2 - Accept Yourself

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A minha velocidade em que me dirigi até o vaso e liberei todo o jantar não foi algo humano também, mas certamente era o menos sobrenatural que existia naquele cômodo. Demorei a perceber que a imagem, aparição, ou o que seja, estava encostado na minha pia, me observando com cuidado e um tanto de apreço. Eu sei porque ousei a olhar no fundo dos olhos da coisa e passei a procurar ali algum vestígio que eu não estava ficando louco. Ás vezes Gerard tinha apenas fugido de casa e arrumado um dublê pra morrer em seu lugar, ou com clone criado em seu laboratório maluco, já que o maldito sempre foi bom em Biologia, ou aquele era o dublê de Gerard, contratado para me dar um susto na sua pós morte. Gerard. Ele queria me deixar maluco também.

-Se acalma – ele falou de novo, num sussurro limpo, como se eu estivesse de fones de ouvido ouvindo a voz falar em máximo volume – por favor.

-Ok – respondi tremulo, procurando me levantar do chão gelado aos poucos – o que é isso?

-Eu não sei – o tom permanecia, e eu realmente acreditava que estava escutando a famigerada voz do além.

-Você disse que podia explicar! – Respondi estressado, entre dentes, sendo o mais silencioso possível, e ainda mais confuso. Ele precisava me explicar aquilo, eu não descobriria sozinho. O gosto amargo incomodava meu paladar a ponto d'eu me aproximar ainda mais a visão, que se afastou um pouco, me dando passagem para limpar a boca com a água da pia.

-Eu não sei o que me trouxe até a sua casa, não sei o que estou sentindo também. Eu só vim parar aqui, quase que obrigado pelas minhas próprias pernas.

-Você existe? – Eu fiz minha pergunta ridícula, ignorando completamente sua última frase. Minha tentativa de controle estava boa, mas a qualquer segundo eu acreditava que podia desmaiar, pois sentia minhas mãos suando frio e eu tremia como um gato molhado.

-Eu não sei – o sussurro saiu baixo, praticamente magoado – Me ajuda, Frank.

Ok, isso foi uma piada de um fantasma. Mas eu não ia rir de um fantasma.

-Eu?! O que eu tenho a ver com isso?

-Alguma coisa! Você tem alguma coisa a ver com isso, caso contrário, eu não teria sido guiado ou qualquer porra, pra sua casa.

-Você morreu! – Me permiti exclamar incrédulo, contestando pra mim e pra ele o que havia de errado naquela situação, como se restasse alguma dúvida.

-Eu morri? –Ele questionou, me levando a loucura total. Ok, eu falava com metade do Gerard real e uma metade do fantasma de Gerard, o que era insano demais. Em alguns meses, ou até semanas, eu diria que era insano simplesmente estar falando com ele, mas veja só como as coisas mudam. – Não me lembro de ter conseguido.

-Gerard – respirei pesadamente, mexendo em meus cabelos, em busca de alguma força – seu enterro foi domingo passado. Você faleceu na sexta.

-Você foi? – Ele me questionou, soando pra mim como outra piada. Que tipo de pergunta perfeita para se fazer nesse momento.

-Quê? Eu não, não sabíamos ainda.

-Me velaram? – Ele questionou novamente, me fazendo me acostumar com essas perguntas imbecis e que me deixavam cada vez mais histérico.

-Eu não sei, Gerard.

Ele suspirou, como se estivesse pensando profundamente sobre as coisas, tendo lembranças. Eu continuava em pé, agora evitando olha-lo nos olhos porque aquilo estava começando a me assustar para caralho.

[Frerard] Wake the deadOnde histórias criam vida. Descubra agora