Capítulo 6

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Vicente

Eu não sei onde estou, só vejo a imagem de meu pai, ele sorria animado, estávamos indo pescar, passar um fim de semana "só pai e filho", essas coisas clichês que fazemos quando criança. Era seu aniversário e ele queria muito ir.
Não havia movimento na estrada, de longe pude ver a imagem de um carro, mas alguma coisa estava errada. Ele vinha na contramão, em alta velocidade, na nossa direção.

E depois, só o silêncio.

- Merda! - Falo ao sentir uma dor horrível na costela.

Acordo assustado em um quarto branco, posso ver uma planta em um vaso no canto e, além disso, minha única visão é uma grande janela, de onde vinha a luz do sol que passava pelas cortinas, iluminando o quarto. Tudo estava em silêncio, afinal, foi um sonho? Acho que não.

Ergo a cabeça e tento me sentar, mas algo me impede. Sinto uma dor muito forte na minha perna esquerda e o meu braço está todo machucado. Quero levantar e saber em que merda de lugar estou, mas não consigo, não tenho força.
Ergo o lençol com que estou coberto e me deparo com aquela roupinha ridícula de hospital, mas afinal, que Merda aconteceu?
Vejo que minha perna esquerda estava engessada e novamente tento me sentar na cama, fazendo um pouco mais de força dessa vez, mas minha tentativa é inútil e o resultado é uma terrivel dor no meu abdômen.
Me sinto cansado e, por um momento perco o ar.

Uma enfermeira entra no quarto e parece surpresa ao me ver acordado.

- Bom dia dorminhoco. - Ela fala bem humorada. - Como está se sentindo? - Ela pergunta.

- Bem, eu acho... - Falo. - Pode, por favor, me dizer onde eu estou ou o que aconteceu? - Pergunto tentando me erguer.

- Ei, devagar ai mocinho. Você está no hospital se recuperando. - Ela fala. - Meu nome é Maria e eu vou cuidar de você enquanto estiver aqui! - Ela completa sorrindo.

- Vicente... - Falo me apresentando e ela sorri. - Você pode chamar a minha mãe? Ela está aqui? - Pergunto a acompanhado com o olhar, enquanto ela confere a máquina que, só agora, percebo estar ao meu lado, registrando a frequência dos meus batimentos.

- Posso sim, ela está na recepção. Vai ficar feliz em saber que você acordou! - Ela fala sorrindo.

- Muito obrigado! - Agradeço enquanto ela ia em direção à porta.

Ela sai e logo um médico entra no quarto, ele usava um jaleco branco e segurava uma prancheta nas mãos.

- Bom dia, Vicente! - Ele fala simpático. - Meu nome é Marcos, sou seu médico.

- Prazer, Doutor! - Falo erguendo meu braço com um pouco de dificuldade e apertando a sua mão.

- Vejo que está se recuperando, como está se sentindo? - Ele pergunta.

- Fisicamente bem, apenas com algumas dores, o que imagino ser normal pelo estado que eu estou. - Falo me referindo aos meus ferimentos. - Mas eu estou muito confuso, o que aconteceu? - Pergunto.

- Imagino que sua mãe lhe explicará melhor quando chegar, mas o que posso dizer é que você sofreu um acidente de carro. - Ele fala.

- Um acidente? Que dia é hoje? - Pergunto confuso.

- Hoje é dia 17, você está aqui à dois dias. - Ele responde e, imediatamente, lembro-me de meu pai, do seu passeio de aniversário...

- E onde meu pai está? Ele se machucou? Ele está aqui, não é? - Pergunto já com os olhos marejados, preocupado.

- Vai com calma ai rapaz, você não pode se esforçar e nem se preocupar, tente se concentrar apenas na sua recuperação. - Ele fala. - O seu caso foi sério, agora não corre risco de vida mas, mesmo assim, você precisa, em primeiro lugar, pensar na sua recuperação. - Ele completa e eu apenas afirmo com a cabeça, me recompondo.

- Quando vou poder sair daqui? - Pergunto.

- Você tem mais alguns enxames para fazer, mas acredito que essa semana você ganhe alta. - Ele fala conferindo o papel preso na prancheta.

