
A garota encarou Luca por um segundo e entrou correndo. Um sorriso sarcástico apareceu no canto da boca de Luca, mas logo se culpou, imaginando que a garota talvez levasse uma bronca.
Atravessou a rua e tentou ver alguma coisa dentro da casa, mas não conseguiu. As casas daquela rua eram todas iguais, diferenciando-se pelas cores e tipos de jardins. Alguns limpos, outros nem tanto.
Na casa da frente à de Dona Elizângela ficava a casa do pequeno Max, que estava na janela olhando para Luca com óculos redondos. Luca acenou.
-Esse garoto gosta mesmo de Harry Potter – Sussurrou.
Virando a esquina avistou uma grande praça com uma igreja em frente. A torre do sino parecia ser feita de madeira e estar bem conservada. Na praça, algumas pessoas arrumavam um palco. Atrás da igreja não havia nada mais que matagal.
Do outro lado mais algumas ruas com casas e um grande prédio onde ficavam a prefeitura, os correios e a biblioteca, todos com letras bem grandes e desgastadas.
-E ai termina minha vida... – Luca disse para si mesmo. Depois de não ter mais sua mãe nem seus amigos, não tinha mais escolhas. Era o fim...
-Perca as esperanças todo aquele que entra aqui... – Um homem encostado em uma arvore falou apontando para Luca.
Não dava para ver seu rosto, apenas que tinha cabelos até os ombros e grisalhos, e roupas velhas. Luca se aproximou da sarjeta da calçada.
-Falou comigo?
-Você é novo aqui... – Prazer sou Iwo Shui.
-O senhor é japa? – Luca olhou para o homem com cara de espanto.
-Sou por quê? Nunca viu um morador de rua japonês?
-Tenho que dizer... Não... – Luca sentiu um olhar verdadeiro daquele homem como se já o conhecesse há muitos anos.
-Bem, infelizmente...
-Mas isso não pode ser. Por que disse aquilo para mim?
-Garoto. – O homem falou cada palavra da forma mais pausada possível, com tanta calma que assustou Luca. – Tome cuidado. Nem tudo é o que parece...
-O senhor Shui esta lhe atrapalhando garoto? – Um homem surgiu atrás de Luca. O garoto chegou a pensar se deveria ser o modo de recepção das pessoas daquela cidade. Primeiro Micael. Depois a garota com o livro, o mendigo japonês e agora esse cara.
-Não...
-Benjamim, calma, está apenas dando as boas vindas ao garoto.
-Pois pare de assustar todo mundo que chega. – Luca encarou o homem e viu que ele precisava fazer a barba. Um colar em formato de arvore com três galhos cintilavam. – Vá ajudar o pessoal do som, estavam perguntando de você.
O homem saiu mancando pela perna direita.
-Não ligue por o que esse homem diz, ele fala muitas besteiras...
-Tudo bem – Falou Luca receoso.
-Você não me disse seu nome.
-Luca.
-Tipo Lucas?
-Não, somente Luca, Luca Karim...
-Okay, não posso ficar conversando, tenho que terminar esse palco até o fim da tarde. Seja bem vindo. Ainda vamos nos cruzar bastante por aqui.
Do outro lado da praça existia uma borracharia com um senhor discutindo com uma mulher loira com roupa social . O cabelo na altura dos ombros balançava conforme ela esbravejava ao redor do homem.
Luca retornou para a rua que vinha e encontrou o pequeno Max sentado na rua.
-O que foi Max? – Perguntou se agachando perto do garoto
-Dumbledore morreu...
O pequeno garoto olhava fixamente para o chão querendo esconder uma lagrima.
-Eih, não fique assim. Eu não sou muito fã desse livro, mas eu sei que eles se tudo da certo no final.
-Como você sabe? – O garoto o encarou. Tinha olhos azuis acinzentados.
-Eu vi no filme...
-Eu nunca vi um filme, como é?
Luca arregalou os olhos, perplexo.
-Você nunca viu um filme?
-Não. Eu nunca sai daqui. Minha avó me prometeu um dia me levar pra assistir todos os filmes do Harry Potter, e comprar uma capa para mim.
-Entendo... Bom, até que é uma boa historia... Você esta em que parte?
O garoto levantou o braço com o livro aberto. Luca o pegou e olhou.
-Caraca, esse cara aqui parece ser mal...
-Você acha?
Os dois jovens começaram a conversar. A manhã ia se despedindo e o sol esquentado a rua e a lataria de alguns carros parados pela rua. O sino da igreja tocou ao meio dia e era possível ouvi-lo de todos os lugares da cidade.
Dona Elizângela atravessou a rua e encontrou os dois garotos.
-Vocês estão ai... Micael chame sua avó, estamos atrasados...
-Atrasados para o que tia Eli? – A voz de Luca saira de forma estranha.
-Vamos ao enterro.
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Luca Karim - Flores de Vidro
AdventureEm uma pequena cidade do interior de São Paulo podem se esconder os maiores segredos. Para dizer a verdade, o motivo por cada pessoa estar ali é seu segredo. Não entendeu, né? Muito menos Luca Karim, que acabou de se mudar para a cidade para morar...