Untitled Part 7

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Epílogo

Chegava a minha hora de colocar em prática o que eu tinha falado pra Laura, então, tratei de atribuir um peso muito pequeno ao fato de que minha mãe havia perdoado a traição do meu pai, que acabara de se separar da outra mulher, e resolvido ficar com ele novamente, como namorada.

Se isso tivesse acontecido há uma ano, certamente, eu teria feito um escândalo dia após dia, e sairia batendo a porta cada vez que ele pusesse os pés na minha casa, mas isso só faria mal pra mim mesma, porque seriam três pessoas tristes, por não conseguirem se sentir bem naquela situação. Na verdade, confesso que o lado positivo foi ver minha mãe mais feliz, voltando a ser quem ela era antes da separação, suas roupas, suas atitudes... Quem pode julgar onde, como e com quem encontramos nossa felicidade?

Também não dava pra exagerar e fingir que nada tinha acontecido. Havia uma mágoa enorme do meu pai. Ele tinha uma facilidade muito rápida em desistir de mim, e isso eu não conseguia perdoar, ainda. Por isso, sempre que ele chegava, eu ia até a sala dar um oi e voltava pro meu quarto, ou arranjava uma desculpa pra sair. Ele, lógico, percebia e não insistia em uma conversa. Não era preciso forçar a barra, cada um tem seu tempo. O da minha mãe fora rápido. O meu demoraria um pouco mais pra acontecer...

Se, com a minha mãe, os acontecimentos caminhavam pra uma resolução, a tristeza de tia Adriana ainda me incomodava muito. Resolvi que precisava tirar da cabeça dela que ela fora a culpada pela morte de Laura, não era justo ela se sentir assim. Faria isso por ela e em nome da minha amizade com Laura. De alguma forma, sentia que precisava ajudá-la, era isso que Laura gostaria que eu fizesse, era isso que Laura faria por mim.

Tomei minha decisão. Não trairia Laura, não contaria sobre a criação do tal Leonardo Rodrigues, até por que essa história permanecia confusa na minha cabeça. Se tia Adriana me perguntasse sobre os motivos pra Laura ter inventado alguém que dizia pra ela mesma se matar, eu não saberia responder. Eu só poderia falar do que Laura tinha me ensinado com essa confusão toda: os problemas não podem ficar numa caixinha, senão, a tristeza vem e tira a tampa de uma única vez...

Liguei pra tia Adriana, num sábado, logo de manhã, e disse que precisava falar com ela urgentemente. Atravessei a rua em direção a Laura, pela terceira vez depois do dia 13 de Abril de 2015. Subi. Ela me esperava, ainda de camisola, sonolenta, em pé na porta. Dei um beijo demorado nela e a levei, de mãos dadas até o sofá. Sentamos, bem próximas. Ela passou a me olhar com intensidade.

_Tia, eu mexi em todas as coisas de Laura. Tinha um caderno lá em casa, com essa carta dentro. – entreguei o papel na mão dela – É pra você. Foi só o que eu achei.

Nesse momento, nós duas já chorávamos. Em silêncio, mas com uma saudade muito forte de Laura. Tia Adriana desdobrou o papel a passou a lê-lo.

A carta escrita por mim, mas assinada por Laura, falava sobre o grande amor de Laura por tia Adriana, e dizia que ela tinha decidido tomar uma atitude, mas que não tinha nada a ver com a mãe, que eram coisas da cabeça dela, tristezas que ela foi acumulando, com as quais não conseguia mais conviver. Tentei ser sucinta nas explicações, não inventar novos motivos pra tia Adriana ficar se questionando.

No final da carta, Laura insistia pra que a mãe tentasse retomar a vida e pra que não se culpasse nem por um segundo, enfatizando que sabia que ela faria isso. Talvez, se a mãe conseguisse ser feliz, ela também seria, onde quer que estivesse.

Tia Adriana, agora soluçando de tanto chorar, dobrou o papel novamente, me abraçou e chorou muito, muito mesmo... Eu a abracei forte. A situação foi bem difícil, mas, de certa forma, fiquei aliviada porque o choro representava que ela estava abrindo sua caixinha da dor, antes que fosse tarde demais...

Quanto ao colégio, ainda está bem complicado. Laura me faz uma falta danada! Às vezes, peço pra ir ao banheiro e fico por minutos sentada na tábua do vaso, olhando pro teto ou pra nossa tatuagem, só por que a ausência dela na sala de aula estava insuportável. Faço todos os trabalhos sozinha, estou com muita dificuldade de me enturmar novamente. Na verdade, acho que nem quero...

Sempre que me vejo numa agonia desesperadora durante as aulas, aperto nossa teia dos sonhos e sinto como se Laura me transmitisse a calma e a paciência que nem ela tinha... Quando toca o sinal do intervalo, eu saio correndo. Bernardo sempre está me esperando na porta da sala dele. Daí eu respiro fundo e digo pra mim mesma:

Tem dias que são melhores que os outros...

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2016 ⏰

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