GAROTA DA URCA

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Garota da Urca

Saí do banho gelado mas meu corpo continuava quente. Bastava pensar em Henrique... Meu Deus!
Olhei no relógio e vi que teria que almoçar com minha mãe no modo zumbi mesmo, já estava em cima da hora.

Coloquei uma calça jeans, uma blusa branca de lycra, uma sapatilha, e saí de cabelo ainda molhado.

Esqueci de falar da minha casa.

Eu e Estevan moramos três meses juntos antes de nos casarmos. Foi um sacrifício conseguir comprar uma casa na urca, mas era o meu sonho desde menina, e mesmo sendo o Estevan, dono de uma indústria farmacêutica,  fiz questão de pagar a metade.

Lógico que depois do fiasco do casamento, e por ser ele um adúltero, eu ganhei o processo e fiquei com a casa, ele também não fez muita questão, eu só fiz porque era meu sonho de menina e a poupança da minha vida.

O advogado determinou também que ele me pagasse uma pensão, eu não queria, mas minha mãe insistiu, achava que ele devia pagar alguma coisa, eu concordava, só que no fundo não queria aceitar nada dele, mesmo que fosse merecido.

A casa tinha uma sala grande e espaçosa com piso de madeira. Estava decorada toda em branco e azul marinho. Depois que ele saiu e levou suas coisas, ficou tudo com um ar meio vazio e eu ainda estava adiando a nova decoração que precisaria fazer.

Meu quarto era basicamente uma cama de casal, uma tv presa na parede e um armário grande. A sala era composta de um sofá-cama azul marinho, uma tv grande na parede e uma mesa pequena de madeira tingida de branco a cada lado do sofá. Na cozinha eu tinha uma geladeira, uma mesa branca de mármore com quatro cadeiras e uma máquina de nespresso, o único presente de casamento que eu não devolvi.

Os outros dois quartos que não eram suítes ficavam do outro lado da sala e estavam vazios.

Na frente da casa tinha uma varandinha que eu adorava, ali eu coloquei uma namoradeira e uma rede onde eu gostava de me deitar para ler. No mesmo lugar onde ficava a parede com ladrilhos de vidro, por onde o Henrique me viu enquanto eu o olhava pelo olho mágico na porta.

Desci os degraus da varanda e abri o portão, fui a pé até o restaurante porque era bem pertinho. Minha mãe já estava lá, no Garota da Urca.

- Oi filha – disse sorrindo e me dando um beijo. Estava com olhar de preocupada, seu olho mel era igual ao meu, quer dizer, os meus eram iguais aos dela.

- Oi, mãe – falei com minha voz de ressaca.

- Carmen o que você fez ontem? Está parecendo um zumbi – disse prendendo os cabelos castanhos em um rabo de cavalo.

- Ontem fizeram três meses mãe... – dei de ombros

- Ah, o seu combinado com a Bia. Você sabe que não precisaria ter saído se não quisesse não sabe?

- Eu sei mãe, mas até que foi legal. Foi bom saber que ainda sou nova e posso superar isso.

- Claro que sim minha filha. Você na verdade, é muito nova para se preocupar desse jeito. Não deixe que o cretino do Estevan endureça seu coração.

- É mãe... Estou tentando. Mas escuta, tenho novidades! – falei mais animada.

Contei em detalhes a ela sobre o Henrique e o meu livro. Entre nós nunca houve segredo e eu sempre lhe confidenciava minhas histórias, exceto que agora imaginei o que ela diria se lesse Desinibida.

Era um pouco perturbador imaginar minha mãe lendo um livro desses sabendo que foi escrito por sua filha, claro que essa foi a segunda coisa que ela falou.

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