Menina de Papel

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As mãos de Sarah se fecham ao redor de meu braço e me dão apoio quando meu corpo fraqueja, ela me encara com um sorriso no rosto, saboreando o prazer de saber que suas palavras me atingiram em cheio. Agito meu braço me distanciando de seu toque, me recomponho e seco a única lágrima que escorreu por todo o meu rosto e pingou no casaco de David, tento parecer o mais normal possível mas as memórias que atormentam minha mente começam a surgir como um turbilhão de cenas embaralhadas.

- Você não sabe de nada, e também não pode provar que fui eu - Falo fitando seus olhos e ficando ereta

- E você pode provar que não foi você? Oh não pera, não pode! - Diz ela com tamanho sarcasmo - Você preferiu se fazer de esquecidinha para sair impune disso tudo, mas eu já não posso fazer mais nada, fui demitida do meu cargo depois que Zoe se foi - Ela continua mas dessa vez fala com um ar de frustração

- Isso é problema seu e não me interessa nada que venha de você, só vim aqui pegar minhas coisas, pode ficar com a droga do apartamento - Bufo e vou andando na direção do atelier de Zoe numa tentativa de me distanciar dela para que não me veja sofrer.

Eu não estava pronta pra ver e tocar nas coisas de Zoe ainda, mas eu preciso, preciso me lembrar de Zoe como alguém que eu amei, não como alguém que me atormenta todas as noites por ter ido embora.

- Não quero seu apartamento, e tenho certeza que tenho muitas coisas que interessam a você - Ela me segue até o cômodo insistindo em dialogar comigo, me viro para encara-la fazendo sinal para que fosse logo ao ponto, estava cheia dela mesmo que tivesse pouco tempo que eu a conhecerá.

- Eu trabalhava como assistente particular de Kane lindinha, para de me olhar com essa cara e vamos ao que interessa, não precisamos ser amigável uma com a outra - Assim que ela concluí sinto meu ódio por ela evaporar na minha frente, o interesse cresce dentro de mim junto a minha sede por informações toma conta do meu corpo fazendo com que eu me aproxime dela.

- E o que quer em troca de um relatório completo sobre tudo o que sabe e que pode me ajudar? - Falo encarando-a um pouco ansiosa para meter as mãos nessas informações.

- Quero que você me acompanhe até a casa de Kane como minha refém, perdi meu emprego porque não consegui leva-la ate ele, eu não tenho muita coisa que lhe interesse, mas ele tem - Sarah diz evitando me olhar nos olhos

- Ok, esquece, não preciso das suas informações nem das dele - Reviro os olhos e ando pelo atelier, pegando algumas latas de tintas e colocando-as dentro de uma bolsa de pano, junto com pincéis e cadernos de desenho.

- Ele só quer conhecer a Assassina mais temida no mundo do crime, ele admira você, creio que não fará nenhum mal a você - A voz dela sai com tédio como se tivesse inveja da fama que nem eu sabia que tinha

- Desde quando eles sentem medo de mim? - Pergunto ainda arrumando algumas coisas e pensando na possibilidade de tudo isso ser uma armadilha.

- Desde o dia em que você matou Brandon e Stacy no bordel de Kane, mas para ser sincera, alguns ja se borravam de medo desde que matou Marcos e um tal de Richard - Diz ela vindo me ajudar trazendo mais bolsas

- Então Kane quer me ver porque gosta de mim, sendo que matei 4 de seus homens? - Pergunto deixando as bolsas sobre a mesa e me sentando num sofá velho do atelier, fito seus olhos com desconfiança e curiosidade ao mesmo tempo, mas as cores na parede atrás de Sarah me chamam atenção.

Por alguns segundos me distâncio da realidade e me perco nas lembranças borradas como tinta dentro desse atelier, vejo Zoe pintando quadros e mais quadros e das noites juntas que passamos aqui, das loucuras que fazíamos junto as explosões de tintas que lambuzavam nossos corpos nús. O cabelo castanho de Zoe descolorido por completo num tom prateado brilhante que ela tanto amava, um cabelo que ficava totalmente colorido no final do dia, manchado com diversos tons e tipos de cores, junto com sua pele pálida que combinava com o cabelo, fazendo-a parecer uma folha papel brilhante, sempre esperando por alguém que desse cor a sua superfície, e essa pessoa era sempre eu, que fazia suas bochechas ficarem avermelhadas em um rubor perfeito. Uma menina de papel. Minha menina de papel, que foi amassada e rasgada em pedaços, destruída por completo, sem que ninguém a socorresse, sem uma segunda chance. Mas eu sempre serei sua menina toxica e vou me vingar usando todo meu veneno, disso eu tenho certeza. Tudo se desfaz rapidamente assim que Sarah abre a droga da boca dela.

TOXIC - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora