- Alguns podem me chamar de louco, outros podem falar que eu não tenho nada pra fazer, alguns podem até mesmo acreditar, mas eu sinto que alguém pode se comunicar comigo telepaticamente. - Foi isso que eu disse para a polícia antes de rirem da minha cara.
Desde pequeno eu me achei alguém especial, alguém acima da lei, alguém que podia mandar em todo mundo. Até que eu cheguei na adolescência e fui preso por vender de drogas. Ver minha mãe chorando por ter finalmente me encontrado depois de dois longos anos, e ainda preso me fez repensar sobre quem eu era, que eu não era acima da lei, que eu não era tudo isso. Minha mãe me visitava na cadeia toda vez que podia, eu jurei pra ela que ia mudar... e mudei, agora eu tenho 26 anos e sou uma droga de um entregador de panfletos de um curso estúpido de informática.
Ser ignorado na rua por todos é uma droga, ficar nesse sol andando atrás das pessoas é uma droga, ser eu é uma droga. Eu podia voltar a vender drogas mas deixaria minha mãe triste de novo. Ainda moro com minha mae no porão, não tenho nada, 3/4 do meu salário são para ajudar a casa e o resto é pra colocar cash nos meus jogos online, eu não saio, eu tenho namorada ou namorado, eu não tenho vida social.
- Allex, eu já não mandei você arrumar a sua cama? Olha, você tem 26 anos e eu não vou viver pra sempre pra arrumar sua cama não! - Disse minha mãe
- Tá, Tá. Depois eu arrumo
- Não, arrume agora, ao fica nesse joguinho aí, pause ele é venha arrumar
- Mas ele é online não da pra pausar
- Saia já desse "Linge ofe Lejen" e venha arrumar a sua cama!
- Mas que droga!!! Eu preciso sair - saio de casa batendo a porta com toda a força.
Minha mãe ainda me trata como uma criança, porém uma criança má. Ela diz que eu preciso sair, fazer amigos, porém ela "Rouba" mais que a metade do meu salário. Eu também acho isso, só tenho amigos online, uns moram lá na Bahia, outros em fortaleza. Eu queria conhece-los, mas meu orçamento não permite.
Chegou a segunda feira, dia de trabalhar de ser ignorado.
- Bom dia senhor, toma aqui um panfletinho do curso profissionalizante de Informática, o curso VEC, levando esse cupom você pode ganhar um desconto na compra dos materiais, o curso fica logo ali virando a esquina, tudo bem? Vai lá! -
Sinto alguém se aproximando atrás de mim.
- Allex? E pra mim? Não vou ganhar nenhum descontinho não? Eu quero um desconto especial!
Deixo todos os meus panfletos caírem no chão com os olhos arregalados. Era o Pedro, o cara que contou à polícia que eu vendia drogas, ele era meu parceiro nas vendas, mais que um parceiro, nos namorávamos quando eu era gay, ou bi, ou sei lá, eu só queria ser popular. Ele contou tudo pra policia e fez com que eu fosse preso e ele não.
- Pedro? Você não merece nenhum desconto, nem mesmo estar aqui.
- Ah como assim? Pelos velhos tempos, olha eu tô precisando fazer um curso de informática e se vc não me der um desses panfletos ai eu posso ir lá no lugar onde você trabalha e te denunciar de negligência. Oque você acha?
Peguei todos os papéis do chao, olhei pra ele com uma cara feia e comecei a explicar sobre o curso.
- Você ta acabado, não se cuida mais, não cuida do cabelo. Oque aconteceu? - Disse Pedro
- Você não queria o panfleto do curso? Ta ai, agora vai embora.
- Calma, eu só queria saber oque aconteceu.
- Sabe oque aconteceu? Eu fui preso! Isso aconteceu, depois disso minha vida foi totalmente mudada, era como se eu estivesse voando bem alto e de repente fui apedrejado, e a pessoa que me apedrejou era ninguém mais que a pessoa que eu mais amava. Isso aconteceu, agora vai embora porque eu tenho que trabalhar!
Ele olhou pra mim com seus olhos arregalados, virou as costas deu alguns passos e desmaiou.
- Pedro? Pedro, oque aconteceu?
Olho em volta e todos desmaiando. O céu ficou avermelhado e uma luz azul marinho começou a descer em minha direção, eu corri pro lado oposto até que eu fui empurrado contra uma parede. Oque era aquilo? Era uma pessoa? Era um anjo? Um demônio? No meio daquele azul eu via seu rosto, ele tentava me tocar na testa, quando ele conseguiu eu finalmente desmaiei.
Acordo no dia seguinte, em cima da minha cama com minha mãe gritando dizendo que eu já estava atrasado pra meu emprego.
- Meu Deus! São 11 horas!
Me arrumo correndo, porém, me pego pensando: Será que aquilo foi um sonho? Afinal eu acordei numa quarta feira e não em uma terça.
No trabalho Pedro estava de novo lá, ele me chamou como se fossemos amigos ou sei lá.
- Oi. Tudo bem?
- Não, pera! Eu quero te perguntar uma coisa.
- Pode dizer.
- Você me encontrou nessa segunda?
- Sim, porquê?
- Oque aconteceu? - Ele olhou pra mim com um sorrisinho no rosto e disse:
- Eu vim aqui te chamei, fui um pouco grosseiro com você no início, mas foi porque você foi comigo também, você me explicou sobre o curso, eu perguntei sobre um descontinho, e você ficou bravo e falou que estava voando e que foi apedrejado, aí eu fui embora, você foi correndo atrás de mim e pediu desculpas, eu olhei pra você e pedi desculpa por ter te mandado pra cadeia, aí eu te dei meu número de telefone e fui embora. De noite você me ligou e nos conversamos a noite toda.
- Que? Como assim? Claro que não! Você estava indo embora e desmaiou, daí todo mundo desmaiou e... chegaram uns anjos, ou sei lá e me tocaram. Aí eu acordei hoje.
- Mas isso foi segundo. E ontem? Pera uns anjos?
- A gente se encontrou ontem?
- Não, ontem eu não falei com você? Como assim eu desmaiei e chegou uns anjos?
- Eu tô falando chegou uns anjos e outra eu nunca iria atrás de você pedir desculpas, você que me deve desculpas, você que me denunciou.
- Pera, se você tá arrependido de ter se desculpado você não precisava inventar uma história tão idiota assim!
- Eu não pedi desculpa pra você, Você nem merece isso, você é um lixo!
Ele olhou pra mim com seus olhos cheios de lágrimas e disse:
- ME DESCULPA, OKAY? Os policiais disseram que iriam te poupar da prisão. A mim e a você, eu não aguentava mais te ver com aquele bando de maconheiros estúpidos, depois que eu fiz aquilo e vi que não iriam te soltar eu me senti a pior droga desse mundo. Eu só queria te proteger!
- Pois é, me protegeu, me transformando em um entregador de panfletos pra um curso idiota.
Ele se virou novamente e foi correndo embora, eu olho pro outro lado é dou de cara com o meu chefe.
- Então, você anda maltratando nossos alunos?
- Eu, eu não. Calma
- Ele é um de nossos novos alunos, que se matriculou nessa segunda.
Um barulho de buzina soa logo antes de um de batida, era Pedro.
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PertualanganTalvez eu esteja louco, talvez eu possa ter alguma doença ou sei lá, talvez seja verdade. É meio louco oque aconteceu comigo, o que pode ser essas vozes na minha cabeça?