Capítulo III

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Por um instante eu achei que ia voltar para aquela droga de solitária.
- Ta tudo bem, eu só tô levando meu paciente pra sala dele. - Disse Pablo
- Hum tudo bem, se você achar o foragido tente levar pra um dos guardas.
- Tudo bem.
Pedro me levou em uma sala, la eu coloquei umas roupas dele e finalmente conseguimos sair. Ah! Nunca pensei que ver o sol fosse tão bom!
- Ufa, conseguimos sair. - Disse Pedro, eu olhei pra cara dele com uma certa insegura e disse:
- E agora? Eu não tenho pra onde ir.
- Você tem a minha casa, é claro.
- Não, você já me ajudou a sair de lá.
- E ainda posso continuar te ajudando.
- E se as vozes voltarem?
- Não vão voltar.
Fomos pra casa do Pedro, era como estar em território inimigo, mesmo ele tendo me ajudado eu não conseguia esquecer o que ele fez comigo. Ele me deixava a vontade lá, não precisava trabalhar, só descansar mas mesmo assim eu não ficava confortável.
Já tinham se passado 3 dias que eu saí do hospital mas eles nem se importaram.
- Bom dia!
- Eu, eu acho melhor eu ir.
- Não! Não é melhor você ir.
- Já faz alguns dias e..
- De qualquer jeito, ainda faz pouco dias, olha, você não precisa trabalhar.
- Eu nem sei porque você tá agindo assim comigo.
- É, é uma forma de ser seu amigo.
- Sabe, você não precisa tentar ser meu amigo porque você nunca vai conseguir.
- Você só podia parar de ser tão grosseiro.
- E você podia parar de ser tão... - fui interrompido pelo meu próprio desmaio.
Acordo olhando para o rosto de Pedro gritando pra mim.
- Allex? Allex? Você está bem?
- Aí aí, eu não sei oque aconteceu.
- Vem, se levanta.
- Eu, eu tô meio tonto, não consigo ver muito bem. - Ele estende a mão e me levanta.
- Eu não tô muito bem.
Começo a me debater, meus olhos começam a virar.
- Allex, oque está acontecendo com você!?
- Está tudo bagunçado.
- Mas, oque?
- Saia do meu caminho
- Allex, você tá muito estranho.
Empurro ele contra a parede, mesmo eu querendo fazer isso não era eu ali, eram as vozes.
- Eu preciso seguir as vozes - Digo eu pausadamente. Minha consciência volta, olho para o Pedro no canto da sala desmaiado, aí meu Deus, oque eu fiz?
Depois de algumas horas ele acorda.
- Pedro? Olha, me desculpa pelo que eu fiz, alguma coisa aconteceu comigo eu sei lá...
- Allex, é... eu acho que é melhor você voltar ao hospício.
- Q.. que? Como? Eu não posso voltar pra lá.
- Você tá estranho, você me jogou contra a parede, eu... eu não posso deixar que você fique por aí.
- Isso não é doença, isso foi o anjo que me tocou, eu sei disso.
-  Anjo? Isso é sua doença, você tem que ir ao médico
- Não, não é uma doença. Eu sei que não, olha, se você não quiser me ajudar tudo bem. Até por quê se você quisesse eu não iria deixar. Olhar pra sua cara me dá náuseas.
- AHHHH! Quanto tempo você ainda vai continuar me culpando por ter te denunciado? Já passou, eu já te ajudei, eu te deixei aqui...
- Olha, você não sabe como é difícil ter que conquistar sua própria mãe todos os dias, ter que ficar preso no seu próprio quarto depois de sair da cadeia, ter que viver uma vida que eu nunca pensei que viveria. - Saio sem deixar ele falar e bato a porta com força.
Ah! Estou livre, como assim ele queria que eu voltasse para o Hospício? Ele deve estar louco. Agora eu preciso achar algum lugar pra ficar até as vozes voltarem. Eu não posso voltar pra minha casa, acho que minha mãe nem está mais ligando pra mim.
Fui para meu antigo esconderijo dentro de uma casa abandonada, acho que estou fazendo uma loucura mas pelo menos eu não preciso ficar olhando pra cara daquele idiota. Consegui algum dinheiro antes de sair, pra comprar comida, mas não iria durar muito, tomara que essas vozes sejam rápidas, assim eu posso voltar a minha vida normal.
Passaram três longos dias e nada de vozes na minha cabeça, só tenho apenas 10 reais, eu não posso continuar esperando ela voltar, tenho que voltar pra casa.
Ouço barulhos na parte de traz da casa.
- Oque é isso?
Policiais chutam a porta do cômodo onde eu estava
- Ele está aqui, ele está aqui! - O policial grita para os outros.
- Allex! - Pedro vem correndo atrás de mim - Eu sabia que você estava aqui, afinal, você nunca muda. Olha, você vai voltar pro médico e vai ficar tudo bem, okay?
- Eu não preciso de medico. Eu já estou bem, as vozes já pararam.
- Você está em uma casa abandonada, sem dinheiro, sem roupas limpas, sem nada. Você não está bem.
- Eu... Eu juro! Eu estava voltando pra casa agora mesmo. Por favor, não me leva pra lá de novo.
-Desculpa Allex, depois do que você fez, eu não posso deixar você solto por aí.
Fecho os olhos, respiro fundo. Não posso resistir contra todos eles, tenho que me entregar. Vou para o carro, é uma viagem bem longa.
Olhando pela janela me deparei com uma lanchonete. Olho fixamente para ela e as vozes voltam:
- Siga, Siga, Siga...
Rapidamente olho para Pedro e digo:
- Pedro, podemos lanchar antes de ir pra lá? Eu tô morrendo de fome e a comida de lá é horrível, por favor, pela última vez.
Ele olha pra mim com raiva e diz:
- Tudo bem, isso porque você não foi rebelde na hora de vim. Então, quer comer aonde?
- Naquela lanchonete que acabamos de passar.
- Não, tem um ótimo restaurante ali na frente.
- Por favor, eu vi uma pizza lá que eu quero comer.
- Hum, tudo bem.
Chegando lá as vozes voltaram
- Siga, Siga, Siga...
Isso não é uma doença, com certeza não.
Chegando lá as vozes pararam totalmente. Nos acomodamos.
- Garçonete - Disse Pedro
- Olá, bem vindos a Lancheteria dos Vales, oque desejam? - Disse a Garçonete
- Eu quero um pastel e você Allex?
No momento em que eu olho para a Garçonete as vozes dizem:
- É ela.
Meus olhos ficam arregalados e eu digo:
- As vozes disseram que é... - sou interrompido por ela, completando minha frase:
- Você, elas também disseram isso pra mim.

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