Carmen

Capítulo 5

- Muito bem, pode começar a falar.

Natalie estava na segunda latinha de cerveja, enquanto Carmen ainda bebericava um copo de suco, e parecia impaciente e irritada. Provavelmente terá um encontro, suspeitou Carmen.

- Ok, mas você precisa prometer não falar nada a Marion.

- Não me diga! - ela bufou. - Eu não estaria aqui se fosse diferente. Vamos logo. O que está havendo.

- Eu fiz uma coisa... ontem. - ela mordeu o interior da bochecha. - Feia. Errada. Que não vai se repetir. E agora é como se todo o ambiente estivesse sobrecarregado de informações com as quais não sei lidar.

- No meu idioma, por favor.

- Eu li o diário da minha namorada. Sim, ela tem um diário, não, ela não quer que ninguém saiba disso. - ela ocultou a parte da terapia. Como não haviam registros depois do que datava o primeiro encontro delas, Carmen imaginou que ela havia parado. - Havia várias... informações perturbadoras.

- Ai. Meu. Deus. - Natalie arremessou a latinha no lixo mais próximo e passou a mão pelos cabelos longos e escuros. - Pearl?

- É, boa parte. Mas não é isso que está me preocupando. Ok, isso também está me preocupando. - ela fez uma pausa. Nat tinha sido uma ótima amiga para ela e Carmen não queria arruinar tudo fazendo uma pergunta idiota. - É estranho? Ficar perto dela? Sabendo que vocês duas já...

- Por favor, não termine a frase. - ela fez uma careta. - Não acho que você devia perguntar isso para mim, já que a resposta que realmente importa não é minha, mas que seja. Não. Quer dizer, agora que estou pensando nisso, ficou um pouco. Mas não me incomoda. Acredito que não incomode Caleb também, conhecendo a personalidade dele e como ele se interessa rapidamente por qualquer ser humano com vagina e esquece seus amores rapidamente. Minha nossa, me diz que eu não sou como meu irmão.

- Você não é como seu irmão. - ela terminou de beber o suco e se levantou. Estavam sentadas num banco de praça, às nove da manhã, porque Carmen não conseguira dormir pensando no que lera e precisava falar com alguém. - Desculpe te incomodar com isso. Eu só precisava saber.

- Eu entendo. Eu acho. - Nat deu de ombros. - Mas Marion ama você. Sabe disso, não é?

- Bem, ela não disse isso ainda, mas...

Nenhuma das duas disse mais nada. Natalie deu um abraço forte na amiga e depois foi para o carro. Ela pegara emprestado o Porsche do irmão - Carmen não sabia como, visto como ele era protetor ao carro. Carmen caminhou de volta para casa, preparando-se para encarar Marion novamente.

Ela ainda estava de pijamas, sentada no sofá da sala, procurando por algo que a entretesse na televisão. Concedeu um sorriso caloroso quando viu Carmen passar pela porta e bateu no sofá, convidando-a a juntar-se a ela.

- Posso perguntar uma coisa?

- Claro. Ah, Caleb ligou. Ele disse que você poderia trabalhar com ele, na empresa da família. Se quiser. Eles precisam de um designer gráfico.

- Seria bom. - ela engoliu em seco. - Como você se sente estando... perto de pessoas que já dividiram uma cama com você?

O sorriso de Marion foi diminuindo aos poucos e Carmen se arrependeu instantaneamente de ter aberto a boca.

- Não pensava muito sobre isso. - ela disse, finalmente. - Parece que foi há tanto tempo, até outra vida, e éramos pessoas diferentes. Acho que não me afeta. - ela tentou um sorriso. - Está tudo bem? Tem algo que você queira me contar?

Eu invadi sua privacidade. Li seu diário. Tive seus sentimentos mais profundos jogados em minha cara. E agora me odeio e estou morrendo de medo de que você saiba disso e me odeie também. E estou incrivelmente assustada de que você não consiga se sentir comigo como se sentiu com sua ex. Sem contarmos o fato de que seu melhor amigo ainda é vidrado em você.

- Não. Está tudo bem. - ela sorriu. - Eu amo você.

Era a primeira vez que qualquer uma delas falava na palavra com a. Marion arregalou os olhos e ficou alguns segundos calada.

- Eu também. Amo você.