À Laura,
Antes de qualquer conversa, preciso mesmo admitir: eu sinto muito a sua falta. Tenho saudade de acordar com a certeza de que você estaria do outro lado, com um sorriso largo de preguiça, me esperando, apesar de qualquer evento ruim que pudesse ter acontecido em nossas vidas. Combinamos isso, lembra? Não seríamos como aqueles amigos que só sabem falar de si mesmos e se esquecem de ouvir. Sempre que percebêssemos que a outra estava triste, deixaríamos a nossa própria tristeza de lado e nos importaríamos em nos ajudar. Esse era o nosso pacto, a nossa promessa de parceria. Quando nada mais valesse a pena, a nossa amizade valeria. Por isso, tive tanta raiva sua.
Você não me deu a oportunidade de estar ao seu lado, de ser sua companheira, de te ajudar. Prometemos que sempre contaríamos tudo uma pra outra, e você escondeu de mim algum problema grave que até hoje eu não sei o que foi, mas sei que ele te tirou de mim. Quando você pulou, parte de mim foi junto, porque nós, de alguma maneira, formávamos uma só pessoa. Como você escreveu naqueles e-mails, nesses últimos meses, eu também me senti sozinha, deslocada, minha vida foi perdendo o sentido, nada mais me fazia feliz.
E, no meio disso tudo, estava o Bernardo. Única possibilidade de alguma alegria que eu via na minha frente. Junto com a alegria, vinha a culpa, e a dúvida se eu podia me sentir feliz depois de ter perdido minha melhor amiga, e o arrependimento toda vez que me recordava que estava sendo feliz com o menino que ela também gostava.
A minha raiva das suas mentiras só passa quando eu lembro que você me deu os piores momentos da minha vida, mas, sobretudo, me deu os melhores. Só quem teve sua adolescência dividida com um amigo de verdade (o que, afinal, eu acho que você é, apesar de tudo...), sabe como é importante ter um porto seguro, alguém pra quem você olhe e saiba que pode contar em qualquer situação, alguém com quem você brigue, mas dez minutos depois queira fazer as pazes, porque não consegue ficar muito tempo longe, sem conversar.
Se existe a tal da alma gêmea pro amor, tenho certeza que também existe pra amizade. A minha, claro, é você. E nunca vai deixar de ser, mesmo que nunca mais possamos estar juntas. Eu só queria que você tivesse dividido seus problemas comigo, mas, pensando bem, lembro que uma vez você me disse que ninguém gosta de pessoas tristes e com problemas, por isso, a gente deveria sempre andar sorrindo e fingindo estar feliz, independentemente se não fosse verdade.
O que eu te diria se você tivesse conversado comigo?
Laura, ninguém pode viver com uma máscara o tempo todo. O disfarce cai, a mentira cansa. A gente pode, sim, se permitir ficar triste, chorar, emburrar a cara, não querer dar bom dia pra ninguém... Não é bom estarmos assim sempre, não por causa dos outros, mas por causa da gente mesmo. Só por que estar feliz é melhor que estar triste...
Minha mãe recentemente me falou que os problemas sempre vão existir, mas é a gente que dá a eles o tamanho que nós quisermos, a gente decide se aquele problema deve ser maior ou menor que todas as coisas boas da nossa vida. E também devemos aprender que ser feliz não significa nunca ter problemas, mas, simplesmente, ter atribuído um tamanho pequeno a eles. Você quis ficar com seu problema sozinha, e acabou dando um valor muito grande a ele. Eu, certamente, te ajudaria a fazer com que ele pesasse menos que um grama.
Eu vou sentir eternamente a sua falta, e essa é uma dor que eu vou ter de aprender a carregar no meu coração. Não sei se é maior ou menor que a dor que você passava, mas a minha decisão é não dar um fim a ela se, pra isso, for preciso dar um fim à minha vida. Eu escolho viver, porque só em vida posso ir resolvendo meus problemas e procurando momentos felizes que façam tudo valer a pena. Só enquanto estamos vivos podemos correr, pular, estudar, beijar, abraçar, dizer eu te amo, sentir a barriga doer de tanto rir...
A felicidade só pode existir enquanto estamos vivos.
A vida é sempre a melhor escolha.
Da sua eterna amiga,
Júlia Lourenço
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A Teia dos Sonhos
Teen FictionJúlia e Laura são duas adolescentes, de 16 anos, que, para eternizar a forte amizade que as une, decidem tatuar uma Teia dos Sonhos em seus braços. A euforia pela tatuagem única, desenhada por Júlia, esvai-se no dia seguinte, quando ela recebe a not...