Capítulo 22

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   Hoje eu acordei com a mínima vontade de levantar da cama, não sei se vou conseguir sustentar as frágeis barreiras que eu construí no decorrer da noite contra ele, mas eu não posso me trancafiar neste quarto e esperar que a dor que eu sinto desapareça do nada, preciso seguir com a minha vida, mesmo que seja sem ele.
Saí de casa sem nada no estômago, com certeza se eu comesse não ficaria por muito tempo. Estacionei o carro e fui direto para o meu armário, preciso pegar um livro antes de ir para a aula.

- Bom dia anjo.

Essa voz... Meu coração acelerou, mas logo se conteve quando lembrei das coisas que vi ontem, tais que me fizeram derramar tantas lágrimas. Eu fechei o meu armário e vi o Will com o braços cruzados sobre o peito e encostado sobre outro armário.

- Bom dia - falei desanimada.

Ele avançou para me beijar, mas desviei, ele me olhou confuso e eu busquei a solução mais rápida para sair dali.

- Estou atrasada, tenho que ir.

Saio andando sem olhar para trás, sei que quando eu o estiver ignorando, ele vai pedir uma explicação, mas eu não quero essa conversa agora, deixarei as minhas barreiras levantadas o máximo que eu puder e para isso ignorá-lo será a minha melhor opção.

   Estou à caminho da minha última aula e ao encontro de Will. Sento no lugar de sempre e em poucos minutos Will chega e senta ao meu lado, tento não manter contanto visual.

- O que está acontecendo com você? - ele pergunta.

- Nada.

- Então, olhe para mim.

Está sendo difícil até olhar em seus olhos azuis que eu tanto admirava, mas como não seria depois de ser traída? Mas eu preciso fazer isso. Levanto o meu olhar e vejo a enorme confusão em seus lindos oceanos.

- O que aconteceu Melyssa? Eu sei que você está me escondendo algo, me conte!

- Não é o momento - apenas falei.

Foi difícil me concentrar com o Will me observando a aula inteira, estava prestes a botar tudo para fora quando chegou o fim da aula. Estava quase saindo quando Will puxou o meu braço e esperou todos saírem para que possamos finalmente falar.

- Me conte Melyssa. Cristo, isso está me deixando louco!

Não tem maneira mais fácil de dizer isso, engulo o nó que se formou na garganta e tomo coragem para falar.

- Quero você longe de mim, não me toque, não me olhe, não me dirija a palavra.

Sinto o seu aperto afrouxar ao redor do meu braço e a confusão aumentar em seus olhos.

- Mas o porquê disso?

- Sei muito bem que havia uma garota em sua cama ontem, eu mesma vi.

- Você esteve na minha casa ontem?

Eu sorrio ironicamente e puxo o meu braço para que ele não me toque mais.

- Por isso você não esperava. E que fique bem claro que outras coisas aconteceram para que eu mudasse de ideia.

Eu pego as minhas coisas e atravesso a porta segurando as lágrimas.

Narrado por Will

   Cada palavra que saiu da boca da Melyssa foi como se meu coração explodisse quatrocentas vezes, o vazio que existe agora é inexplicável. Mas o que eu não consigo entender é que ela estava na minha casa na maldita hora em que a America estava tentando me seduzir, como ela chegou lá, ou como ela sabia a hora exata que a America estava no meu quarto? Aliás, o que ela quis dizer com; "Outras coisas aconteceram para que eu mudasse de ideia."?
Inferno!
Se não fosse o faxineiro que mandou eu me retirar da sala, com certeza eu teria descontado toda a tristeza nas carteiras.
Vou até meu carro e dirijo para o lugar onde eu posso colocar as minhas ideias no lugar e pensar em uma solução para que eu consiga falar com a Melyssa calmamente e esclarecer todo esse mal entendido.

Quando chego no bosque, me dirijo até onde fica o antigo balanço que desde menino me ajuda com os meus problemas, mas de longe vejo o leve balançar de cabelos ruivos ao vento, longas e bonita pernas e a parte que mais me doi é ver lágrimas escorrendo do delicado rosto de Melyssa. Fico por alguns minutos observando-a e finalmente resolvo me aproximar.

Narrado por Melyssa

   O primeiro lugar que me veio a memória para me refugiar foi o bosque, sei que este lugar "pertence ao Will", mas desde o primeiro dia que vim aqui me senti confortável e segura. Sentei no balanço em que um dia já estive com Will e deixei as lágrimas correrem pelo meu rosto, o que acalmava o meu coração era o movimento de vai e vem do balanço, mas ele volta a acelerar quando vejo o Will vindo em minha direção, levanto do balanço e vou para o meu carro que está ali perto, escuto passos vindo por trás de mim e sinto a mão do Will envolver o meu braço e me puxar para perto dele, a expressão no rosto dele é de tristeza, sua mão passa do meu braço para o meu rosto o qual acaricia, por um momento me dou o direito de me aconchegar em sua carícia, ele me puxa para mais perto do seu corpo e os seus lábios roçam nos meus, ele aprofunda o beijo e sua língua pede espaço na minha boca, milhões de sentimentos passam por mim, mas o que prevalece é a mágoa de ter visto aquela cena do Will beijando a tal garota. Eu o empurro para longe e olho em seus olhos.

- Eu te odeio Will, te odeio!

- Melyssa, me deixa explicar o que aconteceu.

- Você não precisa explicar nada! Eu vi tudo o que eu preciso saber.

- Não, você não sabe de toda a verdade!

- Basta! Eu quero você bem longe de mim.

Eu viro e em passos largos vou até o meu carro.
Depois que saí do bosque peguei a rodovia e fui à mais de 100 km/h, só quero chegar em casa e me livrar de tudo o que me lembra o Will. Mas de repente, quando tento ultrapassar vejo um carro vindo de encontro ao meu e em fração de segundos tudo fica escuro...

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