Parte I

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Estou extremamente nervosa. O Check In já foi feito e estou neste preciso momento parada de frente à porta de embarque. Uma funcionária elegantemente vestida olha para mim, divertida. A minha vontade é de lhe bater. Sinceramente, isto não tem piada!

É a minha primeira vez, não nesse sentido obviamente. É a minha primeira vez a andar de avião. Sinto as minhas entranhas apertadas, acho que deram um nó. A minha vontade de vomitar está ao rubro e tenho quase a certeza de que estou roxa, verde, cor-de-rosa e às bolinhas amarelas.

- Precisa de ajuda? – Levanto o meu olhar para a mulher à minha frente.

- Não, obrigada. – Respondo com o que me resta da minha dignidade.

Ergo a minha cabeça e entro por fim naquela maldita coisa. Só espero mesmo que os pilotos saibam o que estão a fazer. Porque eu juro por Deus, que se eles deixarem esta máquina assassina cair, eu faço eles engolirem o maldito e ainda cagam as caixas negras às fatias! Sigo até ao meu lugar, junto a uma janela. Olho de esguelha para um homem barrigudo que está no meu lugar.

- Desculpe? Esse é o meu lugar. – Informo enquanto mostro o meu bilhete.

- Não está cá nome nenhum, vá para outro sítio! – Olho chocada para ele.

- Espero que a janela se parta e seja sugado por ela. A sua sorte é que você ficaria preso e não iria virar Hambúrguer de tubarões. Imbecil. – Rosno furiosa. Não basta estar nervosa como tenho de levar com este tipo nojento.

- Está tudo bem? – Olho para a assistente de bordo.

- Estaria se fosse proibida a entrada a idiotas. – Resmungo.

- Senhor poderia mostrar-me o seu bilhete? – A assistente pede ao barrigudo. Ele resmunga umas obscenidades e logo aparece um homem. Provavelmente deve ser funcionário também. Há uma ligeira discussão e o homem que chegou para ajudar a assistente finalmente intervém.

- Senhor, peço-lhe gentilmente que se acalme. De contrário, serei obrigado a convidá-lo para sair.

Pouco depois, o homem acalma e levanta-se do meu lugar. É levado para o seu lugar e eu sento-me. Respiro fundo e olho para a janela.

- É bom que não penses em partir! Sou jovem demais para morrer agora, ok? – Sussurro para a janela em questão. – Eu estava a brincar quanto ao facto de te partires e expulsares aquele homem horrível. – Dou uma palmadinha no vidro como que a tranquilizá-lo. Por fim, recosto-me no assento e vejo que alguns dos passageiros estão a olhar para mim. Arqueio uma sobrancelha e com o meu melhor olhar questiono se perderam alguma coisa.

- Boa tarde, quem vos fala é o vosso comandante. Sejam bem-vindos a bordo. Por favor, observe o seu número do seu assento no cartão de embarque... – Olho pela janela e vejo o que se passa lá fora. Sorrio para mim mesma quando penso que dentro de pouco tempo estarei com Elisa. Uma semana de puro divertimento. Farra e tudo ao que temos direito. Volto à realidade quando sinto movimento ao meu lado. E nesse momento, apercebo-me que não ouvi tudo o que foi dito. - ... Deverão permanecer desligados.

Toda a lenga - lenga, mas essencial, é dita. Sobre situações de emergência e afins.

Sem saber o porquê, neste momento só me passa pela mente piruetas pelo ar. Ele não vai fazer isso, certo? Óbvio que não, isto é um avião de passageiros, não uma aeronave de treinos. Mesmo assim, sinto o suor a colar a minha roupa à pele. A minha respiração torna-se ofegante e eu sei que vou ter um ataque de pânico. Tento inspirar e expirar calmamente. Penso em póneis, ovelhas e dragões. Mas nada ajuda.

- É a sua primeira viagem? – Nem me digno sequer a olhar para a criatura.

- Não.... Viajo com bastante frequência até, apenas gosto de dar um show para divertimento. – Resmungo e a criatura ri-se. Ai que vontade de o matar. Só não faço isso porque estou mais preocupada com o meu ataque de pânico.

- Beba. – O homem ordena e eu olho para ele. Pego no copo e dou um gole. Engasgo-me logo de seguida e ataques de tosse sucedem-se.

- Por amor de Deus, quer-me matar? – Sibilo quando finalmente consigo respirar.

- Não, de forma alguma. Mas a verdade é que já apanhou um pouco de cor. – Diz divertido e tira o copo da minha mão.

- Ei! – Retiro-lhe o copo de novo. – Esse é meu, arranje um para si.

- Tecnicamente esse era meu. Mas tudo bem. – Diz divertido e eu acabo por me rir.

Finalmente o avião começa a descolar e eu fico colada ao meu assento. Fecho os olhos com força e rezo em todas as línguas e ainda invento mais algumas, assim como rezas. Quando o avião fica estável começo a sentir um sono terrível. Olho para o lado e o homem que me deu o copo sorri para mim. Os meus olhos tornam-se pesados e bocejo.

- Quando acordar verá que já chegamos. – Oiço dizer e involuntariamente um sorriso aparece no meu rosto.

***

Acordo com um ligeiro abanão no meu ombro. Resmungo um pouco e aconchego-me mais a minha almofada.

- Ei, bela adormecida já aterrámos. Acorde. – Pestanejo. Eu já disse que o facto de abrir os olhos não é o mesmo que estar acordada? Demoro um pouco a tomar consciência de onde estou. E quando finalmente me apercebo, dou um salto no meu lugar e sinto as minhas bochechas a aquecerem. Estava com a minha cabeça encostada ao ombro do desconhecido e uma mão pousada na coxa dele. Ele ri-se e eu faço uma cara furiosa.

- Obrigada e desculpe. – Digo irritada comigo mesma. Logo começamos a sair do avião. Faço todo o percurso, pego na minha mala e sigo caminho.

Quando passo pela porta, vejo a Elisa com as mãos dentro dos bolsos e a olhar para cada um dos passageiros. Levanto a mão livre e faço-lhe sinal. Ela mostra um sorriso maravilho. Elisa é uma mulher magnífica. Ela tem um rosto de boneca, uns olhos castanhos expressivos, o cabelo curto, ligeiramente pelos ombros e isso dá-lhe um ar rebelde. Uma mulher elegante e por vezes parece mesmo uma boneca pela sua forma de vestir. Não aqueles vestidos pipis e horríveis, nada disso, uma calças e uma camisa com um lacinho na gola. O rosto bem maquilhado, mas nada em excesso.

- Chegaste!! – Ela dá um gritinho entusiasmado e eu rio-me.

- Não, ainda estou dentro daquela máquina assassina. – Rebato divertida. Damos um abraço apertado e logo seguimos caminho. Tagarelamos de tudo e mais alguma coisa.

Insana Liberdade #1Onde histórias criam vida. Descubra agora