CAPÍTULO 20

260 10 1
                                    

Depois de todos nos esforçarmos para comer qualquer coisa, os meus avós levaram a Catarina para a casa deles e eu fui à casa de banho. Eu sabia que o meu pai precisava de explodir e parar de fingir que estava tudo bem por isso quis deixá-lo a sós com a minha mãe durante um bocado. Quando estava a andar por entre estas paredes brancas ouvi o meu nome a ser chamado por isso parei de andar e olhei na direção da voz que me soava muito familiar.

"Finalmente te encontramos! A tua avó disse que era neste piso mas não te encontrávamos." diz a Patrícia e eu olho para as minhas duas melhores amigas chocada. Elas abraçam-me e, embora estivesse a viver um pesadelo, vê-las trouxe-me alguma felicidade.

"Como sabiam que eu estava aqui?" pergunto e elas olham uma para a outra hesitando dar a resposta.

"Shawn!" digo uma vez que só podia ter sido ele ou o meu pai mas o meu pai não se lembraria de fazer isto porque tinha 1000 coisas na cabeça.

"Como sabias?" a Inês pergunta.

"É típico dele," encolho os ombros.

"Como é que estás?" pergunta a Inês.

Eu simplesmente encolhi os ombros começando a chorar mais uma vez. Sem saber o que fazer elas simplesmente me abraçaram durante algum tempo.

"Tivemos saudades tuas! Vais ver que tudo vai correr bem." diz a Patrícia.

"Estamos aqui para ti!" a Inês diz e eu afirmo com a cabeça.

"Tens que sair do hospital. Dá algum tempo ao teu pai, vamos para a minha casa." a Inês sugere.

"Não digas que não! Só por umas horas," a Patrícia insiste.

"Vou só avisar o meu pai," digo e elas vão comigo até ao quarto da minha mãe mas ficam à entrada. Despeço-me do meu pai e da minha mãe e vou com elas tentar abstrair-me da confusão.


🍁🍁🍁


Os dias foram passando e eu passei-os sempre no hospital. A Inês e a Patrícia iam ter comigo quase todos os dias e eu era grata por elas e pelo Shawn que fazia questão de me ligar por FaceTime diariamente. Ele tratou de tudo na escola para eu não perder o ano devido às minhas faltas naquelas últimas semanas de aulas e felizmente a escola foi compreensiva sabendo que tecnicamente tudo o que contaria seriam os exames finais de verão.

Estávamos a uma semana do Natal e não havia sinal de que a minha mãe estivesse a ficar melhor. Estávamos todos a tentar manter a esperança mas a cada dia que passava a tarefa tornava-se mais complicada.

"Sara, não podes ficar aqui duas noites seguidas." o meu pai diz e eu afirmo com a cabeça e dou um beijo na testa da minha mãe antes de ir para casa com o meu pai.

Depois de uma viagem silenciosa estávamos finalmente em casa e os meus avós que estavam a tomar conta da minha irmã regressaram à sua casa. Depois de tomar um banho deitei-me e antes de adormecer ouvi um pedido para chamada de vídeo do Shawn. Ele estava de férias e certificava-se de que era totalmente flexível ao horário português.

"Olá," forço um sorriso.

"Olá, fofinha, é bom ver que estás em casa!" ele diz vendo o cenário atrás de mim.

"O meu pai não me deixou ficar," admito.

"Fez muito bem! Tu precisas de descansar," diz.

"Não consigo deixar de pensar que cada vez que deixo o hospital pode ser a última vez que a vou ver viva. Eu sei que é estúpido porque ela está em coma mas ouvir o batimento cardíaco dela faz-me sentir melhor." explico com as lágrimas nos olhos.

"Não é estúpido! É a tua maneira de lidar com a situação," diz.

"E se ela não sobreviver, Shawn?" pergunto e as tão frequentes lágrimas aparecem.

"Não digas isso, Sara!" diz de imediato.

"Já passou mais de uma semana e nada indica que ela vai acordar!" digo sinceramente porque tinha que começar a mentalizar-me para o pior.

"Eu não quero saber! Tu vais acreditar que vai ficar tudo bem até ao fim deste pesadelo." diz firmemente.

"Respira fundo," pede e eu obedeço.

"Agora limpa essas lágrimas e mostra-me esse teu sorriso lindo." diz e eu forço um sorriso.

"Essa é a minha miúda," pisca o olho.

"Obrigada," digo passado uns segundos em silêncio.

"Pelo quê?" pergunta confuso.

"Por seres o meu apoio, por te preocupares! Por acordares a meio da noite só para me ajudar durante um dia mau," explico.

"Obrigado por me deixares fazer isso," diz com um sorriso genuíno.

"Tenho saudades tuas," digo sem pensar e o sorriso dele aumenta.

"Já?" pergunta na brincadeira.

"É muito mau?" pergunto e ele ri.

"Seria se eu não tivesse saudades tuas," pisca o olho.

"Anda ter comigo," choramingo.

"Quem me dera!" ele suspira.

"É estranho mas sempre que preciso de alguém és tu que me vens à cabeça." admito.

"Tudo o que eu queria era estar aí agora e abraçar-te e cantar até adormeceres." ele diz e ouço a Karen a chamá-lo visto que lá já devia ser dia.

"Vai," sorrio.

"Ficas bem?" pergunta.

"Sim, vou dormir." digo e depois de nos despedirmos adormeci rapidamente.

Make this place your home (Shawn Mendes)Onde histórias criam vida. Descubra agora