Untitled Part 5

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Acordamos na mesma posição. Achei estranho porque, normalmente, eu me mexia muito enquanto dormia. Bernardo deve ter despertado segundos antes de mim. Quando abri os olhos, ele já me olhava com uma cara não muito boa. Pensei se ele havia se arrependido do beijo da noite anterior. Talvez eu também devesse estar arrependida, mas, incrivelmente, não estava. Só eu sabia o quanto eu havia me segurado pra que esse beijo não acontecesse antes.

Não tinha certeza se havia ocorrido na hora certa, mas alguma voz reconfortante me falava que aconteceu no momento em que devia acontecer. Sorrimos de leve, levantamos sem dizer muitas palavras. Quis ir embora bem rápido, antes que a mãe dele chegasse. Imaginei o susto dela me vendo pela manhã, ia pensar que nós tínhamos feito sexo lá, na casa dela, enquanto ela estava trabalhando. Eu não queria mais um problema pra minha vida... Fui tirando os lençóis do chão, forrando a cama onde eu acabei não dormindo.

Como sempre acontece quando estamos em uma situação nova, não sabia como me despedir dele. Bernardo queria me levar de moto, mas eu disse que precisava ficar sozinha, pensar no que estava acontecendo, e era melhor voltar só, caminhando... Ele insistiu, mas acabou concordando, porque, no fundo, também precisava pensar. Nós dois permanecíamos confusos com as mentiras de Laura. Se ela estivesse viva, tudo seria mais fácil. Iríamos até ela e tiraríamos várias satisfações sobre a história inventada. Mas ela não estava... A quem poderíamos, então, responsabilizar por toda essa confusão? Com quem iríamos brigar?...

Bernardo me levou até a porta e, sem pensar muito, beijei sua boca, rápida, mas lentamente. Ele ficou me olhando de um jeito tão profundo que parecia me ultrapassar, ver bem dentro ou além de mim. Virei sem retornar mais pra trás, tive medo da expressão que poderia encontrar dessa vez. Culpa, arrependimento...

Durante o caminho dos sete quarteirões até em casa, foi realmente um momento de reflexão. Aquela ideia de Laura ter mentido pra mim ainda não tinha me descido. Essa atitude era contrária da Laura que eu conhecia, minha amiga jamais mentiria pra mim, muito menos inventaria que alguém que disse que queria ficar comigo queria ficar com ela. Mas esse alguém era Bernardo, desejo de nós duas, não podia me esquecer desse detalhe importante.

As imagens deles juntos ficavam martelando minha cabeça. Onde Laura pensou em chegar com essa história? Será que já tinha planejado inventar isso e se matar logo depois, antes que alguém descobrisse? Será que foi por isso que Laura se jogou pela janela, por vergonha, por ter se arrependido da mentira, mas ter medo de me contar a verdade? Será que Bernardo era o culpado por não gostar dela e gerar tanta tristeza a ponto de ela escolher a morte? Será que eu era culpada por não ter enxergado a tristeza que ela disfarçava e escondia tão bem de mim?

Com a cabeça agitadíssima, resolvi que, pela hora (já eram quase 10 da manhã), podia ligar pra Olívia e tirar a verdade a limpo. A princípio, ela estranhou minha ligação, pois já devia saber dos acontecimentos desastrosos do dia anterior, mas me atendeu bem, sem perguntas e sem julgamentos. No entanto, eu tinha muitas perguntas pra fazer a ela, e, ao invés de ficar dando voltas, tentei ser direta, assim como eram Laura e Bernardo.

Fui logo dizendo que precisava confirmar algumas coisas que Bernardo havia me dito, que eram super importantes pra que continuássemos a ser amigos. Ela, ainda sem saber o que era, concordou em responder. Eu falei sobre o dia da montagem da feira de Artes, perguntei se ela se lembrava de que havia falado com Laura que Bernardo estava a fim dela. Olívia me interrompeu, corrigindo-me. Disse que em nenhum momento falou que Bernardo estava a fim de Laura, e, sim, que ele queria falar com ela. Recordando o dia... Olívia estava certa. Daí eu perguntei o que Bernardo tinha comentado sobre a gente.

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