Desamarrei minhas amigas ainda com o braço quebrado.
- Gio, chame ajuda, liga pra policia. Trás todo mundo pra cá. - Falei. - Lais, vai com ela.
Eu e Chii fomos atrás do Kel. Entreguei a arma de Yousef para ela e subimos. O elevador estava com o número do último andar em que parou. Vigésimo primeiro.
A subida foi lenta de mais para mim, eu mal podia aguentar a ansiedade. Quando o elevador parou e saímos de dentro dele, pude ouvir uma conversa. Dois homens. Kel estava ali e com alguém. Talvez fosse um novo refém. Abri a porta do apartamento de onde a voz vinha e me deparei com o garoto agachado num canto, falando sozinho. A voz dele se alterava entre uma palavra e outra, e ele tremia.
- Não pode. Eu não vou deixar.
- Eu já fiz - Kel deu uma gargalhada. - e vou fazer de novo. Elas estão aqui. Reaja!
- Para. Eu vou matar você.
- Eu sou você.
- Com quem você está falando? - Perguntei apontando a arma em sua direção.
Os olhos dele estavam elétricos, ele olhava para todos os lados rapidamente. De repente ele começou a chorar.
- Jor, por favor... eu preciso dos meus remédios. - Disse ele em meio a soluços.
- O lugar que você vai, não será necessário. - Respondi.
Chii estava na porta com o dedo no gatilho. Kel começou a gargalhar alto, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto.
- Jor, acho que isso é sério. Quer que eu pegue os calmantes dele? - Perguntou Chii.
- Não! Eu resolvo isso. - Apontei a arma para a cabeça dele e disparei.
Ele rolou para o lado e desviou do tiro. Logo em seguida veio correndo em minha direção. Chii deu outro tiro, mas também não o atingiu. Kel agarrou meu braço fraturado, e tomou a arma de mim.
- Hora de completar o serviço. - Ele apontou o revólver para mim, mas do nada ele o soltou.
- Eu... Não aguento isso! - Kel deu um grito e apertou os ouvidos. O garoto começou a sacudir a cabeça de um lado para o outro. - SILÊNCIO!
- Eu vou pegar o remédio dele.
Chii me entregou a arma dela e saiu correndo do quarto.
Fiquei ali no chão. Kel estava ajoelhado agora.
- Eu odeio vocês.
- Kel... só me diz o porquê. O que nós fizemos com você? - Perguntei chorando.
- Jor me desculpa... eu não sabia o que estava acontecendo. Eu não queria matar a Hanna. Eu não queria que isso acontecesse. - Kel estava chorando. - Essas vozes não param nunca!
Ele começou a se arranhar. Seus braços estavam sangrando. Larguei a arma.
- Para. Para com isso. - Segurei seus braços.
Eu estava com pena dele agora. Eu não ia conseguir mata-lo. Passei a mão pelo cabelo dele e o abracei.
- Droga, Kel. - Falei.
De repente ouvi um disparo. Olhei para baixo e vi minha blusa se encharcar com meu sangue. Ele estava sorrindo com a arma na mão. Cai de lado, e fiquei ele observando ele sair do quarto girando a arma nos dedos e assobiando.
Minha visão estava escurecendo, mas não podia abandonar Chii agora. Estávamos tão perto. Peguei a arma que estava do meu lado. Fui me apoiando nas paredes até o elevador. Tudo estava girando e a dor aumentava.
Cheguei no andar de nosso quarto, a porta estava aberta. Me encostei no batente e espiei o ambiente. Kel estava na porta do quarto, Chii estava lá dentro. Respirei fundo e mirei em seu tórax. Como sou uma excelente atiradora, o tiro acertou sua perna, mas estava valendo.
Kel caiu de joelhos gritando. Ele me olhou furioso.
- Sua vadiazinha! - Ele deu dois tiros em minha direção, mas fiquei atrás da parede. Ouvi outro disparo, mas desta vez não foi em mim que ele mirou.
Entrei no quarto em um movimento brusco que fez minha barriga doer, e meus olhos verem borrões.
Fui com a arma em punho pronta para descarregar o pente em cima dele.
Chii estava no chão. Kel estava prestes a atingir sua cabeça. Comecei a atirar, mas as balas acabaram no terceiro tiro. Ele me olhou sorrindo.
- Own.
Eu não aguentava mais nenhum minuto em pé. Cai no chão. Não sei bem o que aconteceu depois, mas vi Kelvin cair no chão, e sua camisa ficar ensopada com o sangue. Dei um sorriso e fechei os olhos.