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                                                                                                            O interior da casa era pouco iluminado. A pouca luz que iluminava a sala vinha do grande vitral da sala. A casa não era muito grande. Uma sala com bastantes detalhes, quadros, pinturas, flores, um ventilador de teto, uma poltrona florida, um pequeno sofá, e uma velha televisão de tubo que um dia já fora nova.

-Esse é seu quarto – Falou a senhora apontando para uma porta ao lado da sala – Pode deixar suas coisas aqui dentro.

-Obrigado dona Ângela...

-Pode me chamar de tia. – Voltou a exibir os dentes amarelos. Isso já incomodava Luca – Agora esta em casa.

-Na verdade ainda irei chama-la de dona Ângela e nada mais. – Luca encarou a mulher, mas não acreditava nas palavras que saiam da sua boca, estava desabafando - Eu não estou aqui por que quero, nesses anos todo a senhora nunca visitou minha mãe, e agora, se pensa que uma boa ação ira me fazer cair em seus braços e chora, esta enganada!

Luca pegou suas duas malas e entrou no quarto batendo a porta o mais forte que pode. Depois de alguns segundos pensando viu que tinha agido por impulso.

-Meleca... Depois eu peço desculpas.

O garoto passou a mão no rosto suado e observou o quarto. Ouvia seu próprio coração. Se lembrou e acendeu a luz, a noite avançava no alaranjado do céu. O quarto era aconchegante. Uma cama no canto da parede e um pequeno armário, alguns papeis colados na parede e uma janela que dava para o quintal.

Saiu caminhando até a janela e pegou o celular no bolso, discou um numero.

-Bolacha? – Luca estava com uma voz mais calma e divertida - Sim, cheguei a esse fim de mundo... Não, acho que não vou me acostumar... Você vai vir me ver?... Saiu com a Monica?... Bom, tenho que te falar que não tem internet nessa pocilga, e quase ninguém aqui tem celular... Cartas? Vai se ferrar seu idiota... Bom, vou ter que desligar, estou sem créditos por tempo indeterminado... Avise a todos que estou com saudades... E tchau...

Luca encarou o telefone, a tela havia desligado.

-Será bateria? – Luca joga o telefone na cama e sai pela porta.

A tia estava na cozinha, quando o viu saindo pegou um prato e colocou na mesa.

-Vá lavar a mão, o jantar esta quase pronto.

-Tia... Me desculpe, eu não deveria ter falado daquele jeito com a senhora...

-Esta tudo bem – A mulher limpou as mãos no avental – E estava esquecendo...

-O que?

-Elizangela...

-O que? – Luca fechou a porta do quarto com os olhos semisserrados sem entender.

-Você não falou que gosta de ser chamado pelo nome? Bem, esse é o meu.

Luca deu um sorriso e se dirigiu para o fim do corredor. Estava procurando o banheiro, talvez aquele lugar não fosse tão chato como pensara.

Achou uma pequena porta, entrou, e viu um lavado. Seu cabelo castanho estava todo embaraçado e já perdera o simpático topete. Sua pele morena parecia ter se avermelhado depois de horas de sol da estrada.

Luca não se lembrava a quanto tempo não comia.

Carne com legumes, não era sua comida preferida, mas parecia ter algo a mais aquilo. O silencio novamente voltara.

-Você não tem filhos dona Eli?

-Não. Meu marido faleceu cedo, não tivemos tempo – O sorriso amarelo agora era acompanhado pelo odor de cigarro. Ela com certeza havia fumado antes de comer.

-Entendo. Aqui não tem wifi?

-Não. – Luca sentiu a tia quase rir – Termine de comer e vá dormir, amanha terá mais coisas para fazer.

-Vão enterrar quem morreu hoje no acidente?

A mulher ficou seria observando o próprio prato.

-Eu não sei... Talvez...

Luca Karim - Flores de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora