Heróis também morrem

12 0 2
                                    


[escrito por TiagoAdulis ]

{Trisha}

— AAAAAH! —  eu gritei, com todo meu fôlego.

A sensação de voar, como sempre, era maravilhosa. E libertadora. Tão libertadora como comprar roupas e mais roupas sem se preocupar com o preço. Eu rodopiava pela noite, como uma estrela cadente: minhas asas brilhavam nos seus tons vibrantes, reluzindo e iluminando uma grande área à minha volta. O vento que invadia minhas narinas era gratificante: o cheiro do mar mediterrâneo, unido ao aroma silvestre das ilhas gregas.

Me sentindo mais livre do que nunca, olhei para baixo. Em alta velocidade, inúmeras ilhas de diferentes tamanhos, entrecortadas por bosques, vilas e praias, passavam por baixo de nós, como que boiando sobre o profundo azul do "mare nostrum". Próximo a uma pequena vila, uma plantação de oliveiras se erguia em uma ilha. No topo de um monte verdejante, ruínas milenares de um templo grego se debruçavam sobre o mar. Aquela era a Grécia.

— ISSO... É... TÃO BOM!!! — gritou Ab, que gargalhava enquanto tentava fazer piruetas no ar, voando a alguns metros abaixo de mim.

Lys riu e, mergulhando no ar, se aproximou de mim. Sorri para ela. Minha irmã, a filha do anoitecer, também podia voar. Orgulhosa, observei suas asas: escuras como a noite. As asas de Alyssa eram de um tom profundo como  a madrugada, e em meio à penumbra, era quase impossível distinguir o que era o céu noturno, e o que era suas asas. Mais do que nunca, eu e ela estávamos unidas. Conectadas. O amanhecer e o anoitecer: opostos - mas dependentes. Naquele momento, enquanto planávamos sobre os arquipélagos gregos, éramos duas pessoas completamente diferentes - e éramos uma só ao mesmo tempo.

---

Abel se virou para mim, sorrindo, se divertindo enquanto rodopiava com suas asas.

Estávamos conversando sobre o que iríamos fazer - afinal, estavamos a milhares de quilometros da Rússia, ir voando o caminho todo até lá não era exatamente uma opção.

— Daqui a pouco será dia, e Lys, não temos certeza se suas asas funcionam tão bem na luz da manhã... E Ab, também não sabemos se suas asas funcionam para sempre. Então acho que pegarmos um avião para voltar para São Petesburgo é a melhor opção — ri, enquanto os tons metálicos e vibrantes de rosa, roxo, amarelo, verde e azul de minhas asas refletiam nas asas de Abel.

— Verdade — Alyssa falou. — Melhor assim então.

Peguei meu celular, conferindo o GPS. Após anos voando, mexer em um iPhone ou ler um livro enquanto voava não era um problema... Estávamos chegando à Atenas.

Ao longe, no extremo leste, o primeiro indício do amanhecer surgiu. No horizonte, uma pequena faixa de azul mais claro surgia, começando a apagar o azul marinho da noite. Aos poucos, o tom do caloroso laranja do amanhecer surgia, para se expandir, trazendo o sol e cobrindo o manto da noite. De repente, eu me senti muito mais feliz - e muito mais forte. Minhas asas começaram a brilhar mais.

Aquele era meu momento: o amanhecer, a aurora. Quando Éos, minha mãe, anunciava o fim do turno de Selene, e o começo do de Hélio, trazendo consigo as luzes do dia e o calor do alvorecer, e levando as estrelas e a escuridão da noite.

Avistamos Atenas. O sol ainda não havia nascido, mas já era possível ver melhor do que antes. A cidade portuária era magnífica: o berço da democracia e de tantas outras coisas, o centro do mundo helênico e da deusa da sabedoria, Atena.

Sobre um imenso maciço rochoso, a Acrópole se erguia: mesmo após milênios, triunfante e majestosa. Com seus inúmeros templos na encosta do rochedo, a Acrópole era o centro da capital grega. E, no seu topo, o magnífico Pathernon coroava a cidade, mesmo 2 mil e tantos anos depois. Eu segui na frente, guiando Abel e Alyssa para o nosso pouso. Acelerei, já que o amanhecer estava chegando e talvez as asas de Lys só funcionassem no escuro. E então pousamos sobre o enorme Pathernon, no topo de uma coluna. Bel e minha irmã pousaram ao meu lado.

AdversusOnde histórias criam vida. Descubra agora