II - Caminhos Cruzados

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Mal saíra de sua casa e Rey havia transformado sua corrida pela liberdade em uma cansada caminhada. Arfava puxando o ar para seus pulmões, suas costas doíam. Retirou um lenço do bolso de seu sobretudo e limpou sua tez que começava a se umedecer com suor. Esticou os braços para aquecer os músculos, como se tivesse feito grande esforço, e então, olhou para frente.

O Fosso de Vectora despontava no cenário, como uma grande anomalia feita de terra e rocha no verde da mata tropical ao redor. Se estendendo a quilômetros de distância quase que se fundindo com o horizonte. O buraco descia por, pelo menos, cinco quilômetros até seu epicentro.

Antes dali havia uma cadeia de montanhas isoladas chamadas Trigêmeas. Rey imaginava o poder que o arquimago precisou ter para erguê-las até o céu e mantê-las flutuando, viajando por entre os reinos e os mundos. Um dia gostaria de conhecê-lo, apertar sua mão, ficar cara a cara com seu herói e dizer que o sobretudo que usava era uma réplica roubada de seu museu. - Sorriu ao pensar isso. Outra bobagem. – Ali também era um lugar de magia. Resquício das forças arcanas de Vectorius emanavam nas rochas e boatos diziam que as vezes podiam ser vistos pequenas pedras e animais voando nas redondezas. Se era verdade ou não o garoto decidia acreditar.

Se sentou pegando a brisa que encanava no Fosso. Era um lugar agradável. Lembrou de Bethany, seus encontros secretos aconteciam ali, muitas vezes perdiam seu tempo observando as estrelas enquanto se abraçavam, jogando conversa fora. Sua mente divagou um pouco mais e então lembrou de quando levou Akita para conhecer o local, como ela sorrira ao ver o grande fosso, como dançou e cantou sobre a lua e depois fez amor com ele à luz da fogueira.

– Akita... - Balbuciou, como se a chamasse através do tempo e do espaço. Através das próprias estrelas.

Se culpou, deveria estar feliz, mas de alguma forma, ou outra, seus pensamentos sempre acabavam nela. Era como se fosse uma maldição autoinfligida no memento em que a deixara partir, uma punição por sua decisão errônea, que o condenava encontrá-la e concertar o passado, declamando como havia sido um tolo.

Fechou os olhos sentindo a brisa em sua face mais uma vez, passando por suas orelhas e seus cabelos ondulados presos em um rabo de cavalo.

– Ali está ele! - Uma voz grossa se fez ouvida. Rey abriu os olhos assustado fitando a direção em que ela vinha.

Empalideceu.

Montados a cavalo com facões na mão vinham Leon e Frank Muller, seu pai; O pai de Bethany e mais três homens que imaginava serem tios ou primos da garota, todos furiosos, gritavam seu nome como se fosse injúria.

– Sabia que o encontraríamos aqui, meu pai – Disse seu irmão, vitorioso.

Os cavalos se aproximavam. Rey levantou depressa, tropeçando. Correu. Não esperava que o seguissem até ali. Nos planos que havia bolado ele não contara que se importariam tanto em ter abandonado o casório. Pensando rapidamente agora, havia sido estúpido não ter levado em consideração quão honrado era seu pai.

– Você não vai fugir, desgraçado! – Disse o pai de sua noiva.

Os cavalos estavam cada vez mais perto, o terreno era aberto demais, Rey sabia que não tardaria para alcançá-lo. Se o pegassem não gostaria de pensar o que fariam com os facões. Apressou seu passo. Naquela altura não se importava mais com sua aparência, apenas com sua liberdade.

Viu a mata que circundava o fosso. Árvores altas, de vinte a trinta metros de altura em grupos isolados cercados por arbustos diversos. A floresta estava mais a frente, uma mata mais fechada, de solo úmido, que seus pais, desde que ele era pequeno, sempre falavam para não adentrar. - Não há monstros na região – Pensou. O máximo que poderia acontecer é ficar perdido – E qualquer destino era melhor que voltar para o casamento. (Bem, qualquer destino exceto a morte ou a perda de algum membro. Rey não era muito Romântico).

O Anel do ImperadorWhere stories live. Discover now