CAPÍTULO 38

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Já tinha passado uma semana desde que saíra de casa e embora começasse a estranhar não ver as pessoas mais próximas, eu sentia-me bem em Ajax. O facto de ter sido acolhida por uma família maravilhosa de braços abertos contribuiu muito para isso mas o mais importante é que eu não queria voltar para casa. Eu sentia-me tão bem ali que não me conseguia imaginar a voltar para casa. Eu sabia que devia fazê-lo porque o meu pai ia começar a pensar em envolver as autoridades e a última coisa que eu queria era dar nas vistas ou aparecer nas notícias.

"Sara," ouço uma voz chamar-me do outro lado da porta e abro-a.

"Queres vir dar uma volta?" a Carlie pergunta.

"Pensava que ainda estavas na escola! Pode ser," digo deixando a porta aberta enquanto me calço e visto o casaco.

"Continuas com o telefone desligado?" pergunta.

"Sim, ainda não quero voltar para casa." digo e ela suspira.

"Rapariga, as pessoas já devem estar a achar que te aconteceu alguma coisa!" ela diz-me e eu saio do quarto trancando-o atrás de mim.

"Eu sinto-me tão melhor aqui que lá," admito enquanto saímos do edifício e a sigo até ao parque onde passei a primeira noite que não era muito longe.

"Não tens nada lá que te faça querer voltar?" pergunta.

"Ter tenho mas não quero encarar ninguém," admito.

"Eu tenho a certeza que essas coisas são todas na tua cabeça. Falas como se o mal de todos os problemas fosses tu e tenho a certeza que as coisas não são assim!" ela diz.

"As pessoas à minha volta ou foram afastadas por mim própria ou acabaram por discutir comigo e se cansarem da minha atitude. A culpa disso é minha!" digo sinceramente.

"Sara, é uma fase e se eles não compreendem isso então a culpa não é tua. É completamente natural quereres isolar-te e sentires-te nesse fosso sem fundo. Se não começares a aceitar os teus sentimentos não vais conseguir seguir em frente!" ela diz-me.

"Aceitar que sou tão fraca que até a minha irmã que é mais nova que eu soube lidar melhor com isto que eu? Que em vez de manter as pessoas que gostam de mim ao meu lado as afastei? Que o meu pai não quer saber? Eu já aceitei isso tudo, Carlie." digo.

"Mas não aceitaste que é legítimo sentir essas coisas! Sentes-te culpada por senti-las e não tens que te sentir culpada por estares em baixo." ela insiste.

"E se eu estar em baixo trouxer problemas a outras pessoas?" pergunto e ela suspira.

"Sara, uma ou duas discussões não significam que estás a causar problemas a ninguém. O teu pai estar ausente não é tua culpa," ela diz-me.

"Eu conheço esta voz," digo ouvindo a voz do Shawn a cantar.

"Qual? Acho que é um cover do Shawn Mendes," ela diz apontando para duas raparigas que estavam sentadas a ouvir música e eu percebo de imediato que ela o conhecia e que por isso é que eu lhe parecia familiar.  Ouvir a voz do Shawn a cantar All of The Stars deixou-me emocional de imediato e, enquanto ela olhou para mim confusa, cairam umas quantas lágrimas. Eu tinha saudades dele mas ao mesmo tempo não estava pronta para voltar para casa.

"Esta música deixa-me sempre emocional," minto tentando acalmar-me.

"Aw," ela sorri dando-me um pequeno abraço.

"Como podes ver sou uma pessoa muito emocional," digo limpando as lágrimas e seguindo o caminho porque não queria arriscar ser reconhecida por uma daquelas raparigas.

"Também gostas dos covers dele?" ela pergunta e eu afirmo com a cabeça.

"Ele também é de Pickering! Nunca se cruzaram?" pergunta.

Make this place your home (Shawn Mendes)Onde histórias criam vida. Descubra agora