- Muito obrigada, Doutor. - Agradeço, um pouco aliviado.

Batidas na porta me chamam a atenção, me fazendo olhar na sua direção. Uma mulher entra, com os olhos vermelhos e uma expressão muito cansada, ela vem na minha direção e me abraça com toda força e, ao mesmo tempo, com delicadeza.

- Vou deixar vocês sozinhos, retorno mais tarde! - Ele fala e sai do quarto.

- Como você está, meu filho? - Ela fala sentando na cama e segurando meu rosto.

- Mãe! - Falo apoiando minha mão em seu ombro, forçando um sorriso. - Eu estou bem, Mãe! Eu estou bem! - Falo emocionado.

- Eu fiquei tão preocupada! - Ela fala acariciando meu rosto.

- Está tudo bem, tudo bem! - Falo me recompondo. - Onde meu pai está? - Pergunto e me preocupo mais ainda quando vejo a cara que ela faz.

- Ele está bem, querido! Não se preocupe! - Ela tenta disfarçar deixando algumas lágrimas escaparem.

- Mãe! - Falo fazendo um enorme esforço para não chorar, mas eu já havia entendido. - Não... - Completo já não contendo as lágrimas, não querendo encarar os fatos.

- Vai ficar tudo bem, meu amor. Vamos ficar bem. - Ela fala acariciando meu cabelo e forçando um sorriso em meio as lágrimas.

Eu estava em meio a maior confusão, não conseguia entender, não queria entender. Como essa Merda foi acontecer, porra!
Minha mãe estava inconsolável e eu, eu não sei nem como me sentia, era uma mistura de raiva, dor, tristeza.
Eu não podia acreditar.
Eu não queria acreditar.
Me negava.

- Meu filho, eu sinto tanto... - Minha mãe fala me tirando dos meus pensamentos.

- Como eu estou vivo? Por que ele morreu e eu não? - Pergunto me entregando às lágrimas de vez, incrédulo.

- Não fala besteira, meu filho. - Ela fala voltando a segurar meu rosto em suas mãos. - Você está vivo, é isso que importa! - Ela completa.

- Eu não vou deixar nada de mal acontecer com você, nunca! Eu prometo. - Falo segurando o seu rosto também e secando suas lágrimas com meu polegar.

- Meu menino, eu te amo tanto... - Ela fala me abraçando.

- Eu também te amo mãe! - Falo retribuindo o abraço.

- Ei, ei, muitas emoções, não é mesmo? - Fala o médico entrando no quarto. - Sinto em dizer mas Vicente tem que descansar! E acredito que você também... - Ele fala apoiando a mão nas costas de minha mãe.

- Ok, tem razão! - Ela fala enxugando as lágrimas e forçando um sorriso.

- Mãe, vai para casa, descansa. Eu vou ficar bem! - Falo beijando a sua testa.

- Eu sei que vai, meu amor! - Ela fala e acompanha o médico até a porta.

- Tchau, mãe! - Falo me despedindo.

- Tchau meu filho! - Ela fala e manda um beijo no ar.

Depois disso minha mãe teve que sair do quarto para que eu pudesse, de acordo com o médico, descansar, o que eu acredito que não vai acontecer porque a última coisa que eu vou conseguir fazer nessa situação é descansar.
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No fim das contas, passei por uma cirurgia para retirar um pedaço da ferragem do acidente que estava presa entre duas das minhas costelas, pressionando-as, ficando com uma bela cicatriz e, por causa do impacto entre os dois automóveis, minha perna esquerda foi prensada contra o painel do nosso carro e quebrada em dois lugares.

Minha mãe ligou para tia Melissa, mas pedi para que não falasse nada para a Clara. Além de odiar o fato de ela estar sofrendo por isso e eu não poder estar lá para consola-la, ela era muito próxima do meu pai, então voltei a falar com ela normalmente, como se nada tivesse acontecido, o que foi muito difícil.

Logo voltariamos para casa, por isso achei melhor contar pessoalmente, assim poderia abraça-lá e falar, olhando nos seus olhos, o quanto eu sinto por toda essa Merda ter acontecido.

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⏰ Última atualização: Dec 02, 2017 ⏰

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