Kefalonia, o buraco sem saída

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{Alyssa}

Ainda estava gritando do escorregador quando atingi o duro chão de mármore, e praguejei quando senti uma leve dor no meu tornozelo com o impacto.

Olhei em volta. O lugar em que estávamos definitivamente não parecia com uma caldeira ardente, e sim com um grande aposento. O belo chão de mármore branco se estendia até paredes altas, tão negras quanto obsidiana. Não tinha janelas, de forma que o lugar fosse abafado e escuro e havia poucos móveis, formando um amplo espaço no local. Uma cadeira mais parecida com um trono se posicionava no centro da sala, e uma figura feminina se encontrava sentada nela, e meus olhos se estreitaram ao identificar quem ela era.

- Que lugar... escuro e... e frio - disse Trish, envolvendo o corpo com os braços para se proteger do ar gélido.

Ela sorriu, virando a cabeça na direção da minha irmã, e disse:

- E o que você esperava? Não estamos em Kefalonia, aqui é a Rússia - Sua voz era ríspida e agressiva, e suas palavras soavam como punhos esmurrando meu cérebro.

Nunca havia encontrado Ênio na minha vida, mas presumi que é assim que alguém se sente quando está na presença de uma deusa tão violenta.

Ela exalava uma aura de agressividade muito intensa, que me fazia querer esmurrar o objeto mais próximo e gritar até que meus pulmões deixassem de existir. Quando virei, vi que Trish e Bel também se esforçavam para lutar contra a influência.

- Era... fogo ali atrás - disse Abel.

- Ah, claro. A Sra. Matriska gosta de assustar os... visitantes e, sendo filha de Hécate, consegue criar certas ilusões. Agora, o que vocês estão fazendo aqui?

Eu realmente não esperava que a líder de uma das máfias russas fosse uma semideusa, ainda mais uma semideusa velha. O que é raro, mas pode acontecer, não sei, se você se esconder a vida inteira, ou for forte o bastante para sobreviver aos monstros.

Julgando pela aparência saudável e fria da velha senhora, creio que a segunda opção fosse a mais provável.

Eu sentia muita raiva por conta da presença de Ênio, era como se meu corpo desejasse destruir tudo e todos que estavam á minha volta. Dessa forma, decidi concentrar minha ira na figura da deusa. Já ia respondê-la, mas minha irmã falou antes:

- Viemos ajudar a uma deusa, mas definitivamente não a você.

A voz dela estava carregada de ira também, coisa que eu não estava acostumada. Até me assustei, de certa forma.

Uma risada fria reverberou no salão e meu corpo arrepiou com o som, forte e estrondoso.

- Como, pequena semideusa, você ousa me desafiar de tal forma? - De repente, um brilho de perversidade passou pelos seus olhos cor de âmbar, como se uma ideia tivesse aparecido em sua mente - Já sei como vou matá-los.

Sim, ela falou exatamente isso. A deusa fechou seus olhos por um instante e um leão gigantesco e feroz apareceu a uns 15 passos de nós, perto dela.

Abel deu três passos pra trás. Eu conseguia quase sentir o medo e a raiva em seus olhos, e a força com que ele sentia esses sentimentos. Uma forte aura emanava dele. A cada segundo eu sentia mais vontade de sair daquele lugar, de escapar daquele leão.

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