A Vendedora de Fósforos e o Vingador

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Uma nova era de trevas havia abatera-se sobre aquele reino. O frio seco congelara

rios, queimara plantações e afastara os animais. A fome atingira praticamente todos, quem era

rico, ficara pobre e quem era pobre já morrera há muito tempo.

Ante os resmungos esfomeados dos filhos, tornou-se mais do que rotineiro que pais

igualmente esfomeados os abandonassem na floresta para abreviar seu sofrimento. Os casos se

tornaram tão frequentes que, se fossem punidos, os calabouços do castelo transbordariam de

corpos esqueléticos e de culpa. Por isso, o rei resolveu fazer vista grossa ao verdadeiro

infanticídio que se abateu sobre seus domínios.

Porém, em alguns casos, parece que os deuses ou espíritos se adiantaram quanto ao castigo

dos homens. Todo pai e toda mãe ouviram falar da casa na floresta que ficou abandonada

durante muitos e muitos anos até ser adquirida por mineradores anões, que foram corajosos -

ou tolos - o bastante para comprar com uma lasca de pedra preciosa a casa que muitos

julgavam ser maldita. Nela, um casal de crianças vivia com o pai e a madrasta e, após ser

abandonado na floresta, voltou para assombrá-los das maneiras mais horripilantes.

Outra história que contam é sobre um segundo casal que abandonou os filhos anos depois,

desta vez, sete, com idades entre 7 e 10 anos, no coração da floresta. A curiosa contagem dáse

ao fato de que, dentre todos, somente o sétimo não tinha gêmeos. Os meninos nunca mais

foram vistos, mas os pais reportaram pesadelos horríveis e acontecimentos bizarros em sua

casa, como portas se batendo sem vento e objetos como copos e bules se movendo sozinhos.

Os pais fugiram da casa, depois do reino, foram parar em lugares a muitas léguas de distância

até no topo de uma montanha, mas, onde quer que fossem, eram sempre assombrados por uma

voz cavernosa que os visitava todas as noites. Não se sabe o que foi feito deles, mas é

razoável pensar que tenham se atirado do penhasco da sanidade, sem esperança de voltar.

As histórias passaram a ganhar força entre os que tinham filhos - a ideia de abandoná-los

passou a ser ainda mais assustadora do que morrer de fome. O último caso de que se tem

notícia foi de todos o mais apavorante e ao menos serviu para sepultar de vez, pelo bem ou

pelo mal, a hedionda prática naquele reino.

Era o último dia do ano, mas as famílias pouco tinham a comemorar, e os próximos doze

meses prometiam ser ainda mais cruéis. A ceia se resumia a restos de pão enviados pelo rei, e

as pessoas tentavam se aquecer em suas casas com palha ou trapos velhos.

Ninguém em sã consciência sairia no frio daquela noite, muito menos enviaria a única filha.

Mas foi exatamente isso que aquele pai fez:

"Só vais voltar para casa depois de vender todos esses fósforos! Se apareceres aqui sem

dinheiro, vais levar uma surra que vai doer até a outra vida!", berrou, exalando seu bafo

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2016 ⏰

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