Não sei quanto tempo vou ter,
Não sei se já é sexta-Feira ou natal.
Quem disse que a rotina é normal não entende do tempo
Aquele senhor sentado no banco da praça, sozinho
Com os olhos vazios, com os poucos fios brancos de cabelo que lhe restam
Mostram que o tempo não para
Sem lembranças dos amigos, dos sonhos nunca concretizados
Como um relógio cansado de rodar, de sempre fazer a mesma coisa,
Aguardando o dia em que os ponteiros vão falhar
E Ana olhando suas fotos antigas
Época de criança, onde o tempo era brincar e dormir
Mas o tempo é duvidoso
O tempo é cruel
Enquanto ela se vê nos retratos
Ela se esquece dos rostos de seus filhos
Ela se esquece do seu passado presente
Mas a dor não é tanta
Ela esqueceu a dor da rotina
Ela esqueceu do medo de não ser lembrado
E quando a visitam na clinica
É como se fossem apenas mais um rosto
Como se nunca existissem
Nada existe pra ela, não tente entender
E quando o medo, a solidão a invadem
Ana grita por sua mãe
Ela sente os antigos monstros saindo debaixo de sua cama
Os seus filhos continuam a vê-la
A cada dia, a esperança
A lembrança de um rosto
A lembrança de tê-los carregado no colo
Do primeiro dia de aula
De tê-los ensinados a ser gente
Mas o tormento continua
O tempo não é justo
O tempo não para
Ana está longe, bem longe
Com seu velho porta retratos de pessoas invisíveis
E como um relógio ela vai vivendo, passando, morrendo.