Arruinada

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Minha visão estava turva como a de alguém que está prestes a desmaiar, cambaleio pelo corredor estreito de alguma rua movimentada ja que o barulho de carro e vozes nas extremidades do beco são constantes. Olho para o fim do corredor e vejo uma pessoa vestindo um sobretudo vermelho com um capuz da mesma cor. O vermelho se sobressaía no meio da penumbra obscura que pairava sobre o beco, iluminado apenas pela luz fraca do neon das boates do outro lado da rua.

- Quem é você? - Minha voz saí fraca e frágil como o de uma menina indefesa prestes a ser assassinada

- Sou o seu maior medo - A pessoa fala com uma voz neutra e serena

- Você me chama por um nome desconhecido, criado pela sua mente para esconder a verdade de você mesma - A pessoa continua e avança na minha direção a passos largos e antes que eu pudesse reagir o sobretudo vermelho roça minha pele e mãos firmes me jogam contra a parede.

- Não, por favor, por favor, eu não fiz nada, a culpa não é minha - Falo novamente com uma voz fraca e ingênua, sem mesmo querer ter dito aquilo.

- Você não fez, mas eu fiz, e eu sou assim, mato as pessoas para me sentir melhor, para me livrar da culpa que é totalmente minha - A pessoa fala com uma voz fria e assustadora e saca uma faca de dentro do sobretudo.

Sinto meu corpo parar de responder aos meus comandos, sinto uma mão invisível fazer pressão sobre minha boca, fazendo com que eu sufoque, me impedindo de gritar por ajuda. Olho para a pessoa incapaz de impedir o que estava prestes a vir, então simplesmente deixo que me destrua, deixo-o terminar com o que jamais deveria ter começado. As primeiras facadas me fazem delirar de dor, e não poder gritar só tornava aquilo tudo mil vezes pior, a lâmina fria se esquentava a cada vez que rasgava meu corpo, e eu sentia aquilo tudo, cada segundo e cada movimento. A sexta facada penetra minha carne, dilacerando pele e músculo juntos, fazendo o sangue jorrar pra fora da ferida enorme em meu peito, meu corpo para de funcionar pouco a pouco, fazendo minha morte ficar cada vez pior, e antes que isso aconteça sinto a dor insuperável da lâmina sendo arrancada de meu peito, tirando de mim o ultimo resquício de vida.

...

Meu corpo salta para frente e os gritos que saem da minha boca parecem ser de outra pessoa, rasgando minha garganta como uma boa dose de bebida faria, minha respiração ofegante me deixa tonta e sinto um devaneio tomar conta do meu corpo, como se aquilo já tivesse acontecido, David pula junto comigo e me encara com uma expressão confusa, numa mistura com alegria e curiosidade.

- Calma, calma, foi só um pesadelo, fique calma... Eu estou aqui - Ele diz pondo a mão em meus ombros e logo alisando minha testa suada e retirando do meu rosto os fios negros e lisos do cabelo colado no suor, seguro firme seu braço em agradecimento, sentindo suas palavras me deixarem confortável.

Segundos depois sinto minha garganta seca e meu corpo falhar de novo, David continua tentando me acalmar me assegurando de que aquilo era só um pesadelo, me fazendo voltar a realidade e junto com suas palavras eu percebia que aquilo tudo não fôra real. Minha respiração volta ao normal pouco a pouco, mas não consigo impedir meu corpo de parar de tremer cada vez mais rápido, a cama sacode junto comigo fazendo a madeira ranger abaixo de mim, David fica com um olhar de preocupação e levanta a cabeça para gritar alguém mas eu ja não ouço mais nada e minha visão começa a enegrecer aos poucos, solto um leve gemido de dor quando o metal gélido da agulha penetra minha pele fazendo-me lembrar das facadas do sonho, movo a cabeça para o lado esquerdo do corpo e vejo aquela antiga enfermeira injetar algo no meu braço, e me surpreendo ao ver que ela não veste o jaleco branco do hospital e sim uma farda preta, e então um turbilhão de perguntas preenche minha visão e ela se senta ao meu lado, pondo a agulha de lado.

TOXIC - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora