Untitled Part 4

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Depois de nos encontrarmos em frente ao meu prédio e percorrermos os quarteirões em um quase silêncio, entrecortado por risos, Bernardo e eu chegamos à escola. A ausência de conversa durante o caminho não tinha sido ruim, como no dia anterior, mas, sim, uma escolha instintiva de apenas ficarmos olhando pro outro, admirando. Nada precisava ser dito, estávamos preenchidos.

O bicicletário era certamente o lugar onde eu e Bernardo mais tínhamos ficado juntos, mas essa era a primeira vez que deixávamos nossas bicicletas tão próximas. Enquanto colocávamos as correntes, eu brincava sobre ele dirigir mal, dizia que tinha me deixado apavorada durante as curvas, que minha sensação era a de que a gente ia cair feio.

Bernardo, no mesmo clima de brincadeira, respondia que tudo não passava de uma desculpa pra eu ficar bem agarrada nele. Eu ria, sem graça, e sentia que meu rosto começava a ficar cada vez mais vermelho, como se estivesse em chamas. Nem revidar eu conseguia, só ria e soltava um Até parece... Era a primeira vez que conversávamos de modo tão descontraído. Eu hesitei muito pra tocar no assunto sobre Laura, mas era necessário. Enquanto a gente andava pelo pátio, sob alguns olhares curiosos e críticos, desabafei:

_Bernardo, eu não vou poder fazer mais do jeito que foi ontem. Passar a tarde toda fora... Eu preciso pensar em outra maneira de encontrar esse Leonardo Rodrigues.

_Para de falar no singular, eu, eu, eu... Nós dois vamos dar um jeito...

Eu adorava ouvir que estávamos juntos. Eu calei, ele continuou:

_Mas por que você tá falando isso de não poder mais?

_A minha mãe não é lá essas coisas de cuidadosa, mas brigou comigo ontem, reclamou. Ela tá super preocupada com o que eu posso fazer por causa da Laura.

_Saquei. Ela acha que você vai se matar? Pular pela janela?

_Você é sempre tão direto!

_Não gosto de ficar dando voltas pra fazer uma pergunta.

_Talvez, mesmo sem eu querer, ela seja a pessoa que mais me conhece de verdade. E acaba vendo todos os meus momentos de desespero, quando eu fico louca de raiva da Laura.

_Quando a gente descobrir tudo o que a Laura não te contou, acho que essa raiva passa... Ou não...

_Eu também não sei se vai adiantar, mas agora eu quero ir até o final. Eu já até pensei numa solução, se você topar.

_Eu topo.

_Você nem ouviu ainda...

_Eu topo.

_Deixa eu falar... Eu pensei em a gente aproveitar o tempo dos intervalos pra pesquisar sobre esse Leonardo Rodrigues. A gente consegue fazer isso pelo celular mesmo.

_Começamos hoje?

O sinal de entrada tocou, e eu só pensava que nunca quis tanto ouvir o do intervalo.

_A gente se encontra na arquibancada. – falei.

Fomos pras nossas salas. Eu estava decidida a ignorar todos os olhares de pena que certamente se repetiriam. Entrei, olhei pras pessoas conversando e percebi que algumas não me observavam mais com pena, e, sim, com desconfiança. Quatro dias depois da morte de Laura, e tudo já estava diferente.

A Teia dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora