I - Destinado à Grandeza

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Era noite e o homem olhava para a criança com uma face feliz esperando ansiosamente pela próxima história. A lareira iluminava troféus antigos, cabeças empalhadas, móveis um tanto rústicos, mas muito bem trabalhados. O fogo trazia de volta os fantasmas de cada objeto ali presente e iluminava os grandes olhos vermelhos e expressivos do garoto, que para o homem era como seu filho. Era o clima perfeito para contar uma grande aventura.

– Conte-me a história, tio! – O garoto quase implorou para o grande homem parado na janela, observando as ondas do mar irem e virem, carregadas pela lua.

– Já não passou da hora de você dormir? - O homem virou para ele fitando seus olhos. Uma súbita melancolia tomou conta de si.

– Você me prometeu contar a história quando fizesse dez anos! - O garoto protestou, e tinha razão. Esperara a vida toda para ouvir aquela história.

O homem suspirou e sentou pesadamente na poltrona, olhando para o fogo.

– Não tenho mais como adiar, não é? - Um sorriso paterno se formou em seus lábios escuros.

– Não! - O garoto sorriu, empolgado enquanto se acomodava no tapete, um presente dos nômades da tribo dos Sar-Alam, do Deserto da Perdição.

– Ela é muito longa – Afagou os cabelos negros do outro – Vai aguentar ficar acordado?

– Não me enrole! - Disse o pequeno julgando-se muito esperto.

– Certo, certo – O homem assentiu, se recostou na poltrona, respirou fundo sentindo o calor do fogo esquentar seu torso nu repleto de cicatrizes de batalhas de tempos passados – Prepare-se para ouvir a história de seu pai.

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Uma cratera enorme e profunda se formava a poucos quilômetros de distância da cidade de Tallban, no reino de Sambúrdia. Quem a via podia achar que era apenas mais um local de terreno erosivo, ou um pequeno canyon, se desconhecesse a lenda que estava por trás, pois era muito mais que qualquer buraco na terra. Tinha uma história envolvendo um dos grandes personagens de Arton1: Vectorius. Ali era o local onde anos atrás o arquimago ergueu uma montanha inteira para formar a cidade voadora de Vectora, importante posto comercial do Reinado2, o qual viajava entre os reinos e entre outros mundos trazendo riquezas e criaturas jamais imaginadas.

Tanta grandeza havia nascido em um reino conhecido como O Celeiro de Arton, visto aos olhos dos outros soberanos como responsável pela produção de alimentos que eram comercializados com todo o Reinado. Um reino que não tinha muito a oferecer, pois "a única lenda que havia nascido ali saíra voando" - era o que os anciões diziam com bastante ressentimento na voz. Fora Vectorius o reino não havia proporcionado ninguém famoso, a população era rural e sem muitas ambições, mas para tudo se tem uma exceção, e o nome dessa era Rey.

***

– Acorda, irmão! Acorda! Por que você está na cama ainda? É o seu grande dia!

– Akita... Akita... - Rey balbuciou ainda dormindo se revirando nos lençóis.

– Acorda!

Rey despertou abrindo os olhos lentamente, se acostumando com a luz do sol que entrava por sua janela, banhando seu quarto com o calor da manhã. Demorou um pouco para conseguir ver a pequena silhueta de Fern, seu irmão caçula.

O garoto tinha apenas sete anos, cabelos negros como os seus, olhos castanhos, grandes e alegres. Estava mais empolgado do que ele, sorrindo agitado, ansioso.

– Quem é Akita? - Perguntou.

– Ninguém de importância – Mentiu. Sentou-se na cama levando a mão à cabeça, sentindo dor. Ressaca.

O Anel do ImperadorWhere stories live. Discover now