05h55min
Droga. Perdi a hora.
Levanto-me da cadeira de praia e começo a guardar o telescópio no baú junto com o mini banco que eu usei como mesa para comer pão na noite passada. Prometi para Kelly que não ficaria a madrugada inteira no térreo do prédio, mas acabei me distraindo com as cores do amanhecer, mesmo em São Paulo, onde o ar está infestado de fumaça, é possível ver as cores no horizonte, acima dos prédios.
Fecho o baú e empurro a cadeira de praia para dentro da estufa, que está junto com meus outros pertences. Coloco a mochila sob meu ombro direito e começo a descer os degraus para a saída, mas antes dou um último olhar para meu pequeno refúgio. Alguns dos pisos estão soltos, a estufa está quebrada, o pequeno lugar que consegui para que nos protegêssemos da chuva foi feito com lona que pegamos da piscina pública da cidade.
Começo a descer as escadas, abro a porta em que sei que há uma placa gigante dizendo "SOMENTE PESSOAS AUTORIZADAS" e saio em direção ao corredor enquanto me lembro da primeira vez que subi aqui.
Eu tinha dez anos, havia acabado de receber a pior notícia que meus pais poderiam me dar. Quero dizer, meus pais adotivos.
Entro no elevador e aperto o botão 15. Estou sozinha, começo a tirar a blusa de frio revelando meu pijama, coloco-o dentro da mochila. O elevador para, um homem alto, do 24° andar, solicitou-o. Ele entra, não nos cumprimentamos. Às vezes nós nos encontramos. Ele sabe que escondo alguma coisa, e é por isso que mantemos o silêncio.
Quando criei meu refúgio, não pensei que o utilizaria todas as noites, mas os pesadelos começaram a vir com mais frequência do que antes. Não dormi essa noite, nem a outra e nem sequer a anterior dessa. Vai fazer uma semana. Preciso me confortar toda vez que vou dormir, que serão apenas alguns minutos e que dessa vez não terei pesadelos. Minto para mim mesma uma vez por semana, é a vez em que me obrigo a deitar na cama. Respiro fundo.
20° andar, eu devia ter ido pelas escadas, sempre me torturo por pegar o elevador. Começo a mexer meu pé: para cima, para baixo, para cima, para baixo.
Esta noite vou dormir, se não amanhã desmaio por falta de energia, então Clara terá que se preocupar comigo de novo pensando que estou com anemia, e me fará comer beterraba a semana inteira, além de cortar meu estoque de chocolate.
Saio do elevador assim que ele abre. Não me dou ao trabalho de conferir se estou no andar certo, reconheço os corredores pelo qual estou correndo. Tiro a chave do bolso junto com meu celular. 06h03min o visor mostra.
Destranco a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível, fecho-a atrás de mim e acendo a luz da sala. Ouço a voz de Clara no quarto, ela já acordou. Escondo minha mochila atrás do sofá e corro para cozinha, tirando do armário as torradas e enfiando uma na boca.
— Pensei que estivesse dormindo, filha — ouço a voz sonolenta de Clara atrás de mim. Viro-me para ela com a boca cheia de torradas. — Acabei de acordar a Carol, então se quiser usar o banheiro...
— Já estou indo — digo terminando de mastigar a torrada e seguindo em direção ao banheiro para não ter que responder mais perguntas.
— Jenni?
— Hm? — digo me virando para ela e tendo que encarar aqueles olhos azuis que pareciam saber onde eu estava.
— Suas bochechas estão vermelhas, — toco com os dedos e reparo em como estão quentes — abriu a janela?
— É, é isso. Abri as janelas, queria saber se está frio lá fora — digo nervosamente.
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Crônica dos Snay 1: TERRA
FantasySINOPSE Jennifer é uma adolescente que acaba de descobrir que vêm de uma família da realeza e que esse não é seu verdadeiro nome. Agora terá que desvendar um mistério junto com a família Snay que veio de um planeta chamado Solarium! Como se não bast...