{Alyssa}O sol reluzia em uma praça do Acampamento Júpiter enquanto Trish e eu conversávamos. Na verdade, não era bem uma conversa: se parecia mais com um monólogo. Trish, animada, falava sobre como ela estava se sentindo naquela manhã particular, enquanto eu a ouvia, pacientemente. Embora ela fosse meio extrovertida e animada demais pra mim, eu gostava de ouvir minha irmã falar.
- Você acha que ganharia de mim em uma corrida até aquela estátua? - ela diz, com uma cara pensativa.
Eu adoro correr. Amo a adrenalina que me impulsiona pra frente, o barulho dos meus pés batendo no chão, o vento raspando pelo meu corpo como uma navalha. Sou boa correndo, mas não estava no clima de competir, ainda mais com ela àquele ponto do dia. Sendo filha de Éos, ela ficava ligeiramente mais forte na manhã, assim como eu, sendo filha de Latona, ficava mais forte ao anoitecer.
Todos no acampamento dizem que é praticamente um milagre nos darmos tão bem, já que eu e ela somos filhas das deusas do anoitecer e amanhecer, duas ideias praticamente opostas. Além disso, ela é filha da versão grega enquanto eu sou filha da versão romana, e dizem por ai que há um tempo os semideuses gregos e romanos tinham uma rixa muito poderosa. Mesmo assim, crescemos juntas e, embora discutíssemos de vez em quando, as brigas nunca eram muito intensas.
- Nhé, não to afim não.
Ela bufou exageradamente e riu, dizendo que eu sempre era mal humorada de manhã.
Não me dei o trabalho de responder, só sorri com o canto da boca. De repente, Abel, um dos nossos amigos, se aproximou de nós e se sentou na grama da praça, do nosso lado.
- E aí, gente? Tudo bem?
Ele era filho de Pothos, o deus do desejo, mas eu nunca afirmaria isso se não soubesse. Os filhos de Pothos são conhecidos por serem traiçoeiros, sempre levando você a cobiçar algo ou dar a eles o que querem, enganando as pessoas. Abel, pelo contrário, era uma das pessoas mais bondosas que eu já conheci. Ele tinha a mesma aura de todos os seus irmãos, que fazia você "ansear por aquilo que você mais deseja", como Trish brincava de vez em quando, mas era fraca. A bondade dele transbordava e meio que ficava por cima da aura. Nós três formávamos um grupo meio estranho: duas irmãs que nunca deveriam se dar bem, mas, surpreendemente, são bem amigas, e um garoto que não cumpre de forma alguma o padrão de personalidade de seus irmãos. Uma extrovertida, outro pacífico e a outra misteriosa.
- Vou bem, e você, Bel? - diz minha irmã, se arrastando pro lado para ele poder sentar.
- Vou ótimo. Eu ouvi dizer sobre uma guerra influenciada por meu pai e Ênio, de novo...
Bocejo, cruzando meus braços e observando os semideuses na praça. Ênio é a versão grega de Belona, a deusa das guerras sangrentas e das chacinas. Se pensarmos bem, esses deuses estão muito relacionados, já que o desejo, normalmente, é o principal motivo das guerras: desejo por dinheiro, por terras, por poder e muitos outros. Então, me pronuncio:
- Abel, isso está sempre acontecendo. O conflito é formentado pelo desejo e alimentado pela guerra, de forma que os dois sejam extremamente influentes juntos. O que tem de novo?
Antes de ele começar a falar, percebo que sua testa está franzida, e ele parece um pouco preocupado.
- Acontece que Harmonia se envolveu, eu acho. Ela podia estar cansada das guerras sendo formadas pelos dois, e podia querer parar com aquilo tudo, não sei... Enfim, depois disso, os filhos dela começaram a se comportar de um jeito estranho, a ficar meio irritados ou até um pouco paranoicos -
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Adversus
Fantasytrês semideuses filhos de deuses menores se juntam para ajudar uma deusa menor ainda - e acabam se envolvendo mais do que gostariam. (feita pra gincana de PJO/HDO e escrita junto com Tiago Adulis)