Electi

Shay

Ugh! Quem aquele molenga pensa que é?!
Era só o que me faltava... um idiota tentando entrar pra alcatéia. "Futuro alfa", ele vai ver só se tentar fazer alguma merda...
Vou quebrar aquele nariz e colocar para fora apenas com um soco, rasgar pele por pele até o sangue se esvaziar totalmente e... Droga Shay!
Tenho que parar com isso de ameaçar as pessoas, prometi a Miguel que pararia.
- Shay, é você filho? - voltei dois degraus e dei o meu máximo em um sorriso para a minha mãe que largou a roupa do varal e correu para me abraçar - Seu pai foi caçar e eu... bem... seu irmãozinho - ela colocou a mão na barriga gigante -,me deixou morta hoje.
Dei um risadinha, mamãe é meio maluca. Normalmente as mães odeiam quando passa do por do sol e as roupas no varal ficam geladas, mas a minha mãe não liga com isso, nunca liga com nada a não ser em fazer as pessoas rirem.
- Tudo bem!
Eu estava voltando para entrar em casa até ela me voltar.
- Não escultei direito... Oh, sim, é claro que meu filho querido pode recolher as roupas do varal, não vai ser nenhum incômodo para mim.
Esqueci de informar que ela adora me fazer de trouxa e fazer os outros rirem as minhas custas.
- Que tipo de mãe é você?
- O tipo de mãe lobisomem!
Senti meu corpo tremer naquela hora e mesmo já longe escutei suas lágrimas, era a sétima gravidez dela e apesar de tudo não queria abortar e se manter longe do sofrimento de perder mais um filho. Queria sentir a sensação de carregar um ser dentro de seu ventre por 9 meses só para que quando desse a luz ele nascesse morto.
Estou farto disso, de ver nossas mulheres chorando por nunca conseguir ter mais que um filho, por sempre perderem seu bebê... e tudo causado por uma maldita maldição.
Senti o peso em "ser mãe lobisomem" pois sou um filho de mãe lobisomem e acompanho suas lágrimas como o tempo, odeio a ideia de que minha parceira provavelmente vai ter depressão em algum momento da vida por simplesmente não conseguir gerar um filho "bom", odeio!
Odeio Bronx e toda aquela corja de vários anos atrás, odeio ter que pagar por um erro que não cometi e odeio ter que resistir a Suzy quando não quero.
Terminei rápido de juntar as roupas, dobrei e guardei, comi um jantar requentado e assisti um filme meloso junto a minha mãe.
A coloquei em sua cama quando adormeceu, toquei em sua barriga e chorei.
- Sinto muito!
Era a voz do meu pai na soleira da porta, seus olhos estavam amedrontados como nunca estavam na presença dela.
Eu sei o motivo, ele não aguenta ver sua mulher sofrer.
- Vá dormir, Shay, vá logo e descanse.
Não fiz o que disse, sai para a noite, sai para a cidade pilotando minha moto e cantarolando alguma melodia antiga de algum disco arranhado do ancião.
Primeiro freqüentei uma balada, beijei uma ou duas garotas e não era eu, era o eu que visto quando estou me distraindo, depois bebi algumas doses mesmo sabendo que não iria ficar bêbado... Genes de lobo idiota!
Segui caminho até a casa da Suzy, estacionei duas casas antes e subi em seu telhado, a observei dormir em sua cama tranquilamente.
Como sempre suas coisas estavam bagunçadas, calcinha na maçaneta, calça largada no chão, óculos jogado entre livros, resto de comida nos lençóis, um livro aberto e manchado por café, uma meia presa em seu notebook e outra na persiana aberta da janela, gavetas abertas e bagunçadas e uma garota linda na cama, o cabelo como seu quarto, o corpo nu metade coberto e metade não, seus lábios estavam entreabertos, sua testa franzida e seu corpo frio.
Passei uma perna de cada vez e entrei em seu quarto, a cobri por completa e expulsei umas roupas de cima da cadeira mais próxima, me sentei e comi uma fatia de pizza única na caixa.
Adoro essa bagunça, queria acordar todos os dias com seus roncos, arrumar tudo que bagunçou e brigar com ela quando estivesse de saco cheio de toda a sua merda de organização só para a beijar e voltar a limpar.