Eu estava de castigo por ter chutado meu irmão mais velho e feito birra, estava chateada por termos saído do Japão sem despedidas, e agora eu estava em um país a qual não entendia a língua e os costumes.
Dezesseis anos atrás meu pai (Shinji Sousuke), um professor de Biologia da Universidade de Kyoto conheceu minha mãe (Mirella Bezerra), uma brasileira que visitava a família em sua cidade, em um shopping quando ela esbarrou nele após ter se perdido do primo que lhe mostrava o lugar. Foi amor a primeira vista e eles se casaram um ano e meio depois desse encontro.
Meus pais e irmão estavam na sala de jantar provavelmente jantando, eu não me importei, sabia que por mais bravo que meus pais estivessem, meu irmão surrupiaria algo da cozinha para mim comer, era sempre assim.
Sandro era 4 anos mais velho que eu, e era o tipico irmão arengueiro, e por isso vivia me perturbando, mas ele não conseguia me negar nada (já que eu perturbava mais). Então me obriguei a parar quieta por alguns segundos e esperá-lo debruçada na cama curtindo o tédio, já que não podia ligar a tv nem jogar no celular (meus pais o tomaram).
Tudo ocorreu muito rápido e até hoje os detalhes daquela noite se embaralham em minha mente, mas algo ou melhor alguém, está bem nítido em minha memória. Lembro de ter escutado uma enorme barrulheira e um grito da minha mãe seguido pelo do meu irmão, lembro de descer as escadas correndo e de ter entrado na sala de jantar com tudo, o sangue no chão aumentando gradativamente, sangue esse que escorria do corpo sem cabeça de meu pai, e a espada ainda empalando minha mãe, empunhada pelo garoto de cabelos negros em pé a sua frente, que por um instante cravou os olhos vermelhos em mim.
Acordei em um hospital assustada e não entendia nada do que me diziam, e só depois de algum tempo (com a ajuda de um tradutor) me explicaram que assim como meu irmão eu tinha desmaiado pelo choque, o que era bem compreensivo para uma garota de 9 e um garoto de 13 anos que viram seus pais serem mortos brutalmente.
Minha tia Fabiana, irmã mais nova de minha mãe foi a única a se oferecer para cuidar de nós, e para isso ela teve de largar a faculdade de moda e começar a trabalhar como caixa em um grande supermercado, fazendo dezenas de horas extras. Não posso mensurar a sua coragem de criar duas crianças que não eram suas, e acima de tudo, não falavam sua língua.
Eu nunca falava sobre a morte de meus pais, e sempre que me perguntavam eu dizia não lembrar do que tinha ocorrido, fazendo assim com que a psicologa dissesse que o choque apagou minha memória. Eu tinha medo de que aquele demônio pudesse vir atrás de mim, e tinha pesadelos a noite com isso. Sem falar que se eu sabia, mesmo com minha tenra idade, que se contasse o que vi, todos me achariam uma louca, e eu provavelmente teria de fazer anos de terapia.
Sandro nunca se recuperou pela morte de nossos pais, e jurou vingança a quem os tinha matado (já que a policia nunca acreditou que um garoto assassino pudesse ter matado nossos pais), e passou a investigar sozinho o caso. Menos de um ano depois meu irmão foi encontrado morto numa "briga" de boate, a qual ele jamais frequentará, pois nunca gostou de música alta e por influência de nosso pai preferia as de nosso país.
Tia Fabiana ficou assustada com algo durante o enterro de meu irmão, e me colocou dentro de seu carro, dirigiu com tudo, mesmo assim eu sabia que ela era uma boa motorista e não me importei, pois como ela, eu tinha conhecimento de que algo estava muito errado, então do nada um carro atingiu a lateral do nosso nos jogando para fora da BR. Por sorte não sofremos nada grave, mas ambas estávamos convencidas de que algo estava muito errado ali, então resolvemos nos mudar sem chamar a atenção. Pegamos só o básico e esperamos anoitecer, trocamos de táxi 3 vezes, e chegamos na rodoviária de madrugada, resolvemos não pegar um ônibus e fomos de alternativo até o estado vizinho (eles não pedem documentos), de lá seguímos viajando assim, até chegarmos na casa de uma ex-colega de faculdade de minha tia que havia se tornado sua amiga, e que agora era produtora de moda em São Paulo, e ela concordou em nos abrigar por um tempo.
Ficou acordado que minha tia trabalharia como assistente de sua amiga Amanda e eu iria para uma escola municipal integral, não me importei, tudo que eu queria era descansar, só que não consegui, o pavor de está sendo perseguida não me deixava dormir, então resolvi desfazer a mochila e arrumar minhas poucas coisas. Só que no meio de minhas bagunça/mala encontrei uma agenda azul que sabia não ser minha, e logo me deparei com o diário de meu irmão.
Sandro vasculhou as coisas de meus pais, e encontrou uma foto deles e uns senhores com um garoto que segundo ele era igual ao que matou nossos pais, e pesquisou sobre ele. "Akatsuki", essa era a ultima informação de seu diário, ele dizia que pesquisaria sobre a Akatsuki e levaria as informações a polícia, provando que não era louco.
No dia seguinte enquanto minha tia fazia uma consultoria numa loja de roupas do centro, as senhoras me deixaram em uma sala dizendo que eu poderia brincar no computador, não perdi tempo e pesquisei sobre o tal Akatsuki no Google, não encontrando nada relevante.
Eu teria desistido se uma semana depois a loja não tivesse explodido por vazamento de gás. E foi aí que entendi, seja lá quem ou o que fosse esse Akatsuki, ele não queria deixar rastros, e eu teria que ser mais esperta se quisesse o pegar sem morrer ou matar outros em meu lugar, mas o que uma garota de dez anos poderia fazer? Eu não sei, mas iria descobrir! E assim como ele tirou tudo de mim, eu tiraria tudo dele, eu o faria pagar por tudo!
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Stalker Shinigami
FanficUm nome era tudo que eu tinha para encontrá-lo. Akatsuki, o nome que causava mortes por onde passasse, e por quem o procurasse. Mas comigo seria diferente, se ele era o causador de mortes, um Shinigami, eu seria aquela que o destruiria, que o faria...