Capítulo 4

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- Você parece pensativa. - Marion murmurou, ao acordar. - Que horas são?

- Tarde. - Carmen se inclinou e beijou-a levemente. - Quer comer algo? Talvez jogar Just Dance?

- Dispenso. Por enquanto. - ela fez uma careta. - Quando sua mãe volta?

- Acredito que não antes de sexta. Por quê?

- Queria vê-la. Ela é... divertida. Não tanto quanto a filha, mas ainda assim.

Carmen revirou os olhos para ela. Sua mãe gostara de Marion, até mais do que ela imaginara que gostaria. Ela vivia perguntando a filha quando Marion voltaria, o que deixava Carmen bastante feliz.

- Estava pensando...

- Pois não?

- Você chegou a... apresentar sua ex para seus pais?

- Como pessoa? Claro. Mas não como namorada. - ela deu um sorrisinho e uma piscadela. - Mas claro que eles descobriram depois. Por quê?

- Não é nada. É só... - ela suspirou. Seus dedos brincavam com uma mecha do cabelo. - É muito fora de questão conhecer seus pais, certo?

- Oh. Você não ia gostar deles. Eles provavelmente não gostariam muito de você, sabe, considerando que sou incrivelmente atraída por você. - ela fez uma pausa. - Embora... eu gostaria de poder levar minha namorada para casa. Jantares em família, e tudo mais. - ela suspirou. - Sinto muito.

- Tudo bem. - Carmen deu de ombros. - Só queria que pudessemos fazer tudo. Você conheceu seus antigos sogros?

- Bem, sempre conheci os pais de Caleb, então não foi tão surpreendente quando começamos, sabe, a namorar. Os pais de... - ela tossiu. - Pearl me conheciam. Como a amiga dela. Talvez eles soubessem, mas nunca me acusaram de nada. Eu os odiava.

- Uau, fico feliz que goste de minha mãe.

- Susan é incrível. - ela sorriu. - Eu realmente estou com fome agora. Acho que vou descer e cozinhar algo. Quer alguma coisa?

Carmen fez um gesto negativo com a cabeça. Marion se desvencilhou dela e desceu da cama, deixando Carmen sozinha com suas coisas. Isso fez com que uma súbita curiosidade em vasculhar a bolsa da namorada crescesse dentro dela. Pare com isso. Não tem nada que possa lhe interessar lá dentro.

Mas uma olhadinha rápida não faria mal a ninguém, certo?

Alguns livros de Direito, outros sobre Anatomia, folhas avulsas, um estojo e um tipo de agenda com a capa felpuda preenchiam a bolsa. Carmen se interessou pela agenda e, ao pegar para olhar, percebeu ser um diário.

Ok, eu não estou prestes a fazer isso, não estou bisbilhotando a vida pessoal da minha namorada.

Devia ser algo recente, pois não tinha muita coisa escrita, ela percebeu, folheando rapidamente. Espiou por sobre o ombro para ver se Marion estava atrás dela, depois esperou alguns segundos, tentando ouvi-la na cozinha. Quando se sentiu segura, abriu o diário.

O primeiro registro era de alguns meses antes delas se conhecerem.

"Minha terapeuta recomendou que eu fizesse isso, mas acredito que seja besteira. Contudo, aqui está: este é meu novo (e primeiro, só para constar) diário pessoal (pleonasmo?) para registrar como estou me sentindo e acompanhar o quanto minhas emoções vão se alterando blá blá blá besteira etc"

Carmen estava começando a se sentir traída, pois não sabia que Marion chegara a fazer terapia.

"Não contei a Caleb sobre isso (apesar de que deveria, já que estou usando o dinheiro dele para pagar as consultas) e tenho mentido dizendo que é para um projeto da faculdade. Não contei, na verdade, a ninguém sobre isso. Continuo achando uma droga ter que contar a alguém como estou me sentindo e como sou estúpida por me sentir assim. Mas que seja, não quero desobecer ordens médicas, blá blá blá, essa necessidade estúpida de agradar ainda vai acabar comigo."

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora