Capítulo 7

26 2 8
                                    

Natalie estava passando a mão por seus cabelos. Sua blusa estava molhada, Carmen percebeu, provavelmente com as lágrimas que ela permitiu sair enquanto contava tudo à Natalie, que não disse nada, até Carmen ficar em silêncio.

- Você precisa voltar. - ela disse, com toda calma do mundo. - Vocês brigaram, foi irracional e estúpido, e agora é hora de ser adulta e voltar pra lá. É a sua casa, é a sua namorada, e ela te ama. Volte. Para. Lá.

- Eu... não posso. - ela soluçou. - Está doendo tanto.

- Carmen. - Natalie se afastou dela, deixando-as frente a frente. - Você não ouviu a si mesma? Foi uma coisa idiota e acabou. Mas não é essa a frase que você quer usar para se referir à seu relacionamento, então levante essa bunda do meu sofá e volte para casa. Ou eu juro que vou chamar Caleb para levar você a força.

- Você não está falando sério.

- Eu estou sim. - ela respirou fundo. - Olha, eu amo você, e amo Marion, vocês são muito importante para mim, e eu não vou ver minhas melhores amigas acabando com algo que pode ser lindo por causa de besteira. - ela fez uma pausa para olhar ao redor, como se checasse se estavam sendo ou não espionadas. - Olhe, se você contar à Caleb que eu disse isso, eu mato você, está bem? Marion jamais vai amar você, ou qualquer pessoa, como amou Pearl. - Carmen sentiu como se ela tivesse atravessado-a com um punhal. Por que diabos Nat estava dizendo algo que ela já sabia? - Porque não era saudável. Jamais foi. E Marion nunca vai amar Caleb do jeito que ela ama você, se é que ela já sentiu algo por ele além de afeição. Ela estava em uma fase difícil quando conheceu Pearl, ela se agarrou nela como se fosse a única coisa boa que ela tivesse no mundo, isso sufocou a ambas e levou ao que já era esperado. Agora ela está se recuperando, de tudo, e pode encarar as coisas de outra maneira. Vocês podem construir um relacionamento saudável, se dedicar para não acabar com tudo, como Pearl fez.

- Como você pode saber disso? Ela se envolveu com pessoas antes de mim, ela fugiu quando começou a ficar sério. Como sabe que ela não vai fazer isso comigo?

- Bem, não é ela que está aqui tendo essa conversa comigo, ou é?

Carmen sentiu o rubor percorrendo suas bochechas. Natalie estava certa. Ela precisava voltar para casa, para Marion.

- Eu odeio quando você está certa e eu não, sabia?

Nat respondeu com um abraço, longo e apertado. Carmen se permitiu chorar uma última vez em seus braços. Depois afastou-se dela e se preparou para voltar para casa.

- Eu acompanho você. - Nat disse, pegando as chaves do carro. - Se tem uma coisa que eu gosto é ver duas pessoas admitindo que estão erradas.

(...)

Nat estacionou a alguns passos da porta da frente. Disse que ficaria no carro e só iria embora quando Carmen dissesse. Embora soubesse que ela se esgueiraria até a janela para ouvir tudo, Carmen assentiu e saiu do carro. Deu passadas largas até a porta da frente, que estava destrancada. Mais tarde, quando elas já não estivessem brigadas, Carmen lembraria de reclamar sobre isso.

Marion tinha adormecido no sofá. Estava com sua agenda felpuda nos braços, aninhada ao peito. Carmen sentiu um aperto no coração ao vê-la. Se ela pudesse apenas voltar no tempo e impedir a si mesma de ler o diário...

Mas ela tinha lido e elas tinham brigado e agora era a hora de colocar um ponto final nisso. Abaixou-se perto do sofá, ficando uma cabeça mais alta que Marion, e sacudiu-a levemente. Marion murmurou algo ininteligível e abriu os olhos. Ficou de pé num salto quando percebeu Carmen ali.

- Você voltou. - ela disse, tentando não demonstrar entusiasmo.

- Voltei. Eu sinto muito. Eu fui tão idiota.

- Não, você tinha razão, eu fui tão estúpida. Eu não devia ter brigado com você, e nem escondido algo de você, eu sinto tanto! - ela olhou para o diário em suas mãos por um momento. Esticou-o para Carmen, sorrindo. - Quero que leia a última anotação.

- Eu já...

- Por favor.

Carmen abriu o diário, não querendo argumentar. As páginas que antes estavam escritas haviam sido arrancadas e agora havia apenas uma anotação. Seu nome escrito em letras grandes e largas, seguidos de flechas com adjetivos e corações. Embaixo, um esboço de duas pessoas de mãos dadas, com os dizeres "eu sinto muito".

- Você não precisava...

- Eu amo você. - ela disse, cortando o que quer que Carmen fosse falar. - Não estou dizendo porque você disse. Não estou dizendo da boca pra fora, nem para manter você aqui. Eu realmente sinto e quero ficar com você. Por favor, não vá embora de novo. - ela passou a mão nos olhos, só então Carmen notou que ela chorava. - Eu não sei o que vou fazer se você sair de novo. Eu não sei como fazer para você ficar. Eu... eu não consigo fazer ninguém ficar.

- Ei. - Carmen puxou-a para seu peito, beijando-a incansavelmente. - Você é a melhor pessoa do mundo. Me desculpe fazer você duvidar disso. - ela beijou-lhe os cabelos, depois as bochechas, o nariz. - E eu também amo você.

- Vamos lá pra cima. Quero recompensar você.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora