Primeiro dia de tortura

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BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Uma buzina. Bem criativo, Perla.

Coloco o travesseiro na cabeça para abafar o som. Não que eu estivesse dormindo, não, longe disso. Apenas segui o conselho de Hannagan. Ele já estava ficando impaciente com minha presença. Só que, ao invés de eu passar as próximas cinco horas deitada numa cama na qual eu sentia a madeira do beliche, passo esse tempo fuçando os baús que há no quarto.

Há muita coisa útil ali. E muita coisa que eu não faço a menor ideia de pra que serve. Consigo achar uma lanterna, ou bem, fazia a mesma atividade, a luz (na cor azul) sai de uma pedra que está enfaixada num cone fosco, e foi só eu chacoalhar para descobrir. Eu só não soube desligar, então deixo num canto embaixo de uma camiseta pra ninguém perceber.

Entre os objetos inúteis, uma caixa de madeira, não muito maior que minha mão aberta. Ao abri-la, tinha mais caixinhas de madeira, seis para ser exata, e em cada caixinha havia mais seis. Ou seja, milhões de mini caixinhas iam surgindo. Havia também um tubo rosa e, despejando um pouco do conteúdo, percebo a textura gosmenta e branca sair, não há rótulos. Tiro aquilo da minha mão antes que seque, é grudento.

As coisas úteis ou bonitinhas eu transferia para o baú mais próximo do meu, foram vários moletons e blusas de manga comprida. Não há nada de cortante ou pontiagudo em qualquer um dos baús. Eu procurei, duas vezes.

Como estou sem horas, fui me guiando pelo sol, isso quer dizer que de meia hora em meia hora —cronometrado mentalmente — eu saio da barraca e esgueiro-me para ver se a noite já dera lugar ao dia No fim, deito-me na cama correndo e finjo estar dormindo, com uma respiração ofegante, porque Perla acaba de se levantar, antes mesmo de o sol aparecer; e sem nenhum tipo de despertador. Fat levanta um tempo depois com a luz do sol entrando pela barraca. Não é uma luz tão forte, e ela quase me vê de olhos abertos.

Continuo de olhos fechados, até ouvir.

A buzina. Não faço ideia da onde tiraram essa ideia. Ankel foi a primeira a gritar, Perla colocou primeiro na orelha dela.

— Desliga, desliga isso! — Adhara berra e sai da cama, colocando a mão sob os ouvidos, e segue para longe da mira de Perla.

— Vocês tem meia hora para se arrumar — Fat anuncia.

Perla dá uma buzinada perto de mim e me seguro para não chutar seu rosto, apenas saio de baixo do travesseiro e me sento no beliche tentando fazer uma expressão de sono. Não sei se deu muito certo.

Adhara voltou a cair na sua cama com um grunhido, Ankel já havia voltado a deitar-se delicadamente sob seu travesseiro. Fat reforça o aviso e sai logo em seguida junto com Perla. Saio do beliche e deixo as duas continuarem dormindo e me dirijo para uma porta que não havia entrado ainda. É um banheiro. Fico feliz de poder tomar um banho.

Crônica dos Snay 1: TERRAOnde histórias criam vida. Descubra agora