One

137 8 1
                                    

23 de janeiro de 2015 15:36 da tarde

Discuti com meus pais mais uma vez. O motivo? Uma faculdade. Mesmo depois de dizer inúmeras vezes que não quero nem tentar, eles continuam insistindo. Não queria entrar em uma faculdade porque acho total desperdício de tempo e dinheiro. Posso muito bem fazer um simples curso de administração, que custa bem menos, e continuar trabalhando na livraria que tem na rua de minha casa. Trabalho lá desde que saí da escola e venho juntando um dinheiro para comprar um apartamento e ficar sozinho por um tempo. Eles pagam razoavelmente bem para eu ajudar os clientes e ficar no caixa quando necessário. Não é um lugar grande, mas é a única livraria que tem por aqui, então a clientela é boa. Entendo que meus pais queiram me ajudar, mas eu não queria ser ajudado. Queria apenas continuar trabalhando lá e viver o resto da minha vida em paz, sem ninguém para me incomodar, com exceção de Luhan. Subi as escadas de casa, entrei no meu quarto e bati a porta. Me joguei na cama e fiquei encarando o teto. Suspirei e comecei a refletir. Por que eu ainda estou vivo? Por causa de uma promessa. Culpa sua, Luhan! Tudo culpa sua! Eu podia ter acabado com tudo naquele dia há um ano atrás, mas você me achou e me prendeu com esse sorriso que nunca deixou o seu rosto. Seu otimismo, seu jeito de ser, além de inúmeras coisas mais que admiro em você. Escutei um barulho na minha janela, mas sabia que era você, então nem me dei o trabalho de me mover. A janela não se fechou desde a primeira visita. Nunca entendi o por que de você sempre entra pela janela. Qualquer pessoa normal entraria pela porta, além do mais, meus pais te conheciam e ainda te usavam como exemplo sobre a vida que eu deveria ter. Só que você não era qualquer pessoa. Era o meu melhor amigo, se é que eu podia te chamar assim. Porque só você me entendia. Só você sabia como eu estava sem sequer perguntar antes. Lembra de quando eu quis acabar com tudo? Você estava lá e ainda me fez prometer que eu não tentaria me matar outra vez, não importa a maneira. É por você que eu estou vivo, Luhan. Pela única pessoa que eu sou capaz de suportar no meio desse mar de confusões que é a minha vida. A que alegra meu dia entrando pela janela do meu quarto e me contando coisas fúteis do dia a dia com um enorme sorriso no rosto. Escutei um baque no chão e pela minha visão periférica te vi em pé, me olhando enquanto eu refletia.
- Tenho notícias! - Você me disse. Mesmo sem ter te olhado, sentia o seu sorriso.
- Conte. - Falei sem te olhar ainda. - Outra discussão? - Sua voz estava suave e era reconfortante. Como um arco-íris depois da tempestade. O silêncio foi a minha resposta.
- Não é da minha conta, mas você precisa resolver sua vida, Sehun. Não pode ficar escondido para sempre! Viva sua vida como se fosse seu último dia! - Ótimo, você estava feliz de novo. Como consegue mudar de humor tão rápido? Tendo tantos problemas quanto eu, me surpreendo com a sua felicidade.
- Já disse que não quero, Luhan! Conte logo o que você veio contar porque quero ir dormir. - Falei qualquer desculpa para ficar sozinho, mas isso não funciona com você. Insistente como nunca vi igual. - Tenho que ir trabalhar amanhã cedo.
- Suas desculpas são tão ruins quanto sua noção de tempo. Estamos em dezembro! Faltando uma semana para a virada do Ano. Daqui a dois dias é Natal. Além do mais, você pegou o mês de férias mesmo contra a sua vontade, que eu me lembre. - Não estava bravo, mas sim sendo irônico. Aish! como você me irrita! Era um irritante bom, mas mesmo assim testava a minha paciência. - Vem, vamos dar uma volta. Veio até mim e tomou minha mão, me puxando até eu levantar. Então eu pude te olhar. Você estava bonito. Os cabelos castanhos estavam meio bagunçados e em contraste com uma touca vermelha. Sua blusa branca quase transparente estava coberta por um casaco grosso preto, seus jeans azuis iam de encontro à uma bota. Suas mãos, aquecidas por luvas, acabaram aquecendo as minhas também. Não falei nada, só peguei um jeans, uma blusa de manga qualquer e fui me vestir no banheiro. Tomei um banho rápido e quando voltei para o quarto, já pronto, você estava jogado na minha cama escutando algo bem alto nos fones. Mas mesmo com a música nas alturas, sentiu minha presença e abriu os olhos escuros, me encarando enquanto eu pegava uma touca e um cachecol. Você observava cada movimento meu até eu ir pegar as botas jogadas no canto do quarto e calçá-las. Saímos pelo mesmo lugar que você entrou e caminhamos em silêncio no frio de Seul, o que era estranho quando estávamos juntos. Fomos até um de meus lugares favoritos, que era uma pracinha no outro quarteirão. Desde que te contei muitos momentos da minha infância que eu passei lá, se tornou um lugar favorito para você também, pois existem memórias felizes gravadas naquele espaço, mas agora quase ninguém ia lá. Você se esparramou na neve, deixando sua marca, e encarou o céu cheio de nuvens. Não demorei e fiz o mesmo. Deitei ao seu lado e me permiti desejar congelar o tempo para sempre, com só nós dois sendo jovens para sempre. Eu não queria crescer.
- Meu pai voltou da China. - Me contou. Lembro de quando seu pai partiu para a China tentando uma oportunidade de emprego para melhorar a situação de vocês. Seus problemas nunca foram fáceis, por isso eu admirava a sua forma de lidar com eles. Sempre otimista e com fé de que tudo iria melhorar. Sua mãe ficou porque tinha um emprego que até então pagava bem e conseguia sustentar vocês dois. A distância de seu pai deixava a coisa toda frágil e complicada, mas a força sempre foi presente na sua família.
- E então? - Sentei e encarei seu rosto.
- Ele conseguiu um emprego bom e que paga muito bem lá na China. - "Lá na China?" - Eu estou indo embora, Sehun. Estou indo para a China com a minha família daqui a seis dias. Essa foi a primeira vez que eu vi o sorriso sair do seu rosto e ser substituído pela tristeza.

💡

6 Days | HunHanOnde histórias criam vida. Descubra agora