Havia

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  Havia uma menina. Pequena e frágil. Sempre a via no caminho de casa, minha mente se enchia de perguntas sobre o que ela sentia e pensava...Certo dia a encontrei chorando. Não me segurei e fui lhe perguntar o porquê de tanta angústia em um corpo tão pequeno, mas que por algum motivo, parecia inquebrável. Ela me olhou no fundo dos olhos e disse: "Estou chorando porque tiraram tudo de mim. Minha imaginação, minha felicidade, e minha alma." Pasmo com essa resposta, enxuguei suas lágrimas e disse que não precisava mais chorar. Ela me perguntou o porquê, e eu lhe respondi com calma e sinceridade: "A alma, com o amor, retorna. A felicidade, nem sempre te abandona, e a imaginação... Bem, ela é o que mora na mente de cada um, ela faz quem você é e quem você quer ser." Peguei a menina em meus braços e a levei para casa; chegando lhe apresentei a toda a minha família. Me olhavam com olhares intensos e surpresos, cochichavam mas não disseram nada. Levei a menina para o novo quarto dela, contei-lhe uma história e fui dormir.Acordei no dia seguinte, ansioso para ver minha nova menina. Ela não estava mais lá. Perguntei pra minha família e eles não sabiam exatamente do que eu falava, estavam cegos... Perdidos. Logo após, fui ao banheiro, pensar onde a pequenina estaria. Olhei por toda a casa, até que me deparei com uma imagem diferente refletida no espelho. Era idêntica a menininha. Sorri, e fui em direção a ela, não entendendo completamente aquilo.Analisei aquela imagem e vi que não era uma menininha, aquela menininha, era apenas... Eu. Eu me via daquela forma. Meiga, doce, e fraca, mas inquebrável – ou pelo menos queria ser. Eu era um menino, com o sonho de ser uma menina com longos cabelos louros, idealizando cada detalhe, cada toque, cada palavra que poderia conter nela. Queria ser ela, ou outra pessoa, porque de alguma forma, eu estava sem alma, sem imaginação, e sem felicidade.  

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