Capítulo 7

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Blue

Eu estava deitada na grama de barriga para baixo, a câmera polaroid bem posicionada em mãos, arrumei o foco e bati minha segunda foto aquele dia. Peguei com cuidado e esperei que a imagem aparecesse aos poucos, revelando o meu livro de álgebra e as flores azuis da clareira. O cenário típico do meu dia a dia.

A outra foto jazia ao meu lado, do dia anterior. Nesta, o céu continha algumas nuvens e elas corriam pelo céu, como se estivessem atrasadas para um compromisso importantíssimo. Algumas das árvores invadiam a foto, deixando o cenário um pouco mais colorido.

Agora que havia descoberto aquela clareira, ia sempre para estudar. O lugar me acalmava, me mantinha concentrada até que eu me cansasse e resolvesse que era hora de tirar algumas fotos. Mas isso não me impedia de ir bem no dia seguinte, pelo contrário, eu estava indo muito bem nas provas, até melhor do que ia anteriormente.

Decidi que estava na hora de ir pra casa e quando cheguei Marceline me abordou prontamente. Vinha com um pano de prato em mãos e um olhar preocupado. Me aproximei dela com um sorriso caloroso.

- Está tudo bem, Marceline? - Peguei sua mão enquanto nos guiava para a cozinha de onde vinha um cheiro delicioso de algo que ela preparava com suas mãos de fada.

- Está, senhorita. - Beijou o topo da minha cabeça, mas não me convenceu. Sentei na bancada que dividia a sala de jantar da cozinha e a observei voltar ao fogão para mexer uma panela fumegante. - Só acho que está de namorico e não está me contando. - Eu a vi dar de ombros discretamente, mas não se virou para me olhar, continuou ali, mexendo o que quer que fosse, como se aquilo pudesse ser a coisa mais interessante do mundo.

Gargalhei alto, segurando a minha barriga para dar mais ênfase que o que ela dizia era absurdo. Marceline me olhou confusa e eu fingi limpar uma lágrima do canto de meu olho.

- Marceline, eu não tenho um novo namorado. Sabe que se tivesse você seria a primeira saber, hun? - Pisquei para ela e me levantei, indo abraçá-la. - Eu vou à clareira todas as tardes para estudar. Lá me concentro e estou indo melhor nas provas, se quer saber. - Sorri e acariciei suas costas.

- Se você está dizendo... Então acredito. - Sorriu e beijou a ponta do meu nariz. - Mas e Noah? Não virá mais nos visitar?

A sua pergunta me atingiu em cheio no estômago. Não pelo fato de ser Noah, mas as coisas com ele agora atingiam um nível desconhecido por mim. Não por ele, mas por seu pai. Eu não queria admitir, não queria pensar, sabia que era algo passageiro, por isso evitava ao máximo o assunto. Dei de ombros, simplesmente.

- Vou tomar um banho, tudo bem? - Beijei seu rosto e, do bolso traseiro do jeans, eu tirei as fotos, lhe entregando. - Sei como você gosta delas.

Ela sorriu ao ver as fotos e guardou no bolso da avental enquanto eu me virava e subia para o meu quarto.

Era verdade, eu não parava de pensar em Nicholas Hayes e não sabia até que parte eu me sentia culpada, mas sabia que ela era dominada pela curiosidade.

Quando ele apareceu nos meus sonhos naquela noite, os seus olhos verdes se tornaram vermelhos, possessivos, irritadiços, diferente do homem que eu vi. Por que eu o vi daquele jeito? Será que estava mostrando que eu não o conhecia? Quem aquele homem pensava que era para mexer daquele jeito comigo?

No meio do sonho ele sorria, mais uma vez os seus olhos eram de um verde cristalino, quase transparente, e um sorriso iluminava seu rosto. De repente, eram vermelhos novamente. Uma mudança de humor constante. Eu não temia em nenhum momento. Eu queria protegê-lo, acalmá-lo, mas nunca o alcançava, quase como se ele fosse um animal enjaulado e uma corrente elétrica me impelisse dali.

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