VIII - Desonrado

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Goblins, a raça mais marginalizada de Arton. Pequenos, gananciosos, desleixados, covardes, e principalmente... feios. Eram tratados com desprezo por quase todas as outras raças, vistos como criaturas vis quando estavam nos ermos, e dignas de pena quando em centros urbanos. Os que iam para a cidade tentar algo melhor acabavam tendo suas vidas nas mãos de seus patrões, se tornando escravos por dívida. A maioria destes trabalhava como serventes, recebendo um punhado de cobre no final do dia, depois de servirem grandes banquetes, limparem a casa ou caminhar a tarde toda levando mensagens. Eram invisíveis perante a sociedade, ninguém se importava com eles, muitos vistos como meros animais.
Esse desgosto perante os góblins fizeram com que os humanos os expelissem de seus centros populacionais, com a justificativa de os manterem "limpos" e "saudáveis", porém, não podiam se ver livres de seus serventes de baixo custo. Com isso o lorde cedia um pequeno espaço de terra para eles morarem, não muito longe de sua cidade. Com o tempo se adaptaram ao meio e construíram um aglomerado de casas naquele terreno, feitas de qualquer material que julgassem útil para elas. Nasciam então as chamadas favelas góblins, uma mancha jogada para baixo dos tapetes da raça humana, reduto de sobrevivência, de uma cultura marginalizada e principalmente, de crime.

Em algum lugar daqueles becos e ruelas, daquelas casas uma sobre as outras, em uma arquitetura caótica, estava o anel amaldiçoado. Perdido, esperando ser resgatado.

– Este lugar fede! - Exclamou Rey tampando seu nariz diante do mal cheiro das mais diversas matérias.

Brannford estava distraído, observando dezenas de gaivotas voando sobre a favela, em busca de restos de comida. Como Collarthan era uma cidade costeira, inúmeros goblinoides se alimentavam de peixe, o alimento mais barato. Sem uma preocupação em manter o local limpo as carcaças das refeições eram jogadas às ruelas, deixando um glorioso banquete para os pássaros e também para os enormes ratos que ali viviam.

– Não é o melhor dos lugares – Disse Katsuke – Mas temos que encontrar Sano. Um bom ponto de partida é interrogar estas criaturas.

– Você já não tentou isso antes? - Perguntou Allen enquanto notava Rey tirar uma espinha de peixe de sua bota, enojado.

– Sim, porém não tive sucesso. Estas criaturas são traiçoeiras, fizeram-me circular por horas sem uma pista concreta de onde está este esconderijo.

– Allen, você não pode usar sua visão? - Rey perguntou para o clérigo, esperando que a visão Colenniana de seu amigo pudesse encontrar o anel com facilidade.

– Se o anel está aqui então está fora de meu alcance...

– Teremos mais trabalho... Mas vamos começar! – Tomou a frente – Que tal aquele goblin ali? - Apontou para um que carregava um saco nas costas. Quando este viu o garoto estendendo o dedo em sua direção arregalou os olhos e correu para a direção oposta – Está bem, talvez eles não gostem muito de falar – Completou.

– Não podemos ser amigáveis com eles – Disse Allen – Eles sempre sairão correndo. Usemos uma abordagem mais direta.

– Intimidá-los – Katsuke foi direto ao ponto. O clérigo sorriu.

Allen correu atrás do góblin que fugia do grupo, o alcançando em pouco tempo. O agarrou pela camisa, de um pano encardido, e o levantou. O góblin se esgueirou para fora de suas vestes e deu um passo para continuar sua corrida, mas foi emboscado pela samurai que já havia retirado sua wakisashi da bainha, apontando a lâmina, de tamanho médio, para o pescoço dele.

– Se fosse você não arriscava mais um passo – Disse, com forte sotaque.

– Agora desembucha, onde está Masaharo Sano? - Disse Allen pegando a criatura pelo pescoço. Ela segurava seu braço com suas pequenas mãos tentando se livrar do agarro do clérigo da paz.

O Anel do ImperadorWhere stories live. Discover now